OS PESADELOS DO PEQUENO JACK
O raio cortou o céu iluminando, mesmo que por uma fração de segundos, o quarto de Jack. Junto dele um estrondoso trovão fez o menino se encolher na cama. Ele não tinha medo de tempestades, mas sim da coisa que o visitava em noites como estas.
A porta do guarda-roupa rangeu sonoramente. Jack segurou firme o edredom e olhou por cima dele com cautela. Viu estranhos dedos largos e finos saindo de dentro do armário, arregalou os olhos e se protegeu debaixo do edredom o mais rápido que pode.
Ouviu passos. Passos que seguiam em direção a sua cama. Ele ficou quieto, todos os sentidos em alerta máximo. Os cabelos suados grudados na testa.
A coisa estava parada ao lado da sua cama, observando-o. Jack tinha absoluta certeza. Sentia a presença maligna da criatura.
O garotinho começou a levitar da cama, o edredom moveu-se para o outro lado do quarto fantasmagoricamente. Jack estava desprotegido, a coisa o levaria embora para sempre.
Fechou os olhos o mais forte que pode. Ele esperneava e remexia os braços freneticamente tentando voltar para a cama. Gritava, mas não saía sequer um som da sua boca.
Jack parou de repente suspenso no ar, seus pés ligeiramente mais alto que sua cabeça. Não conseguia se mover, era como se estivesse paralisado.
Outro clarão preencheu o quarto. Se o menino estivesse com os olhos abertos veria a coisa que habitava seu quarto. Capa e capuz preto cobria-lhe o corpo todo, exceto os dedos longos e ossudos.
A criatura levantou a mão exibindo seus dedos que mais pareciam bizarros galhos de árvore descascados. O garotinho levitou para perto dele. Os olhos ainda fechados.
Ficou cara a cara com a criatura. Sentiu sua respiração. Um bafo quente e fétido penetrava pelas narinas do rapazinho deixando-o enjoado.
Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Era como se estivessem costurados.
Ouviu as poucas palavras da criatura. Levarei sua alma, foi o que ouviu da voz fantasmagórica provocando em Jack o maior medo que já sentiu.
A criatura abriu sua vestimenta e uma forte luz branca encheu o quarto.
Jack abriu os olhos.
Estava deitado de costas na cama. Cabeça no travesseiro fitando o teto. Transpirando como um jogador de futebol após uma partida.
Já era de manhã, a luz do alvorecer penetrava pela janela. Deixando seu quarto claro o suficiente para Jack checar o armário.
Ele se levantou e ficou parado em frente dele, observando. Olhos desconfiados, os cabelos molhados na testa.
Abriu-o devagar esperando ver os dedos horrendos da criatura. Sentiu-se aliviado por encontrar apenas suas roupas e objetos.
Empurrou a porta deixando-a cinco ou seis centímetros abertos e voltou para a cama.
Os dedos serpentearam pela fresta deixada por Jack antes que ele pudesse se deitar novamente.