Assassina.
Naquele momento, Elena sabia o que fazer com aquela faca.
''Um pulso, um pescoço, um coração... Tanto faz.'' Ela pensava. "Só preciso enfiar essa faca em algo. Logo."
Enquanto ela brincava com a faca em suas mãos, ela pensava em todos os motivos que a estavam fazendo tomar aquela decisão. Uma briga. Uma briga feia a poucos minutos. "Eu só estava tentando protege-la daquele monstro."
O clima estava pesado em casa naquele dia. Estresse nível máximo. As pessoas não aguentavam mais se olhar, um clima que Elena odiava. Ele chegou e começou a discutir com Alice que também estava alterada demais. Elena só ficou olhando, enquanto a situação não piorava. Mas piorou. Ele avançou em Alice, com olhos arregalados e punhos cerrados. Elena não podia ver aquilo. Ela odiava covardia e crueldade. Tomou pavor disso quando viu um homem matar uma amiga sua a facadas quando ela tinha apenas 4 anos de idade (...) Uma cena proibida para qualquer criança ver.
Então Elena avançou no homem que estava em cima de Alice e começou a empurra-lo para a porta gritando para que ele saísse. Mas as vezes coisas ruins acontecem com quem não merece. Ele avançou em Elena. Estava totalmente descontrolado e deu um tapa no rosto dela. Elena também não estava muito bem com ele; nervos a flor da pele; emoções guardadas há muito tempo que explodiram na hora errada. Numa explosão de adrenalina, Elena começou a gritar com ele. Dizia aos gritos que o odiava e que ele era o próprio Satanás.
Ele arregalou ainda mais os olhos e pegou Elena pelo pescoço e apertou! Com força. Muita força. Ele era grande e forte. Elena, pequena e magra. O ar começou a faltar em seus pulmões ... faltar ... faltar. A sensação de morte ameaçou chegar no momento em que ele a soltou. Elena tonteou, tateou até a parede e foi escorregando por ela até o chão. Caiu desnorteada, garganta doendo, e o ar voltando aos pulmões. Podia lhe faltar ar, mas coragem não. "Posso morrer por falar a verdade, mas não morrerei sendo uma covarde." E mais uma vez Elena solta frases gritantes para seu agressor. "Você vai morrer sozinho. Eu vou sumir da sua vida. Eu vou matar você." Ele se volta para Elena rapidamente ainda no chão e agora pisa em sua garganta gritando "No dia que você sumir eu te mato. Eu te mato primeiro." E mais uma vez o ar vai faltando para Elena ... faltando ... mas antes de desmaiar, Elena escuta Alice - que até agora estava inerte, em estado de choque - gritando. "Larga ela. Você vai mata-la!" e Elena pode ver ela com as mãos nas costas dele tentando, em vão, fazer ele sair de cima de dela. Então ele enfim sai e some. Elena perde totalmente as forças e fica ali no chão, deitada, chorando, com dor e respiração entrecortada...
Todos esses fatos repassam um a um na cabeça de Elena enquanto ela decide o que fazer com a faca que roda em suas mãos... Lembrar daquilo tudo, agora que o ''sangue esfriou'' é muito doloroso. Doi bem no íntimo do coração ter a sensação de que quase foi morta por um homem que você antes confiava e amava.
Elena então abre um sorriso. Um sorriso que me dá medo de lembrar... Um sorriso maldoso, com cara de planos ruins embutidos nele. Ela pensa em Alice. Ela mesma. Aquela que ela foi defender e acabou sendo castigada por isso. Pensou que ela era covarde, afinal sua defesa em relação a Elena, não chegou nem perto do que Elena fez por ela. Na maioria do tempo, Alice só sabia gritar mandando ele parar, e quando enfim tentou agir, Elena já estava quase morta, em todos os sentidos.
Elena subiu as escadas calmamente e lá estava ele. Sentado no sofá vendo TV como se nada tivesse acontecido. Então ela chamou "Carlos", e quando ele olhou para trás, já era. A faca já estava em seu pescoço. "Eis a questão. Tirar ou não tirar. Se eu tirar você morre em 5 segundos, pois vai perder todo o seu sangue. Se eu não tirar você morre mesmo assim, mas demora sabe... Eu sinceramente não sei o que fazer. O que você quer que eu faça, Carlos. Tirar ou não tirar?" Carlos tenta dizer algo, mas já está perdendo sangue, seu rosto fica pálido, sua voz some e ela entende algo como ''me ajude''. "Sim eu vou te ajudar, querido." E como em um surto, Elena tira a faca do pescoço de Carlos. "Nossa, agora o sangue escorre com bem mais facilidade você não acha?" pergunta ela, perdida, para sua amiga faca ensanguentada. E Elena fica ali, vendo a cachoeira vermelha escorrer, jorrar, como uma mangueira aos seus pés. Ela olha para aquilo como uma criança olha para um doce, embasbacada. Então termina. Carlos cai no sofá inerte, sem sangue, sem vida. De repente, Elena vê Alice parada na porta da sala, de novo em choque. Só que agora ela grita desesperadamente. "É só o que você sabe fazer sua inútil. Gritar. Mas isso não vai traze-lo de volta. Fica feliz, você ta livre dele."
Então Elena sai pela porta, com a faca em punho, a roupa suja de sangue e vai andando pela rua, ignorando os vizinhos que já começam a olhar para ela, lambendo o sangue na faca e cantarolando uma canção de ninar ...