A Passagem
Um jovem de 19 anos não tem muitos problemas em sua vida, tirando as ressacas, claro. Mas Pedro não era um jovem como qualquer outro. Sua vida logo no início dos seus 19 anos estava marcada por uma doença desconhecida. Parecia ser um problema simples, mas o exame que lhe tiraria a dúvida seria apenas na outra semana. E para ele tudo era motivo de pavor. Não sabia o que tinha, mas sabia que não ficaria internado em um hospital de forma alguma. Tinha espécie de fobia contra internações. Apesar do temor constante, sabia que não era nada grave. Apesar de seu vizinho ter morrido dos mesmos sintomas dois dias antes.
Pedro tinha problemas maiores para preocupar-se. A infelicidade no trabalho e uma série de problemas pessoais o transformaram em um furacão de estresse. Tomou uma decisão um tanto quanto imatura. Juntou suas poucas e melhores roupas em uma mochila velha e desgastada e saiu de casas às 22hrs de um sábado estrelado. Entrou no primeiro ônibus que viu e seguiu seu rumo para algum lugar desconhecido. No caso, a capital de seu estado. Ao chegar lá, por volta das 23hrs, foi direto para a rodoviária. Parou no primeiro balcão que visualizou e pediu a atendente uma passagem para outra dimensão, se possível ou até para lugar algum. A moça sorridente olhou fundo em seus olhos e então entendeu tudo. Mas somente ela entendeu algo ali. Pedro a viu levantar-se e sair. Uma chuva de questionamentos surgiu em sua mente. Será que ela realmente tinha uma passagem para outra dimensão ou lugar algum?
Em 2 minutos ela surgiu novamente, sorriu para Pedro e começou a digitar em seu computador. Imprimiu uma folha e entregou a ele. Apenas uma frase em tamanho 44 com letras garrafais. “VOCÊ QUER MESMO ISSO?” Ele olhou para a moça e disse que sim. Queria mais do que tudo nesta vida. No mesmo momento ela lhe entregou a passagem. No bloco, bem no estilo de um carnê de loja, existia o número do box e o prefixo do ônibus. Esperou, esperou e esperou. A previsão de saída era às 2hrs da manhã. O tempo arrastou-se.
Após longa espera o ônibus surgiu e ele, o único passageiro, embarcou. O motorista transmitiu um olhar de desespero. Como se Pedro fosse cometer o maior erro de toda sua vida. A viagem seguiu-se sem complicações. Pedro adormeceu. Quando acordou foi com a ajuda do motorista. Este sacudia Pedro com força, achava que ele estava morto. Não estava. O motorista disse que haviam chegado. Pedro agradeceu e saltou do ônibus com uma felicidade enorme. Sabia que agora toda dor havia passado e que teria uma vida nova pela frente onde ninguém o conhecia e seus antigos problemas seriam meras lembranças de um pesadelo ruim. Esta felicidade acabou no momento em que pôs os pés no chão. Pois o que viu foi a visão mais dolorosa e assustadora de todas. Viu-se trancado em seu antigo quarto na casa de seus pais. Estava chorando e tinha 15 anos. Havia acabado de sobreviver por mais uma falha tentativa de suicídio. A terceira. Logo, seu corpo começou a desmaterializar-se e então viu-se sentado no chão. Encostado na parede de seu quarto. Chorando.