Casa Antiga. Parte 1
Me lembro como se fosse ontem quando eu olhava da janela, da minha antiga casa, e dava de cara com aqueles pedaços velhos e gastos de madeira que formavam aquela velha e feia casa. Alguns dos meus amigos diziam que ela era assombrada e lá estava o espírito de três crianças que lá morreram. Minha mãe dizia: "Não passe nem perto daquela casa. Pode haver ladrões e sequestradores lá".
Enzo, meu melhor amigo de infância, sempre me confrontava a fim de me fazer ir à casa. Eu sempre dizia não, pois a casa poderia esconder pessoas ruins, pois fantasmas não existiam. Enzo sempre me dizia que aquilo era uma forma educada de dizer que eu não queria por causa do meu medo do casarão.
Meus fins de semana eram sempre iguais, Enzo me confrontando, e eu, como sempre, negando.
Certo dia, o circo, havia chegado em nossa cidade. Sempre fui apaixonado pelo circo que sempre ia lá, mas daquela vez, o circo era diferente. Ele tinha outro nome, tinha uma lona com cores mais vívidas e para minha tristeza, não havia animais.
Na noite seguinte, eu, minha mãe e alguns amigos, nos arrumamos para ir ao circo. Eu estava muito empolgado, Enzo também estava.
Lembro-me daquela tenda enorme. Crianças e mais crianças gritavam pelos palhaços que passavam. Existia algumas barraquinhas de comida do lado de fora. Homens com pernas de pau bem altas, nos entregavam alguns brinquedinhos e sorria para nós um sorriso doentio.
O espetáculo começou, e nós e todas as crianças lá, estavam eufóricas, gritando pelos circenses. Os palhaços gritavam freneticamente, e todas as crianças riam como se estivessem rindo a quantidade limite de risadas para uma vida.
Fim de espetáculo, Enzo chega até meu ouvido e sussurra: "Hoje iremos até a casa antiga". Eu olhei para ele e ele esperançoso por um sim. Eu acho que era finalmente a hora de dizer sim, eu não queria decepciona-lo mais. Eu aceitei, contanto que seja quando nossos pais estivessem dormindo, ou seja, de madrugada. Assim foi. Voltamos do circo, fomos para nossas casas. Quando o relógio marcou uma hora da manhã, a hora em que marcamos, eu sai pela janela, me encontrei com Enzo próximo à colina onde ficava a casa e fomos andando para lá. Precisamos ser rápidos e astutos, eu não queria parecer medroso e pagar de criancinha, mesmo eu sendo uma. Mas que criança admite que ainda é frágil, medrosa e ingênua?
Corremos ofegantes pela colina até chegar ao portão de ferro enferrujado que nos abria as portas para o casarão do medo.