Quando a hora chegar

Estou quieto, muito quieto. De repente tudo se torna escuro e vejo-me no breu (se possível ver-se nele). Uma escuridão enorme dentro daquele espaço em retângulo. Ouço algum burburinho que não identifico e sinto-me como estivesse preso em algo de madeira.

Estarei vivo em meu caixão? Sugeriu-me a madeira por que ouço sons e parecem-me cupins a mordê-la: croc croc croc.

Incomoda-me muito, mas mantenho a calma. Preciso mantê-la pois é o que me resta. Os sons continuam e agora os ouço por trás, pela frente, ao lado. Croc croc croc. Cupins ou algo que estala a madeira. A escuridão não me permite certezas mas é o que me parece: cupins por todo o lado e estou no caixão escuro, sem janelas, frio. E sei que há mais pessoas ao redor, apesar de não as ver.

Desejo levantar-me, sair dali ou gritar para que estes ruídos cessem e não entrem em meus ouvidos. Deus, meu Deus, por que me abandonaste neste escuro e o barulho que me cerca?

De repente, uma enorme luz branca fez-se à minha frente. música sinfônica inunda todo o espaço e encobre os malditos estalos.

À minha frente “Paramount Pictures”. A hora do filme chegou. Estou no cinema e detesto barulho das pipocas e das bocas abertas mastigando sem o mínimo respeito. Parecem cupins na madeira mesmo. Haja paciência...detesto barulho de pipocas no cinema. Parece que a hora do filme nunca mais chegava!

©dalmirlott 24/08/2013

Dalmir Lott
Enviado por Dalmir Lott em 25/08/2013
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