O VARAL

Autora: Luciana Rodrigues

Na cidadezinha do interior, em uma viela que acabava de frente a um casarão de portas grandes, muros altos, campainhas que soavam em forma de gritos, e telhado ponte-aguda, que mais parecia um castelo medieval, moravam um ser deprimente. Um homem de cabelos longos, barba por fazer e unhas grandes, que maltrapilho no seu labirinto de cômodos, pensava em uma bela pele morena, feita flor de açucena. Enquanto ele pensa, o seu corpo treme e sua mente degusta a cena ao tempo em que sua boca baba feito um lobo faminto.

Assassino em série, necrófilo e pedófilo, faz maldades naquela pequena cidade. Ele destrói, destroça, quebra sonhos e dilacera as jovens que ali esperam o ônibus em busca de suas pequenas taperas.

Próximo ao casarão há uma faculdade cheia de jovens acadêmicas, que chama a atenção do sarcástico meliante, que com seus olhos famintos e sua mente cheia de voracidade, procura corpos quentes que atiçam a sua mente com uma fome sedenta.

Ao pôr do sol, ele fica apreciando as belas moças que ali adentram. Entre elas, uma se destaca por sua beleza. Ninfa alta, corpo escultural, pele morena cor de jambo e um sorriso que irradia sua mente perturbada. No fundo de seu ser, quase não consegue segurar sua sede de carne macia com cheiro de prazer. Prazer que atiça sua fome de sexo voraz, e por isso perde toda a noção do certo ou errado e mais tarde pede perdão para Deus.

Com o passar dos dias, esse homem foi alimentando a sua alucinação e percepção de degustar aquela morena de cabelos encaracolados. Ele com seu jeito simples e obscuro, aos poucos, conquistaram a jovem, que era de aparência forte, porém fragilizada. O sarcástico homem convidou-a para entrar e conhecer o seu castelo. A bela jovem, sem saber o que a esperava, adentrou. E se deparou com grandes obras de “Maya Kulenovic” nas paredes de cores quentes, tendo o vermelho, o vinho e o roxo como predominantes, e pratarias com brilho reluzente e corredores enormes.

Ela, deslumbrada com a beleza medieval do casarão, ficou parada no grande corredor. Com voracidade, ele a tomou nos braços com sede de vampiro pelo seu sangue doce, ao tempo em que a jovem se debatia no instinto louco de escapar de suas garras. Mas como ele era forte, ela se debatia em vão. Porque ele a apertava contra seu corpo e mantinha suas unhas enormes e afiadas enterradas em sua carne, enquanto o sangue da jovem escorria pelos seus braços.

Seus grandes olhos apavorados pediam por clemência. Ele beijava seus lábios. Mordia seu pescoço e sugava seus delicados seios. Ali mesmo, no chão do corredor, começou um coito cruel, maldito, profano. Com um sorriso sinistro no rosto, ele a olhava, e sem dó nem piedade, perguntava para a pobre moça: “Tá gostando?”.

A jovem em lágrimas, com o olhar perdido em um mar de dor, elevou seu pensamento a Deus. Naquele estado de êxtase, a bela é interrompida pelo maldito execrador, que com desejo insaciável, ejacula em seu corpo. Num rompante, ele se veste. Vai até a cozinha. Pega uma faca de lâmina grande e volta ao encontro da jovem.

Ele acaricia seu rosto chorado e triste, porém belo. Beija as suas mãos delicadas, na direita há o brilho de um metal nobre. Ele começa a arrancar as suas unhas, uma após a outra. Suas mãos e seus pés são decepados pelo fio de uma navalha, que corre por todo o corpo da jovem e dilacera a sua carne num vale de sangue.

A jovem mulher grita de dor e pede por Deus, implora clemência, mas o carnificeiro sem dó e nem piedade, abre as pernas dela e com sua navalha, corta os grandes lábios de seu órgão genital, que esguicha fios de sangue. Com frieza, o necrófilo acende um cigarro e vai para a varanda, quer apreciar o pôr do sol, enquanto a bela moça falece num mar de sangue no corredor do volutabro casarão.

E ao término do cigarro, ele se levanta. Vai até o corredor e arrasta a jovem para a cama. Deita-se ao lado do cadáver e fica olhando a moça morta, já pálida, por não ter nenhum sangue em suas veias. Ele dorme. Na madrugada ele acorda com um toque gélido ao seu lado, e se depara abraçado com o cadáver.

O animal necrófilo arrasta a jovem morta para a varanda. Abaixa-se ao lado do corpo e a joga em suas costas. Depois vai para o quintal onde os vegetais cobrem uma cerca de arame farpado, e a dependura na cerca com as genitálias de frente para a varanda. Na altura dos joelhos, suas pernas se cortavam no arame por causa do seu peso. Com a cabeça caída e seus braços abertos, mais parecia Cristo na cruz, só que de ponta cabeça, demonstrando que o algoz é um verdadeiro anticristo.

E com intuito de preservar o cadáver que começa a exalar odor, ele arranca o resto de pele que cobre o seu corpo. Ele voltou para a varanda, sentou-se em uma cadeira e com uma taça brindou na companhia de seus macabros demônios imaginários, o seu feito, olhando a cena da pobre ninfa no varal.

O sol vinha raiando quando ele adentrou no casarão e pegou uma mala velha que guardava no porão. Apanhou poucas roupas, na maioria maltrapilha e seu chapéu de couro. Foi até o varal, beijou a vagina da moça, lambeu seus lábios gélidos, despediu-se do cadáver e sumiu pela viela.

Passado alguns dias, o mau cheiro insuportável que vinha do casarão, incomodava toda a vizinhança, que chamou a polícia. Os policiais arrombaram as grandes portas do casarão e adentraram, passando pelos corredores da casa e chegam até um rastro de sangue que os leva para a varanda dos fundos, onde se depararam com uma cena horrível.

O corpo da jovem já em decomposição está pendurado na cerca, feita de varal, com vários corvos brigando pelos pedaços pútridos do cadáver. Os policiais com ânsia de vômito tiram os restos mortais daquele corpo e o levam para o necrotério da cidade.

Quem será essa jovem? Quem a matou? E por que a matou?

A cidadezinha nunca mais foi à mesma, e a polícia vive na esperança de pegar o assassino de tamanha crueldade.

Mas ele acabara de chegar a uma cidade grande. Com quanto tempo fará a sua próxima vítima? Quando será pego? Será reconhecido? Enquanto isso, ele vive articulando planos para a sua próxima sessão de crueldade.

Lucyana Rodrigues
Enviado por Lucyana Rodrigues em 12/12/2013
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