Lugar Úmido

Não sou acordado pela luz costumeira da janela sendo aberta por minha mãe.

Ninguém veio me acordar hoje.

Eu simplesmente abro os olhos.

Não está completamente escuro. Há uma estranha luz de um tom que oscila entre vermelho, rosa e alaranjado, mas não consigo distinguir nada.

Eu estou deitado em um chão úmido, coberto por um líquido oleoso e meio grudento.

Instintivamente tento limpar a mão em minha roupa, quando percebo que não uso uma.

Eu não costumo dormir nu.

Levanto-me, e vou acender a lâmpada. Mas não encontro um interruptor, apenas uma parede meio mole, como o chão. Porque esse não é meu quarto.

Começo a tateá-la, em busca de algo. Uma maçaneta, ou uma porta já aberta.

Quanto mais a toco, mais sinto meu estômago se retorcer. Do que quer que seja essa parede, é nojento.

Depois de alguns passos, sou forçado a parar. Algo me puxa.

Um fio.

Uma corda, em meu umbigo, que até agora havia me passado despercebido. Ela está colada, como se fizesse parte de meu corpo.

Meu Deus, o que está acontecendo?

Ofegante, eu… eu não estou respirando!

Tento buscar ar, mas não há.

Não há oxigênio para sugar. Nenhum cheiro. Nada.

Pânico é o que começo a sentir, até que percebo que não faz diferença.

Meus pulmões não pedem ar. Eu não preciso respirar.

Também não sinto fome, ou sede, como sempre que acordo. Não sinto nenhuma necessidade que normalmente deveria.

Calma. Tente raciocinar.

Que tipo de lugar é esse? Não faço ideia.

O que fiz antes de dormir? Rezei, como toda noite, e deitei em minha cama.

Acordei de madrugada? Sim, e tomei um copo de leite, e voltei a dormir.

Nada demais.

Como cheguei aqui então? Não faço ideia.

Seguro a corda que está colada em minha barriga, e vou seguindo-a.

Até que encontro a outra extremidade. É o chão.

Puxo com força, e sinto uma dor horrível. A corda… ela faz parte de mim.

Oh céus. É meu cordão umbilical.

Isso quer dizer que…

A possibilidade me causa repulsa, medo, mas apesar de tudo, uma estranha sensação de conforto. Não posso dizer como isso é possível, mas é a única coisa que me vem a cabeça.

— Mãe! — eu grito, e começo a bater no chão.

Mãe. Mãe. Mãe. Mãe… Ouço minha voz ecoar.

Pai, Filho, Espírito Santo… eu me benzo e tento começar uma oração.

Por Cristo, eu estou no útero.

Kings
Enviado por Kings em 12/10/2013
Código do texto: T4522047
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