O perseguido

Havia muito tempo que estava correndo, sabia que o tiro acertara o alvo, um crime. Não se pode dizer que ele foi completamente usado, não. Apesar das pressões, deu o tiro por vontade própria. Agora as consequências vinham lhe procurar. Estava sendo perseguido por aqueles que buscam vingança.

Perdeu a noção do tempo, dia, horário, tudo desconhecido. Só sabia que o encontrariam. Tinha pouco dinheiro no bolso, não daria pra ir muito longe.

Sua cabeça pesava; constantes dores apunhalavam-lhe a fronte. As pernas já começavam a fraquejar. Decidiu parar, ver as possibilidades que talvez estivessem ao seu redor. Sentou no chão e começou a refletir. Era um homem marcado, sem certeza de futuro e com um passado destruído.

***

Longo tempo se passou. Ele agora vivia tranquilamente, segundo seus preceitos. Aquela angustia já não rondava os seus dias. Não precisava mais fugir, tampouco olhar para trás. Achava mesmo que tudo não havia passado de um sonho ruim, e de que ele fora alvo de uma armação, nada mais.

Num dia comum, estava num bar, sentado e bebendo tranquilamente. Mexia o gelo no copo com os dedos, quando ao longe viu alguém se aproximando. Não distinguiu bem daquela distância, mas a pessoa foi chegando mais e mais.

Quando estava a poucas passadas de sua mesa, o coração gelou. Tinha sido encontrado. Sabia que nada poderia ser feito. Toda aquela certeza de que tudo não havia passado de um pesadelo agora se escoara.

Estava preparado para tudo: ser enforcado, trancafiado eternamente num buraco, esquecido. Mas nada disso aconteceu. O homem chegou até à sua mesa e, com breve movimento, colocou uma arma sobre ela. Virou as costas e foi embora. O tiro ecoou por instantes, estava terminado.

Preparado para tudo, menos pela cobrança de sua consciência.