O SEGREDO DA CASA AO LADO

Foi bem no meio da noite, duas ou três horas da manhã. Não sei dizer ao certo. Aquele grito foi assustador. Eu levantei e olhei pela janela, nenhum movimento estranho. Mas eu sabia que algo terrível estava acontecendo. Precisava ir até lá, precisava ver se os Menezes estavam bem. Não são má pessoa entendem? Pensei que talvez estivessem sendo assaltados, que alguém invadiu a casa deles e... Deus do céu, só Ele poderia saber o que se passava naquela casa.

Eu bati na porta e chamei pelo Antônio, depois pela Margarete, mas não houve resposta. Espiei pela janela, a TV estava ligada; foi só o que consegui ver.

A rua estava tão vazia e fantasmagórica, sem nenhum carro suspeito estacionado por perto. Vi o deles na garagem, sempre passam as sextas-feiras em casa.

Eu bati na porta mais uma vez e chamei por eles, nenhuma resposta, apenas o silêncio mortal da noite e aquilo me deixou agoniado.

Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Então dei a volta na casa para tentar a do fundo e para minha surpresa estava aberta, ou melhor, alguém a havia arrombado. Parte do vidro estilhaçado no chão e notei também algumas marcas de sangue. Senti o pior dos calafrios subindo a espinha, nunca vi alguém morto na minha vida, temi que fosse a primeira vez.

Levei um tempo para tomar coragem e entrar na casa. Sou uma pessoa normal, nunca me envolvi nessas coisas e quando acontece você fica meio sem ação; com medo do que pode encontrar. E estava com muito medo.

Quando entrei na cozinha um cheiro forte me embrulhou o estomago, não consegui decifrar o que era na hora, mas quando olhei em cima da mesa havia um cadáver de animal. Um filhote de veado. Sua cabeça fora decepada do corpo e estava dentro de um circulo, acho que era algo como um pentagrama. Havia velas por toda mesa em volta dele e no chão também, velas apagadas e de todas as cores possível. Era o cheiro de sangue, de morte que eu sentia. A boca do veado estava semiaberta, a língua pendia para fora. Seus olhos brilhavam na pouca luz noturna que penetrava pelas aberturas da cozinha, eles pareciam me fitar incansavelmente. Eu fiquei parado, olhando aquela monstruosidade, simplesmente não conseguia me livrar daqueles olhos. Então uma risada soou em alguma outra parte da casa; conhecia muito bem, era Antônio.

O corredor que levava até a sala de estar parecia mais um depósito de velharias, reviraram a casa toda e quando cheguei à sala vi Antônio sentado na sua poltrona olhando para a televisão como se estivesse hipnotizado.

Eles praticavam magia negra, foi a primeira coisa que veio em minha mente não tinha outra explicação. A ideia me deixou perturbado.

Dei a volta na poltrona e chamei-o mais uma ou duas vezes e perguntei o que havia acontecido, mas era como falar com uma parede. Olhei suas roupas e mãos ensanguentadas como se tivesse lutado a mais árdua batalha da sua vida. Perguntei sobre Margarete em vão, então decidi procura-la.

Acabei encontrando-a no quarto, sentada no chão de frente para a parede abraçando o próprio corpo, se movimento para frente e para trás continuamente. Sobre a luz fraca do abajur eu quase não a reconheci. Ela repetia continuamente a mesma frase em uma língua que nunca ouvi antes.

Chamei-a pelo nome e ela parou de repente. Aquilo me assustou um bocado. Temi que ela estivesse possuída ou coisa do tipo e que pudesse fazer algo ruim para mim. Mas segundos depois continuou seu ritual contra a parede como se eu não estivesse ali.

Aquele cheiro horrível de sangue que sentira na cozinha estava nela, mal consegui ficar ao seu lado; o cheiro era quase insuportável.

Não consegui nenhuma informação dela, nem de Antônio. Voltei para a sala afim de encontra-lo em um estado saudável e por um momento temi que ele estivesse espreitando em algum lugar esperando para me incluir no seu ritual demoníaco, mas ele ainda estava sentado na poltrona, vidrado na TV, assistindo um canal, aparentemente, fora do ar.

Cheguei perto dele e estalei os dedos em sua frente, nenhuma reação. Os olhos continuavam arregalados e a boca aberta; um filete de baba corria do lado esquerdo de sua boca.

Mesmo sabendo que estava fora de si disse que chamaria a policia. Observei-o por um tempo incrédulo. Parecia mais um pesadelo.

Voltei para minha casa, mas resolvi não chamar a policia. O cheiro nauseante de sangue parecia estar pela casa toda. Tomei um banho demorado troquei de roupa e me deitei. O sono não veio, aquelas imagens me assombraram a noite toda. Demorou alguns dias para esquecer o episódio horrendo do qual presenciei.

Quando amanheceu sai para tomar meu café na varanda como normalmente faço e vi Margarete regando suas orquídeas. Eu fiquei parado por um momento olhando fixamente aquela mulher que mais parecia uma bruxa na noite anterior, parecia radiante naquela manhã de sábado.

Antônio e seus cinquenta anos saiu da casa e deu um beijo na face dela que sorriu. Eu apenas observava da minha varanda atônito.

Era sete da manhã. Seu horário preferido para uma caminhada. Ele passou por mim com um belo sorriso no rosto e me deu um bom dia e comentou sobre a bela manhã que nascera.

Acenei com a mão e esbocei um sorriso, sorriso este que teria que ceder todos os dias sem ao menos entender o que os Menezes realmente são.

Jack The Ripper
Enviado por Jack The Ripper em 28/10/2013
Reeditado em 28/10/2013
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