Fugindo

Conforme eu andava, mais meu coração palpitava. Eu conseguia ouvir os batimentos. Estavam absurdamente acelerados. Pensei que se andasse mais rápido, conseguiria obter uma distância considerável para sair correndo. Se eu corresse agora, estava perdido. Vi que havia chegado ao fim da rua. Ela não continuava pra frente, era um lugar fechado. A estrada descia apenas para baixo, pelo lado esquerdo. Fui pra lá, sem deixar de espiar se estava longe do meu perseguidor. Ele estava um pouco mais longe. Comecei a suar frio, estava quase na hora. Não sei porque, mas tinha a sensação de que tropeçaria e sairia todo estatelado ao chão. Era esse momento que ele parecia esperar. Meu Deus, só quem já passou por isso sabe como o raciocínio fica lento. Uma placa bloqueia o fluxo de pensamentos, deixando tudo escuro. E chega a dar dor de cabeça.

Acelerei o passo.

Espiava a cada cinco segundos, cada vez respirando mais acelerado. Fumaça saía da minha boca. Era uma noite incrivelmente fria. Sempre odiei temperaturas baixas, e naquele momento nem a sentia, mas meu maior desejo era escapar e amuar em algum canto, esperar o frio judiar das minhas juntas e só então perceber que estava á salvo.

Espiei novamente. Agora ele parecia andar mais rápido. Ele sabia dos meus planos. A rua em que eu havia entrado era completamente sem saída. Estava fora do fluxo de trânsito, o que naquele momento seria minha salvação. E sem perceber como, eu estava correndo. Saí desembestado, correndo tudo o que eu conseguia e mais um pouco. Eu não olharia pra trás, prometi a mim mesmo. A força das minhas passadas era tanta que o próprio som dos meus pés tocando o solo me deixava surdo. Era o único som que eu ouvia. Ou será que eram as passadas dele?

Não vou olhar pra trás, não vou... Acabei olhando. E foi o máximo para que eu perdesse a concentração e tropeçasse, exatamente como eu planejara que aconteceria.

Caí de boca no chão gelado.

De repente, uma mão forte agarrou meus ombros. Por que ele não me matara ainda? Quando o vi, não era bem que eu esperava ver.

Minha mulher me encarava, totalmente ofegante.

- Não devia ser você. Onde está aquele homem?

- Que homem, homem? – ela tinha dificuldade pra falar. – Por que você saiu correndo daquele jeito? Você tem que voltar naquela loja e pagar a conta!

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 14/01/2014
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