* DAMIEN DARKHOLME: ENTRE HOMENS E MONSTROS
No parque, aquela criatura desistiu de fugir, evidentemente, sabia que não era um caçador comum, assim como sabia que não era um assassino qualquer, era experiente e voraz, sanguinário e violento. Dizimar doze pessoas foi fácil, com a força sobre humana dele, poderia arrancar minha cabeça, caso tivesse oportunidade, e foi assim, que preferi não investir, iria revidar, era mais fácil, principalmente porque poderia antever seus ataques, e preparar um contra golpe, a primeira investida foi para testar, avançou rapidamente, um soco com o punho direito, acompanhado do punho esquerdo em seguinte, mas foi fácil interceptar o golpe, e contra golpear com força, pude ouvir as costelas sendo fraturadas, o sangue escorrer pelos lábios dele, que roçando a língua pelos dentes murmurou:
- Bem, esse é o aperitivo, mas o prato principal será você.
Evidentemente, não iria ser o prato principal do cardápio noturno dele, mas tinha que respeitar, era um oponente valoroso, avançava rapidamente, golpeando e contra golpeando, tentando levar nosso confronto para o solo, poderia ser capaz de esmagar minha traquéia com as mãos, mas precisaria chegar mais perto, e para mim, era suficiente para atacar, golpeando o pescoço, tentando fraturar a coluna cervical, e imobilizar aquela criatura. Afastando rapidamente, pareceu querer fugir, mas apenas para voltar efusivamente, mas pude sentir o cheiro do sangue dele trazido pelo vento, desviei do golpe, e acertei o maxilar com força que poderia arrancar a cabeça de um ser humano normal, mas foi suficiente para atordoar e deixar aquela criatura mais furiosa, ao ponto de ouvir um som gutural ecoar em meus ouvidos, e disse:
- Imagino que possa fazer melhor do que isso.
Permaneci em silêncio, não precisava dizer nada, aquela criatura, podia sentir que seria preciso mais esforço da parte dele para aquele confronto, foi quando investiu novamente, o golpe foi interceptado e segurando seus pulsos, disse:
- Evidentemente, você sabe quem e o que sou.
- E com certeza deveria estar preparado para esse encontro.
O contra golpe serviu para desnortear, para em seguida, segurando a cabeça dele com as mãos, e com os pés apoiados em seu tórax, consegui arrancar a cabeça, o corpo tombou diante de mim, e o sangue começou escorrer sob meus pés, formando uma enorme poça. Fiquei por algum tempo, analisando o corpo, não havia um sinal de dentes, apenas um brasão tatuado no pescoço, algo muito parecido com alguns brasões da nobreza inglesa. Para evitar problemas, juntei a cabeça ao corpo, e ateei fogo, pude sentir o cheiro de carne podre sendo queimada, e fui afastando do local antes que aquele odor e fumaça pudesse atrair outras criaturas ou as autoridades. Não poderia explicar um corpo, que possivelmente não iria poder ser identificado, muito menos, que aquele cadáver estava morto a pelo menos á uns cem anos aproximadamente. Voltei para o apartamento, e ao subir pela escada, pude ouvir o ruído de passos, a madeira provocava um rangido, e ao entrar deparei com uma criatura de traços delicados, mas com um sorriso enigmático e um olhar furtivo, que indagou:
- Imagino que não estava esperando encontrar ninguém, não é mesmo?
- Não, principalmente por uma criatura.
- Pude sentir seu cheiro, mas como não fui convidada para a festa.
- Decidi esperar, tinha certeza que um dos dois iria voltar.
- E fico surpreso que tenha sido você.
- Porque a surpresa?
- Lewis, era um assassino astuto, forte e ágil.
- Mas devo ter subestimado você, não é mesmo?
Fiquei em silêncio, aquela criatura, estava fazendo uma análise, o olhar inquieto, o jeito de caminhar pelo ambiente, de analisar cada nuance da situação, era suficiente para saber que não estaria naquele local apenas para uma visita, foi quando indaguei:
- O que queria nesse lugar?
- Não preciso responder nada para você.
- Mas posso dizer que vai precisar de mais do que sorte em nosso próximo encontro.
Ágil e ferozmente, a criatura avançou sobre a mesa da sala, vindo em minha direção, iria interceptar seu avanço, mas mudou de direção, saltando pela janela em seguida. Foi uma ação evasiva, não era intenção dela um confronto, precisava fugir, e assim segui seu rastro por alguns quarteirões, o cheiro dela, fez com que fosse parar em uma boate no meio da cidade, um lugar freqüentado por humanos e criaturas, e algumas dessas criaturas pude sentir o cheiro antes mesmo de ter em meu ângulo de visão, estava travestidas de ricos empresários e mulheres atraentes, esbanjando sensualidade, era um artifício para alcançar seus objetivos. Fui interceptado por um dos seguranças da casa noturna, era um sujeito grandalhão, tatuado, mas era humano, e com certeza não iria oferecer resistência, mas não queria despertar atenção ou criar problemas que não iria poder solucionar, assim fiz o que pediu e afastei da entrada, onde convidados ao entrar apresentavam um cartão de identificação vermelho. Fiquei observando atentamente, podia sentir o cheiro, aquele aroma instigante, e admito que foi difícil exercer domínio sobre as sensações que percorriam meu corpo, e com isso havia perdido a chance de encontrar aquela criatura, mas com certeza iríamos encontrar novamente, podia sentir isso, era capaz de apostar que não havia entrado naquele lugar por acaso, havia uma razão, mas iria voltar para descobrir, porém essa noite, teria que ser cauteloso e descobrir mais sobre aquele lugar maldito, onde nada era o que parecia, e o que podia sentir era que seria apenas o começo de um jornada em direção ao inferno.
Ao voltar para meu refugio, apenas queria descansar, embora ainda estivesse incomodado em saber que teria que ir ao encontro daquela criatura, não seria algo simples, mesmo porque com certeza, acertar as contas com aquele algoz, pode haver denunciado minha presença, mesmo que tenha incinerado o corpo, meu cheiro pode haver ficado impregnado em alguma coisa. Não queria ser surpreendido, ainda que meus sentidos aguçados fossem capaz de denunciar uma presença hostil, poderia ser emboscado.
Meu tutor, sabia muito bem o que havia feito em mim, durante toda minha existência, senti ser diferente, no íntimo, sentia medo do que existia em mim, e que era incompreensível, aterrador e macabro, ao ponto de ter que controlar minha raiva, força e habilidades. Qualquer descuido, resultava em conseqüências que sabia ser irreversíveis, e essa sensação sempre atormentava, não poder ter uma vida normal, uma família, ficar sempre distante, com medo de que por alguma razão, alguém fosse maltratado pelo que existia em mim, e que não escolhi ser, que não pude escolher ser. Dormir era um privilégio, algo herdado pelo lado humano, e assim adormeci, querendo acordar e descobrir que minha vida não era um pesadelo, que meus dias não eram solitários e minhas noites assombradas, pela existência de um universo, em que sombras e escuridão mantinha oculto segredos e mistérios obscuros e mortais. Ao acordar, comecei a traçar meu plano, o objetivo era encontrar aquela criatura, descobri o que queria, e porque viera em meu encalço. Era minha intenção, mas iria descobrir, do jeito mais difícil, que atravessar a linha tênue entre bem e mal, é um caminho sem volta, e para o qual não existe redenção.
* Damien Darkholme