Paz, enfim.

Era três horas da madrugada quando acordo novamente com esses estranhos pesadelos que me acorrem toda noite. Desta vez o sonho parecia ter criado vida própria, me via de pé em frente ao corpo de minha mãe, dormindo em sua cama em minha antiga casa, ela parecia calma, em volta de seu corpo adormecido via uma luz que significava paz, mas no fundo não sabia se estava em paz absoluta, depois dessa imagem não me recordo de nada a não ser de olhar para baixo e ver em minha mão segurando uma faca ensanguentada e em minhas roupas gotas de sangue, ao olhar a cama em que minha mãe estava deitada, vejo apenas um corpo esfaqueado violentamente e na parede escrito em sangue a frase “ AGORA SIM EM PAZ “. Olho para a comoda e vejo um calendário com todos os dias marcados com um X menos o dia 30 de abril. Desesperado saio correndo deixando a porta da frente meio aberta, e corro para a minha casa. Só de relembrar deste sonho me causa calafrios.

Não tinha o costume de ligar para a minha família, fui expulso de casa aos 18 anos, desde então não tenho contato com minha família e nem amigos que tinha pela vizinhança. Por este motivo não pensei em visita-la após este sonho louco.

Depois de acordar este horário, resolvi tomar um banho e me preparar para o trabalho, e logo fui fazer as minhas atividades rotineiras. Após tomar o meu café fui á garagem e peguei a minha bicicleta. Trabalhava a 9 quarteirões da minha casa, então nunca precisei comprar um carro.

Cheguei em meu trabalho exatamente ás 7:45 da manhã e fui até o meu computador, trabalhava como repórter de um jornal local chamado “AZ“. O dia correu rápido, e logo estava em casa, morava sozinho então não tinha ninguém para me incomodar, assisti a minha novela favorita, e fui deitar-me como todos os dias ás 22:00.

Era três horas da madrugada quando acordo novamente com pesadelos. Desta vez o pesadelo era com o meu pai. Ele era separado de minha mãe, um pouco depois de ser expulso de casa as brigas entre meus pais começaram e meu pai e minha irmã foram para um apartamento no centro da cidade deixando minha mãe sozinha.

O pesadelo se passou neste apartamento onde minha irmã e meu pai moravam agora, eles estavam assistindo o jornal… Entrei na sala e me deram boas vindas, disseram-me o quanto estavam felizes por eu estar lá, e que estavam com saudades, perguntei sobre minha mãe e meu pai disse - Não sei por onde ela anda, a ultima vez que a vi parecia estar calma, em paz, como nós estamos agora, principalmente sem aquelas brigas que sempre resultavam em longas noites dormidas sofá. PAZ essa palavra parecia me perseguir durante os pesadelos, nada estava em paz. Após meu pai ter dito isso novamente não me lembrava de nada apenas de uma faca em minhas mãos cheias de sangue, e os corpos de meu pai e minha irmã deitados no chão um ao lado do outro, ambos estavam sem a parte de cima da roupa, e em minha irmã estava escrito “AGORA SIM” em cortes pela barriga e no meu querido pai “ EM PAZ” escrito em seu peito. Novamente saio correndo deixando a porta meio aberta e corro para a minha casa.

Como sempre após esse pesadelo não consegui voltar a dormir, então fiz o que sempre fazia, banho, arrumar a cama, vestir-me, café, bicicleta, trabalho.

Chegando ao meu trabalho, recebo um e-mail com o assunto: Psicopatas durante o sono. Era um texto de um doutor que era um expert em casos estranhos de distúrbios mentais e psicopatias. No final do e-mail havia um numero de telefone, eu liguei, e marquei para nos encontrarmos logo após o meu expediente.

Havíamos marcado de nos encontrar em uma cafeteria no lado oeste da cidade, então quando sai do meu trabalho peguei um táxi, cheguei antes do esperado, faltavam quinze minutos para o horário marcado, então o esperei.

Em menos de dez minutos chegou um senhor de aparência esquisita e perguntou por mim,

e eu disse que ele veio á pessoa certa. Ele se sentou. A primeira frase do senhor foi - No que posso ajuda-lo rapaz ?

Acho que fiquei uma meia hora tentando explicar o que acontecia, contei dos meus últimos pesadelos com meus pais, e de uns mais antigos que havia tido, que sempre acabavam da mesma forma, a mesma frase só mudavam as vitimas e os lugares, as vitimas sempre eram conhecidos meus que marcaram minha adolescência.

Logo o doutor deu o seu palpite , disse ele que guardo rancor e por isso ás mortes em meus sonhos. Não contei mais nada a ele, nem onde eu morava,meu nome, muito menos o meu trabalho.

Agradeci por ter me encontrado, e fui para minha casa. cheguei exatamente ás 21 horas, que era o horário de minha novela, assisti, e fui deitar, como sempre ás 22 horas.

Acordei as 3 horas da manhã mais uma vez com outro pesadelo assombroso, desta vez era uma antiga namorada que morava perto de onde minha mãe morava.

Lembro-me vagamente de um tapete que estava em sua porta que dizia “ Paz neste lar “. Entrei na casa, e a vi lendo um livro de nome “Paz, afinal.”, Ela olha em meus olhos e diz : - O que faz aqui ? Minha resposta foi curta. Deixar-te em paz. Outra vez só me recordo de estar com a faca em minhas mãos e seu sofá coberto de sangue com o seu corpo esguio caído no chão de sua sala. E em suas mãos deixei uma caneta, com qual escrevi em seu livro na última página “AGORA SIM EM PAZ”. Novamente deixei a porta meio aberta e corri para minha casa.

Estes pesadelos estavam me deixando louco, não consegui dormir novamente então fui fazer tudo o que eu fazia diariamente, mas fui interrompido desta vez. Algum som zumbia em meus ouvidos. Era um som estridente, como se fosse uma campainha, cada vez mais alto. Até que uma hora eu explodi. Gritei, mas no meio do grito me vi deitado em minha cama, com a faca ensanguentada na mão. Levantei-me e soltei a faca ao chão, lavei as minhas mãos, mas o som ainda não havia parado, pensei ser o telefone, mas não era, fui até a porta, e pela janela vi dois policiais. Abri a porta. Um deles disse -Senhor Woody Peace? - Respondi - Sim, o que deseja ? - Seus parentes foram encontrados mortos nessa manhã. poderia nos acompanhar? Nessa hora todos os meus sonhos se passaram em minha mente novamente, mas agora em forma nítida, sem cortes. Me vi matando todas aquelas pessoas, meus pais, todos! Fechei a porta na cara dos policiais, e desci para o porão onde não descia lá desde que havia me mudado. Lá encontrei uma carta que havia escrito a anos mas não me recordava dela até agora. Na carta havia escrito que minha paz foi abalada quando fui expulso, que agora não tenho paz alguma, e a morte seria a paz absoluta. Prometi nessa carta que levaria a paz a todos que já amei um dia. Dei me um segundo para pensar e vi que o que eu pensava que era sonho era minha realidade e o que eu imaginava ser minha realidade era apenas um sonho.

Os policiais invadiram a minha casa, encontraram-me no porão e me colocaram na viatura.

No caminho olhando pela janela, pensei: Até o meu trabalho na AZ era AGORA SIM EM PAZ.

Becky Campos
Enviado por Becky Campos em 18/11/2013
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