Um Clima Noir no Ar - Desafio de 30 Minutos

Este é um desafio/exercício, um texto escrito em 30 minutos, com um pré-tema definido (nesse caso dois temas): Cinéfilo e Amizade, e mais 5 minutos para corrigir eventuais erros (mas sem alterar o texto em si). Confesso que peguei uns poucos segundos extras nos 30 minutos, sempre falta completar a última sentença.

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O homem magro, com uns 50 anos, parou na frente do cinema, um cinema de fachada datada, mas muito bem conservada. Logo atrás vinham um homem gordo de seus 60 anos, cara de poucos amigos, e dois capangas, com caras de menos amigos. Ainda mais atrás seguiam dois outros homens, capangas do magro. Um desses últimos apertou o passo, alcançou o seu chefe, abriu a fechadura e segurou a porta para que ele e os demais passassem.

- Olha, vocês vão esperar aqui fora – disse o magro, dando uma pausa, acendendo um cigarro, dando um trago e retomando a fala – vocês são novos, não conhecem o Anthony, digo-lhes que é meu amigo de décadas, e eu quero que ele fique muito à vontade, ele pode sair na hora que quiser... Naturalmente, independente disso, eu vou assistir o filme até o final, nunca largo um filme por terminar. Estou dizendo isso para evitar interrogatórios inconvenientes se ele sair sozinho.

Os homens de Nick - como era apelidado o mafioso dono do cinema -, se apressaram a revistar os capangas de Anthony.

- Ei, não ouviram o Nicco?! Sou amigo dele!

- Realmente não tem necessidade disso, rapazes.

Entraram no cinema, Anthony, seus homens e Nick.

- Ei, Vito! – disse Anthony voltando-se para um dos capangas – você fala muito, não quero você me atrapalhando a ver o filme. – o outro capanga também resmungou alguma coisa a respeito de não querer se sentar ao lado do companheiro.

Tudo parecia teatralizado. Anthony não era muito inteligente, mas julgava que era, tendo os outros por idiota. Se há um motivo pelo qual ele sobreviveu todos aqueles anos nesse negócio é porque tinha dois amigos muito inteligentes, um deles era Nick, ou Nicco como ele gostava de chamar, o outro tinha sido assassinado havia pouco tempo.

- Vito, um amigo de um grande amigo meu é , naturalmente, um amigo meu, e nada atrapalha minha concentração para filmes. Pode sentar-se ao meu lado.

E assim ficaram dispostos: mais à esquerda o segundo capanga de Anthony, a sua direita o próprio Anthony, e então Nick e Vito.

Durante o filme, um filme noir qualquer, Anthony e Nick conversavam. Nick conduziu a conversa habilmente, e o filme estava quase acabando quando Anthony se deu conta de que Nick o acusava da morte do amigo em comum, que formava com eles o temido Trio Nostro.

- Então é assim!? Sabe... pois bem, matei mesmo aquele idiota, vocês sempre dependeram de mim, das minhas influências – Anthony era de fato filho de um grande mafioso – mas já cansei de você idiotas. Ele morreu porque é burro, e com você acontecerá o mesmo.

- Os capangas estenderam suas armas com silenciadores acoplados e encostaram o cano na cabeça de Nick, uma de cada lado.

- Vejam, está quase terminando o filme, essa é a melhor parte. – disse Nick sem um pingo de nervosismo, num tom completamente causal, só um leve e estranho sorriso no rosto.

Uma neblina surgiu do nada.

- O mais legal são os – a frase foi cortada por sons de tiros – efeitos que mandei fazerem.

A tela do cinema tinha agora dois grande rasgos e um pequeno furo; os capangas estavam quase partidos ao meio por tiros e Anthony tinha uma única bala no peito.

Nick terminou de ver o filme, mesmo com a tela toda estragada. Levantou-se calmamente.

- Ótimo filme! Rapazes, limpem essa bagunça e apaguem as luzes.