O sequestro básico de cada dia

Sempre tenho aquele pressentimento de que algo não está certo. Abro a porta de casa. Assustada, mas não deveria. Passo os olhos pela sala. Vazia e desprovida de vida. Tudo em seu devido lugar. Os livros que ando lendo estão espalhados. Preciso arrumá-los. Não ouço nenhum som extra, apenas o vizinho de cima com o som ligado. Preciso reclamar para o sindico, e já é sem tempo. Fico mais tranquila. Não sei porque venho me preocupando tanto com essa história de que há alguém me perseguindo. É tudo tão idiota, fruto da minha imaginação.

Resolvo tomar um banho. Vou até o quarto, dispo-me, enrolo-me em uma toalha e escolho a próxima roupa que vou usar. Penso em sair um pouco, tomar um ar. Escolho um vestido curto, preto, quero deixar as pernas á mostra. Quem sabe não aparece o homem que tanto procuro? Estou cansada de viver sozinha.

Abro a porta do banheiro cantarolando, mas o que vejo me faz gritar. Antes que o grito se espalhe e todos ouçam, uma mão forte tapa a minha boca. É um homem grisalho, usando luvas. Estava na banheira, esperando que eu entrasse ali. Meus olhos estão arregalados. Quero fugir. Não quero morrer, não agora.

Ele sussurra:

- Vai ficar tudo bem se você cooperar entendeu gracinha?

Ele tem o bafo de pinga. Prendo a respiração.

- Entendeu, gracinha? – ele me chacoalha.

Assinto.

- Então vamos.

Sou arrastada do banheiro sem muita piedade, pelos cabelos. Quero gritar, mas senti que ele tem uma arma em sua cintura. Estou de mãos atadas.

Antes de abrir a porta, ele para.

- É o seguinte, gracinha, você vai comigo até o meu carro. Se gritar, eu te mato. Não tenho nada a perder, entendeu? Eu te mato.

- E... Entendi, mas por favor...

- Comigo não existe por favor. Vamos.

Ele me solta, e deixa que eu tome a dianteira. Se eu correr ou gritar, ele me mata. Não tenho outra opção. Ele pede para irmos pela escada. Moro no terceiro andar, então rapidamente chegamos ao térreo. Há pouco movimento na recepção. Sorrio para a recepcionista para disfarçar. Será que ela percebeu o homem estranho me perseguindo?

Quando saímos, ele segura a minha mão.

- Muito bem, gracinha, vai ganhar um prêmio por isso. Aquele é o meu carro.

É um fusca bem conservado. Ele me joga lá dentro, e me amarra com fitas. Deixa apenas a minha boca livre.

Vira-se para mim.

- Que tal uma volta, hein, gracinha?

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 13/12/2013
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