Luzes noturnas
Leo lembra apenas de levantar-se, já era manhã. Sentia uma forte dor atrás da cabeça, talvez fruto de uma ressaca, talvez, não entendia muito bem, talvez tivesse bebido muito noite passada. Um banho. Pensa. Talvez ajude. Segue. Liga a ducha, não esquenta. Melhor assim. Pensa. Com uma ressaca forte dessas talvez a água fria resolve-se mais. Diabos! Como sua cabeça girava, o que devia ter feito noite passada? Entra. Sente a água fria cair sobre sua cabeça. Respira. Pensa. O que houve? Recorda-se aos poucos. O que era estranho. Alias, nem lembrava-se de chegar em casa. Teria bebido tanto assim? Teria bebido? Tudo parecia indicar que sim. Não fosse isso deveria ter batido muito forte com a cabeça. Oque mais explicaria tudo isso? Recordava estar muito frustrado. Talvez isso explique a bebida. Sim! Era uma boa hipótese. Poderia ter bebido para sentir-se melhor. O que era no minimo irônico pois não podia chamar isso de melhor. Uma tremenda ressaca. Não deixava de ser estranho, nunca havia sido de tê-las. Bom! o que melhor para comemorar sua inclusão aos incômodos pós bebidas do que um banho gelado de manhã? O que mais poderia querer? Concentrou-se na água caindo.
Saindo do banho percebe que precisa fazer a barba. Pega um barbeador. Molha o rosto. O celular! A ideia surge em sua mente. Alguém poderia ter lhe mandado algo por mensagem que deixaria um pouco mais nítido todo esse branco. Ou apenas lhe dar algum norte. Ruma para a sala. Costuma deixa-lo lá. Morava em um apartamento no centro da cidade. Nada muito sofisticado. Mas lhe servia. Nota que há realmente mensagens. Muitas Alias. - Nossa para que tanto? nunca tem nada. Agora simplesmente decidiram todos mandar algo junto. Talvez seja a Flávia. Sim, era muito provável. Lembrava ter ficado de ligar. Não lembrava de ter ligado. Hahaha, e do que lembrava hoje? Fica alguns segundos a se perguntar como pode estar tão perdido hoje. Não conseguia recordar de nada noite passada. Noite passada? Do dia inteiro isso sim!
Sente sua barriga contorcer-se . Seguiu-se um ronco. Chega-lhe a consciência que está com fome. As mensagens podem esperar. Não sabe a ultima vez que colocou algo na boca. Sabia que agora precisava faze-lo. Vai até a cozinha. Abre a geladeira. Praticamente vazia. Precisava comprar algo. Olha em volta. Pega um suco. Bolachas também. Devem servir por enquanto. Começa a comer. Volta a pensar. Que horas devem ser? Olha para o relógio. Puta merda! Está extremamente atrasado. Levanta correndo, arruma-se depressa e sai para o trabalho.
Durante o trajeto não consegue mais recordar o que ia fazer antes de decidir comer. Por que está com todo esse lapso hoje? E o pior, por que raios parecia ficar pior? Continua a dirigir. Avista o prédio onde trabalha. Manobra. Entra no estacionamento. Começa a estacionar. Um lampejo. Não poderia estar indo ao trabalho. Recorda. No dia anterior. Após um mês extremamente ruim e com forte pressões. Por que diabos escolhera trabalhar com vendas mesmo? Devia estar louco. Chegara ao ápice de seu stress. Discutira com seu chefe o chamara corno e que se demitia. Hahaha só poderia estar doente. Mas por que esquecera disso? Não fazia sentido. E o que estava fazendo? Manobra para a saída. Pensa. Ouve o som de buzinas. Volta a sí.
Percebe que estava parado na saída. O outro motorista berrava e buzinava. Devia ter ficado um tempo considerável ali. Nunca se sentira tão distraído em toda vida e agora ainda por cima deu para ficar apagando. As coisas não iam bem definitivamente. Dá partida e sai. Ignora o outro motorista que ainda berrava. Por que o incomodara tanto e continuava parado lá. É cada louco andando por ai. Vê um rapaz se aproximar do carro deste. Continuava o motorista a berrar. Vai entender. Está com fome novamente. Decide ir a uma lanchonete.
Chegando lá chama o garçom. Pretendia pedir um bauru bem gorduroso. Talvez melhora-se seu humor. Parece não escutá-lo. O que há com esses atendimentos? Cada vez estão piores. Pensa um pouco. Alias era o que restava. Já que não podia comer nada ainda. Lembra-se. Claro, recorda ter ido até a casa da Flávia, sua namorada, ou melhor, sua ex. Pois pelo que lhe parece haviam discutido ontem e terminado. Estavam em um momento delicado. Momentos, ri consigo. Momentos que duram meses. Hahaha. Pelo visto tudo havia culminado ontem. Mais essa agora. Havia saído de lá depressa com seu carro. Sentia uma mistura estranha. Magoa. Raiva. Frustração. Tristeza. Não admira mais ter esquecido de tudo. Que dia de merda havia sido! O garçom atende outras mesas. Nada da sua. Sera que o está ignorando? Alias precisava conversar com alguém ainda não havia feito isso hoje. Recordar-se estava ocupando muito o seu tempo. Falar com alguém. Sim! Após sair da casa da Flávia seu amigo Jhon havia ligado para ele. - Ei Leo, tem uma festa foda hoje, que acha de dar-mos um pulo por lá? A Jaque também ficou de ir. Já o resto do pessoal está se fazendo. Leva a Flávia também. Disse ele. - Bah, era exatamente o que eu estava precisando, você ligou na hora certa. A Flávia está ocupada hoje. Vou só eu então. Nos encontramos lá. Lembra-se de responder.
Sim! Era isso. Havia estado nessa festa a noite toda. Tinha ido com os dois. Mas... Não lembrava-se de muito. Apenas de chegar. Começar a beber. Sim, hahaha, havia bebido por isso a ressaca dos infernos. Por que não haveria de ter bebido aliás? Depois de um dia como aqueles era tudo que merecia. Nada ainda. Só pode ser brincadeira. Levanta-se. Pro inferno esse garçom. O manda a merda e sai. Filho da puta mesmo. Comeria algo em outro lugar. Irritado. Pega seu carro e sai. Nada de apagões dessa vez. Finalmente estava voltando ao normal.
Conduz de volta para sua casa. Jaque. Sim. Ela morava por perto de onde estava. Passaria lá. Talvez lembra-se de algo que tenha feito. Dirige até lá. Desce. Se direciona a porta. Toca a campainha. Uma. Duas. Três. Quatro. Será que não estava em casa. Insiste. Liga. Nada. O celular está desligado. Merda! Não devia estar em casa. Logo hoje decidira sair? Foda-se iria até a casa do Jhon. O problema é que morava quase do outro lado da cidade. Decidiu ir poderia ir mais rápido. Aliás é um motorista veloz, não ia ter problemas quanto a isso. Pula para dentro do carro e começa sua corrida. Quando chega e desce do carro percebe que a um carro saindo da garagem. Corre até lá e acena. O carro prossegue. Que filho da mãe sera que não o vira? ou quem sabe tenha feito algo que os deixara irritados ontem? Dane-se! Estava cansado já, voltaria para casa e pensaria em continuar isso amanhã. Sobe no carro. Volta para casa.
Chegando em casa. Prepara um lanche rápido. Atira-se no sofá. Respira fundo e aliviado.
Havia sido um dia cansativo. Liga a TV. O noticiário está passando. Nossa já seria tão tarde assim? Olha pela janela. Já havia escurecido. Sim! era bem tarde. Passava no noticiário um acidente ocorrido ontem. Idiotas bêbados. Pensa consigo mesmo. Sempre se matando. Pelo que parecia ao bater um ferro atravessara a cabeça do rapaz. Que noticia interessante quando se está comendo. As mensagens. Lembra-se agora que havia ficado de lê-las. Pega o celular e começa. - Cara me liga quando ver essa mensagem, você saiu do nada ontem, houve algo? No que termina prende sua atenção ao noticiário. Um grito fraco. Parece estar em plano de fundo. Olha a foto no noticiário. O grito aumenta gradativamente. Olha o nome. Um lampejo. Viu-se na noite de ontem. Estava dirigindo depressa. Aliás. Estava muito puto. Nada mais normal. O aliviava sempre. O grito fica auto. Merda! Quem está gritando a essa hora? Estava chuvoso. Ria muito. Devia estar muito puto mesmo. Lembra-se se apagar por um instante. Dois círculos luminosos ganham proporção. Ampliam-se. Sua risada cessa. Fica difícil enxergar. Sim! Lembra-se. Fica paralisado. Queria gritar. Não conseguia. O grito do fundo já era seu.