ENTRE O AMOR E A GUERRA
Foi numa noite de sexta-feira. Uma denúncia anônima dava conta que o chefão do tráfico estava na comunidade. Rapidamente a policia foi acionada e partiu para o local.
Ao chegar, foi recebida a tiros. Revidou. Moradores correram e procuraram se proteger. Tiros, gritos e tensão.
Moraes, um oficial da Policia Militar, visualizou um movimento estranho numa das vielas. Sinalizou para Teixeira que concordou e o seguiu. O beco quase sem iluminação, era um desafio. Moraes tinha consciência do perigo, mas ainda assim avançou seguido pelo sargento Teixeira.
Não havia como pensar, tiros estouravam nas paredes das casas, moradores gritavam palavras desconexas e o medo tomava conta de todos.
Ao se aproximar de uma casa, Moraes avistou dois vultos. Fez sinal para Teixeira. Apontou o fuzil e esperou. Num repente ouviu um grito feminino. Fez um sinal de silêncio e avançou até alcançar o tal casebre. Fez mais um sinal e num chute violento arrombou a porta, foi quando ouviu um grito que o assustou:
- Por favor, não atira!!!
No que parecia uma sala, Moraes encontrou um rapaz, aparentemente ferido, amparando uma adolescente grávida.
- Me ajuda, o bebê vai nascer – disse o rapaz.
Moraes ainda apontando o fuzil ordenou:
- Levanta as mãos!
O rapaz levantou, mas antes apontou para uma pistola caída ao lado.
- Por favor, moço eu me entrego, mas me ajude o bebê vai nascer.
Moraes olhou para o rosto assustado da menina. Ficou sem saber o que fazer.
Neste momento, Teixeira entrou porta adentro e também apontou o armamento para o casal.
O clima tenso, mais o medo afetavam a capacidade de pensamento dos policiais.
Num segundo, Moraes lembrou-se da família. Os filhos, ainda crianças, precisavam dele. Aquele bebê também.
Num gesto de coragem, arriou a arma. Baixou até a menina e disse:
- Calma, vou te ajudar.
Rapidamente tirou o casaco e pediu:
- Relaxe.
Posicionou-se, olhou o quadro e ordenou:
- Faça força!
Os gritos da jovem eram abafados pelos estampidos e rajadas. Teixeira montava guarda na porta. O clima era de nervosismo. Até que o som de um choro foi ouvido pelos que estavam mais próximos. Num momento todos sorriam e gesticulavam positivamente. Moraes com muito cuidado entregou um menino para a jovem mãe. O pai que agonizava, segurou as mãos do policial e disse um “Obrigado” falecendo logo depois. A mãe chorava e abraçava o pequeno, enquanto os policiais se abraçaram num ato silencioso que mudou suas vidas para sempre.