Não Olhe Para Trás††††
Não estou sozinho, sinto uma presença estranha, o que é isso?
Um respirar leve e ao mesmo tempo cansado.
_Não olhe para trás, vejo você!
Quem falou isso?
Tenho que parar com os remédios, deve ser alucinação.
Desde que Irvin se foi, sinto como se alguém me acompanhasse,
Será uma presença oculta junto a mim?
Não, espere, esta voz mansa não é a de Irvin, ela era mais pra cima, nunca falaria dessa forma.
Espere, já ouvi esta voz antes, mas não lembro do rosto de quem a conduzia.
Foi naquele dia, em um bar podre da periferia de Enderland, lugarzinho mediocre, nem lembro como fui parar lá, só lembro de um cigarro com gosto horrivel em meus lábios, e uma bebida vagabunda nas mãos.
Alguém morreu lá aquele dia, eu lembro, cheguei perto do garçom e perguntei sobre o ocorrido, ele gargalhava, e dizia: aqui todos os dias alguém morre, mas ninguém se importa, já estão todos mortos mesmo.
Eu me importava, lembro que conheci uma garota, Nancy, ou Yves, agora não recordo, mas ela não parecia pertencer aquele lugar.
Seus olhos pareciam duas estrelas, e seus lábios, deliciosos morangos, na verdade, os melhores morangos que ja provei.
eu estava entorpecido por sua beleza, mas em um piscar de olhos, ela sumiu, e o paraiso foi consumido denovo pela cena escrota daquele lugar, uma cova cheia de mortos esperando sua hora.
Lembro-me que Irvin me resgatou daquele lugar, antes que eu fizesse parte deles, quando sai, não ouvi muito bem o que uma voz rouca me disse, acho que foi:
_não olhe para trás.
Nossa, meu cigarro acabou, preciso de mais um, e alguma bebida vagabunda para me livrar dessa neurose, deve ser a idade, não, ainda sou jovem.
Mas a voz ainda me perturba:
_não olhe para trás.
Isso me instiga a olhar, o proibido é atraente, mas o que será que tem lá atras.
Viro-me lentamente na curiosidade natural de um ser humano, mas que merda é essa, o que faz ai?
Não acredito no que vejo, meu coração acelera, o que estou fazendo frente a frente comigo mesmo, melhor olhar para frente, tarde demais,
agora não existe mais caminho a frente, vejo apenas o fim, e um corpo largado, mataram alguém neste lugar, mas ninguém se importa, mas eu me importo, pois este corpo largado, entre os mortos que ainda vão morrer, é o meu.