GATO PRETO EM NOITE DE LUA CHEIA
Debruçado na janela da casa recentemente alugada, Valdo observava a paisagem do local, que para ele era totalmente desconhecida. Mudara-se para ali com os pais e irmãos fazia poucos dias, estava admirado com o local ermo, de muitas árvores e mato rasteiro, coisa típica do interior. A noite havia caído fazia pouco tempo, já havia jantado com a família e resolvera olhar a noite de perto através da janela, pois receava sair por aí sozinho. Era a primeira vez que se debruçara na janela daquela casinha simples, alugada dentro das possibilidades financeiras do velho pai, um pobre agricultor. De repente Valdo ouviu um miado mas não conseguiu visualizar o gato, quando novamente ouviu um novo miado, dessa vez mais estridente. Conseguiu ver no alto de uma árvore um gato preto sob a luz da lua cheia que clareava o local. Os olhos brilhantes do felino pareciam ameaçá-lo e Valdo ficou como paralisado, apenas a observá-lo com um certo receio. Alguns minutos depois o animal desapareceu.
No dia seguinte Valdo andou pelas redondezas tentando identificar o tal gato preto, porém sem sucesso. Ninguém por ali tinha esse animal em casa, pelo menos os poucos vizinhos dele. O dia passou e o assunto foi encerrado.
A noite seguinte fez Valdo voltar para a janela, logo após a refeição noturna. Lembrou-se da noite anterior e ali ficou à espera do gato. A lua cheia estava linda, clareava aquele local brejeiro e os grilos não paravam de cantar. Os minutos passavam e nada do felino preto, tão esperado por Valdo, apesar de sentir um pouco de medo e não saber explicar a razão. Deixou o medo de lado e até brincou em pensamento dizendo: “apareça, bichano, quero ver você”. Um forte miado fez Valdo cair em si e no mesmo lugar, em cima da árvore, lá estava o gato preto fitando-o com olhos brilhantes que mais pareciam duas bolinhas de fogo. Valdo se inquietou, assustou-se com o miado. Em seguida um novo miado e o sumiço do gato preto deixando ele impressionado. Pouco tempo depois fechou a janela e tratou de dormir, pois o sono já chegava e a cama o convidava.
Durante várias noites Valdo esperava o gato da janela, sempre sob a luz prateada da lua cheia. Após esse período o bichano não aparecia, mesmo que Valdo o chamasse. Acostumou-se a ter a companhia do pequeno animal nas noites de lua cheia, que o chamava emitindo um miado sinistro mas que não mais assustava ele.