A Pena da Moça

Logo, tão logo. Logo menos ela vem. Será dia. E será noite também! Como é possível? Uma reviravolta incansável de tons no céu? Claros e escuros. Claros e escusos, também.

O Céu. Muitas coisas passam por ele. Confusas, mas passam. Pairando, como uma pena, passam. Ainda que claro ou escuso, quero dizer, escuro, elas passam. As penas. Sem dúvida, passam enquanto ela vem. Ela vem, enquanto livre.

Logo, tão logo ela virá! Hora menos hora, ela vem. Certeza! E, de fato, ela vinha. Como uma pena em minhas em mãos, ela vinha. Uma pena! Daquelas, sabe? Das que você toca e sente cada pequeno e singelo fio macio apontado para o lado oposto de uma haste ainda mais delicada. Como quisesse fugir da haste, numa delicada fuga. Delicada, leve e pura. Ela vinha, enquanto livre.

Era uma linda pena. Ela. Mas, infelizmente, era uma pena. Uma pena escusa. Errônea.

Uma pena, que outrora levara coisas boas dela. Um coração, num dia. O outro, no dia que lhe sucedeu. Triste, aquela pena que um dia me lembrara liberdade, hoje representa o descomprometimento. A solidão. Com a vida, com o amor, com o belo, com o mundo e, principalmente, consigo mesma.

Era uma pena. Mas não daquelas que você toca e sente cada pequeno e singelo fio macio apontado para o lado oposto de uma haste ainda mais delicada. Não! Não era essa. Era uma “pena”. Uma moça tão bela. Tão jovem, se perder assim. Se desprender assim. E, perdida, ela continua vindo, desprendida. Pairando.

Mas, por quê? Por que ela vem, ou vinha? Não sei. Perdi-me no tempo! Por quê? Perdida! Sem rumo, desprendida. Talvez quisesse encontrar, ela mesma ou com alguém. Alguém cuja pena havia levado embora luas atrás. Para bem longe, ela levou. O céu a ajudara, persuadindo-a, a levar coisas embora. Desta vez, escusos. Na noite. Livre, por assim dizer.

Ela é livre. Foi livre. Aquela que vem, ou vinha, sabe? Ela é livre. Livre para ir aonde quer que os outros a levem. Livre! Livre?! Para fazer o que o vento, ou o céu quiserem fazer. Ela é livre, uma pena.

A pena nunca é livre.

Hugo Aruom
Enviado por Hugo Aruom em 19/08/2013
Código do texto: T4441497
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