UMA EXISTÊNCIA AMARGURADA
Na noite anterior, Almir em vão tentou dormir, mas não conseguiu. Aqueles calmantes não faziam mais efeitos em seu organismo. De manhã, a amargura de sua existência continuava a moer o seu perturbado coração. Ele, durante o dia ficava trancado em seu quarto, que representava uma metáfora do tédio para aquele triste homem. Periodicamente as lembranças amargas vinham perturbar o seu ser.
Naquela manhã, Almir pegou a sua pistola automática, uma prenda da sua época de policial. Ele ficou durante uma hora pensando em por fim a sua amargurada existência. Mas algum pensamento misterioso invadiu a sua mente e o ex-policial decidiu interromper aquela reflexão. O suicida em potencial telefonou para sua ex-esposa, na tentativa de uma última conversa com a mesma e também, pela derradeira vez, ouvir a voz da sua pequena filhinha. Almir esperava que a doçura da voz daquela criança iluminasse a sua partida. Porém, do outro lado da linha, nenhuma bondosa alma atendeu ao telefone.
O decidido homem entrou em seu banheiro, despiu-se e por fim, envolto em seus amargos pensamentos, tomou um demorado banho quente. Após desligar o chuveiro, Almir ficou um longo tempo sentado sobre a umidade daquele cômodo. Ele se levantou e saiu da sua evasão. Caminhou até ao guarda-roupa, abriu a porta do mesmo, observou aqueles ternos caros comprados com dinheiro corrompido da sua época de atividade na polícia. Escolheu o terno azul com abotoaduras douradas. Ele se perfumou, vestiu-se, ajeitou os cabelos e saiu de casa, socialmente vestido, carregando o terno em sua mão, o qual envolvia a sua pistola automática.
O triste Almir perambulou por vários pontos da cidade naquele dia e já alta hora da noite entrou em um bar, que se localizava em uma rua pouco movimentada da metrópole. O perturbado ser pediu uma dose de conhaque ao balconista, em um só trago ele ingeriu a bebida que desceu queimando a sua garganta. A noite estava enfeitada por um vento frio que soprava secamente. No bar, além do balconista havia quatro homens. Almir saca a sua arma. Dispara oito vezes, dois projéteis para cada criatura. Os corpos agonizantes caem ao chão, paralelo ao barulho de mesas, cadeiras, garrafas e copos, que também desabavam, misturando-se ao sangue que começava a escorrer pelo piso. Como bom atirador que era acertou todos os tiros. Ele olhou fixamente para o atendente do bar, que naquele momento estava dominado por um medo extremo. Almir disparou um único tiro entre os olhos daquele pobre homem. Ao terminar a sua labuta, o perturbado assassino saiu lentamente do bar. Ele observou a rua deserta e com lágrimas escorrendo por sua face, caminhou contra o vento frio e seco de volta ao seu hediondo quarto. Almir, friamente calculou que ainda havia sete balas em sua arma. E por fim, concluiu que eram mais do que suficientes para colocar fim a sua medíocre existência.