Apoteose

Passei horas e horas da noite encarando o relógio que zombava de mim a cada bater de hora

O copo de bebida vazio na minha mão ainda cheirava a whisky e a cama que eu encarava ainda cheirava a medo. Pouco sabia o que fazer naquela noite, que eu , em rápidos momentos de delírio, pensava que duraria para sempre. 

O cheiro de cigarro e ópio parecia exalar das paredes e eu me envolvia naquela fumaça que abraçava-me, suspendia-me pelo espaço e me erguia pelo o universo a explodir em um milhão de estrelas incandescentes... Escuro, minha razao voltava.

Escuro, só isso. 

E a realidade voltava como uma onda que me trazia  depois de ser tragado palo mar e jogado de volta a praia... Atordoado... Com o gosto de sal ainda queimando na boca. Encarei o cigarro caseiro que minha outra mao segurava, perguntando-me " o que tem nisso, meu deus?!"

A noite era gélida, mas nao era inverno. O frio do corpo que estava sobre a cama resfriava todo o quarto a minha volta. Meu estômago revirava, havia bebido demais e nao comido nada.

Aqueles seio túrgidos e pálidos em cima da cama... Vadia, ela era uma vadia. Nao lembro bem do seu rosto, afundei tanto em socos naquela noite que a imagem que me vem eh só um monte de carne amassada com cabelos ruivos ou loiros manchados de sangue.

É... Talvez ela nao fosse uma vadia. Talvez tivesse familia, filhos, um futuro. Mas o que me adianta pensar nisso agora? Nao adianta nada, nao mais. Quando a encontrei na rua e a arrastei para o quarto de motel barato que eu havia alugado, quando eu pus minhas mãos no seu pescoço de um jeito que ela se quer conseguio gritar além de um sopro rouco e vi a vida escorrendo dos seu s olhos. Naquele momento eu nao era mais aquele garotinho humilhado pelos meus pais, ou aquele bêbado repugnante que encontrou uma vadia naquela madrugada chuvosa, nao... Eu nao era mais um numero apagado em um mar de estatísticas, nao... Mais um ano se passava pra mim e aquela era a minha transformação. 

Olhando fundo nos olhos dela e vendo o brilho deixar na noite... Se todos pudesse, me ver naquele momento. Ali eu na nao era eu mesmo, ali eu se quer era humano, naquele momento eu renasci, naquele momento eu era deus.

Cadu Guerra
Enviado por Cadu Guerra em 06/08/2013
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