O Relógio
Entrou na biblioteca olhou para a parede viu o relógio marcando as horas pensou, ele não para nunca, vive para marcar o tempo em minutos e horas.
Ou levar as mãos para pegar um livro na estante, viu que elas já não estavam tão firmes, seguras com antes, além de já estar cheias dos sinais da idade, tornou a pensar em como o tempo é implacável.
Para tirar esses pensamentos da cabeça, abriu o livro tentou ler as letras que se apresentavam em negrito, não conseguiu a vista falhou, pensou, meus olhos já não estão mais como antes é a maldita catarata chegando devido o meu tempo que já está passando.
Virou-se com dificuldade porque suas pernas, já não eram mais tão firmes, caminhou com certa dificuldade apoiado em uma bengala até a escrivaninha, sentou-se, começou a meditar na vida, pensou, já estou com oitenta e cinco anos, sozinho, minha esposa já si foi.
Pensou nos filhos deu um sorriso meio cínico para o nada, não os posso culpar por não ligar muito para mim, fui um pai que ao mesmo tempo em que estava presente estava ausente porque nunca tive tempo para eles. Nunca tirei um minuto da minha vida para ouvir o que eles tinham para dizer, muito menos para brincar com um deles, tornou a olhar para o relógio pensando o que fiz com o meu tempo?
Ouve a voz da sua consciência dizendo nada, não fez nada, porque só teve tempo para si, mesmo. Agora no tempo presente estou só, terrivelmente só, essa solidão é o terror da minha vida, tenho netos, mas não posso ouvir o barulho deles correndo, brincado por esta casa de paredes tão silenciosas, porque tudo que sempre exigi, é que fizessem silêncio, porque precisava de paz, sossego, torna a olhar para o relógio pensando perdi meu tempo.
Passa a mãos por seus ralos cabelos brancos, pensando fiz da minha vida toda uma terror, agora trancado dentro deste mundo, não vejo saída para o terror que espalhei durante a minha vida toda, quero sair, não vejo como, então se levanta, olha para a janela caminha em passos lentos até lá.
Ao chegar à janela, olha para fora, mas o que chama sua atenção de verdade é a cortina, nunca tinha pensando nela como uma tabua de salvação para sair do terror que sua vida era agora. A segura firme testando, pensa ela aguentará sim, não vai me decepcionar, faz um laço bem feito, bem trabalhado com a ponta dela. De um jeito que ficou um pouco alta, pega uma cadeira com dificuldade sobe nela, passa o laço por sua cabeça até o pescoço, levanta os pés, com a bengala a derruba para não ter como se arrepender.
No outro dia seu filho vai visitá-lo, ao chegar chama por ele, como não ouvi a sua voz se dirige até a biblioteca, o encontra morto dependurado na cortina da janela olhando fixamente para o relógio que segue marcando o tempo em minutos e horas. O filho então fala para o nada, pai porque o senhor fez isso? Não precisava seu tempo estava tão curto.
Lucimar Alves