O Porão e os fantasmas de Margareth
Margareth residia numa casa de dois andares, os cômodos eram idênticos tanto no piso inferior, que eles denominavam de porão, quanto no piso superior.
Seu pai era segurança e nas horas de folga trabalhava como taxista, e arrumou uma amante, que fez um trabalho em um frasco de perfume e colocou no carro dele, para que ele abandonasse a família.
Um dia seu sobrinho viu o seu tio com a mulher e avisou a sua tia. Ela se dirigiu ao local que eles estavam, e tirou a mulher do carro, arrancou-lhe os cabelos e quebrou o frasco de perfume, que estava no interior do veículo, foi quando ele despertou e voltou para casa, entrou no quarto, bateu a porta e trancou-se, em seguida ouviu-se um tiro. E ao arrombarem a porta, ele havia atirado na mala do primo de Margareth, que estava no quarto.
A mãe de Margareth o perdoou pela traição. A família estava unida novamente.
Todos estavam sentados à mesa, a sua mãe havia feito cação com molho, quando todos estavam almoçando, ele jogou a mesa longe e agarrou a sua mãe pelo pescoço falando com uma voz demoníaca:
- Eu vim matar sete.
E pediu uma faca.
A sua mãe gritou para as crianças:
- Fujam daqui!
As crianças correram para a rua.
E sua mãe com muita sabedoria lhe disse:
- Me solta, para eu buscar a faca.
Ele a soltou e ela correu para a rua, ele ficou gritando como louco e sozinho na cozinha. Ela correu para a casa de sua cunhada Genoveva, que era Espírita e havia sido casada com o irmão do seu marido, e morava na mesma rua, mas era um pouco distante de sua casa.
Quando Genoveva entrou na casa expulsou o demônio dele, que dizia ser “o caveira”. Ele despertou e não se lembrava de nada. Dias depois descobriram que Neuza havia enviado esse demônio para a sua casa. Ela queria acabar com toda a família, inclusive ele.
E assim, seu pai instalou um congá, com várias imagens no porão, e desde então fazia trabalhos, vestia branco, incorporava espíritos, era o que chamavam de mesa branca.
Margareth, às vezes, participava, pois tinha medo de ficar na parte superior da casa sozinha ouvindo os batuques.
Ela via vultos dentro de casa, várias vezes viu sua mãe desmaiando, mãos na janela, ouvia vozes, via sua mãe vestida de anjo, cabeça grande e corpo pequeno voando e a cobria, quando estava dormindo, tudo visões, nada era real, pelo menos ela preferia pensar assim.
Ela gritava muito a noite toda e acordava até a vizinhança, e não sabia o porquê. Estava totalmente perturbada.
Um dia ela fugiu de um vizinho, com dores na barriga e que para ela, ele estava correndo atrás dela.
Quando ela se casou, por volta de 1979, os fantasmas sumiram, mas todas as noites tinha o mesmo sonho, que era uma menina que estava presa em um quarto escuro, não a viam, ela queria sair, mas não conseguia, andava pela casa e não via nenhuma fresta para sair. Esses sonhos eram muito assustadores.
Foi quando seu pai teve um acidente vascular cerebral e ficou em coma, em 2001. Nesse mesmo período, a sua mãe perdeu a casa e o terreno para a obra da abertura do rio que ficava ao lado da casa dela, devido às enchentes e o alargamento da Rodovia Fernão Dias, então alugou uma casa, até a obra estar pronta e devolverem o terreno.
No momento da morte de seu pai derrubaram a casa e ficaram muitos buracos. A sua mãe estava triste, a casa que seu marido erguera com tanto sacrifício estava no chão, entraram no terreno e viram tudo aquilo, tantas lembranças e recordações, tinha um buraco enorme bem ao fundo do quintal e foram ver, estava abaixo da terra o quarto do pânico que ela sonhava repetidas vezes, ela se arrepiou toda, teve até tonturas e desde aquele dia, ela se libertou desse pesadelo, não sonhou mais, embora se lembre constantemente dele, foram anos sendo assombrada, então ela acreditava que haviam coisas ruins lá embaixo, que ficaram presas e quando foram abertas as paredes se libertaram e o mesmo aconteceu com ela.
Ela não conseguia relacionar o quarto com o seu sonho, apenas quando o viu através das ruínas descobriu se tratar dos seus pesadelos, mas nunca entendeu o porquê daquele quarto, provavelmente por ela ficar sempre escondida lá, com medo das coisas, se via presa.
Ela começou a se questionar e pensava: "Por que ela?”.
Talvez por ter muita sensibilidade, e ser uma pessoa boa, exatamente o que as coisas ruins procuravam e a perseguiam. Ela e a sua família. Eles não davam trégua, a seguiam, e ela acreditava que era uma legião de demônios querendo levar a sua família com eles, e escolhiam justamente os bons, porque os maus e os que os seguem já são deles naturalmente.
Ela levava uma vida miserável, tudo dava errado, as crianças eram ainda pequenas, seu filho Roney doente, desempregada, despejada, sem água, luz, dinheiro, grávida de oito meses, e foi buscar ajuda com uma vidente. E pensava: “o que ela tinha a perder?”. A sua resposta sobre estes questionamentos era: “Nada!”.
Então ela foi à casa da vidente, que a orientou usar uns patuás no pescoço dela, do marido, e dos seus três filhos. Foi quando ela viu no carro do seu marido cinco peças de colares de proteção. O carro estava em péssimo estado. Então resolveu arrancar tudo dos pescoços dela e de sua família e os jogou no rio de dentro do carro, por cima da ponte da Vila Nilo. E assim que jogaram fora os patuás, após meia hora sofreram um terrível acidente, Roney estava no seu colo com um ano e oito meses, e foi lançado fora do carro caindo na calçada, ela via muito sangue por todos os lados, que era do seu marido, ela quase perdeu o bebê que esperava. Um mês depois, a menina morreu com o cordão umbilical no pescoço, que a sufocou.
Depois desse triste episódio, o seu marido arrumou um excelente emprego, foram morar numa excelente casa ao lado de sua amiga Ivani, mas Margareth ficou fascinada por uma casa no bairro de Jaçanã, e ao entrar sentiu algo estranho.
Eles mudaram a noite e não tinha energia elétrica, seu marido havia ido trabalhar. Ela e as crianças dormiram no quarto do segundo andar, ela precisava descer para fazer mamadeira do Roney com uma vela na mão, sentiu um grande arrepio, e teve medo da casa.
Viam vultos, barulhos de copos, gente andando, às vezes, eles eram arremessados escada abaixo. Um dia, as meninas chamaram a polícia, pois havia muito barulho na cozinha, a polícia entrou e os copos tinham se empilhado sozinhos, o telefone tocava, atendiam e ouviam vozes de pessoas conversando. A casa uivava e as coisas mudavam de lugares sozinhas. Então decidiram perguntar aos vizinhos, se alguma coisa havia acontecido na casa.
E um dos vizinhos disse que a casa era nova e no dia da inauguração os proprietários fizeram um churrasco para os amigos e começou a chover, o dono da casa foi eletrocutado caindo da cobertura, em que estava sendo feito o churrasco, o funcionário dele tentou segurá-lo e foi eletrocutado também, os dois morreram lá mesmo, a esposa do dono com o choque da carga elétrica rolou escadas abaixo e quebrou o pescoço. Margareth estava morando numa casa onde aconteceu uma verdadeira tragédia.
Ela não queria mais entrar na casa, e começaram a arrumar as coisas para mudar, e sua vida começou a afundar novamente, seu marido perdeu o emprego, começaram a atrasar o aluguel, perderam tudo e não tinham para onde ir, tiveram que continuar nessa mesma casa, pois não conseguiriam mudar nunca, por mais que tentassem, as coisas ruins não os deixavam sair de lá.
Sua mãe arrumou uma pequena casinha, um quarto, sala e cozinha junto com outras várias famílias no mesmo quintal para eles, que tentaram mudar, o caminhão quebrou, arrumaram outro, a chuva os impedia de sair, estavam presos lá.
Até que ela falou:
- De hoje não passa!
Colocaram o que deu no caminhão e logo voltaram para buscar as outras coisas. Já era noite quando mudaram.
No entanto, na mesma ponte, onde ela havia jogado os patuás, agora em sentido contrário voltando com a mudança, assim que o caminhão passou por lá, o motorista teve que parar imediatamente, pois ouviram gritos, rinchadas, uivos de horror, Margareth pensou que as meninas tivessem caído do caminhão, mas não era nada, as coisas ruins vieram com eles, perseguindo-os e se manifestaram no rio, em que ela havia jogado os patuás.
Então nessa pequena casa ao lado da casa de sua mãe, Margareth não tinha nem alimentos, ela não deixava sua mãe saber, seu marido continuou desempregado por mais cinco anos.
O padrinho de Roney arrumou outra casa para a sua família, onde começaram a acontecer coisas também, seu marido estava perturbado. E descobriram que o pai da sua comadre caiu do telhado e morreu no quintal e a mãe dela foi velada dentro de casa.
Margareth prestou um concurso em 1995 e em 1999 foi chamada para trabalhar, alugaram uma casa, passaram também muitas dificuldades nela, sem água e nem luz, pois só ela trabalhava, no mesmo dia morreram duas cachorrinhas dela, foram despejados também, humilhados, mas sobreviveram. Seu vizinho contou que uma japonesa tinha morrido lá.
Hoje ela mora numa casa boa, tem uma boa posição, e ouviu vozes na sala de casa, tem medo de ficar sozinha, sente coisas ruins, sua filha Andréia sempre sente que alguém a está sufocando, mas é só pressão das coisas ruins.
Os fantasmas deram uma trégua, de vez em quando dão sinal de vida, por enquanto está tudo bem...