Capítulo 1 - Marco Bianchini

Sempre gostei de um café expresso na Palace Coffee, em Delphos, Ohio, meu nome é Marco Bianchini, tenho vinte e seis anos, e de tantas manhãs naquele lugar comecei a reparar em um senhor, já bastante idoso, que se sentava perto a porta, e ficava por ali lendo seu rotineiro jornal, eu como sempre, mantinha contato com os meus livros, lendo algumas páginas todos os dias, até que um dia o senhor saiu antes de mim, e decidi segui-lo, e isso foi realmente diferente pra mim.

Em quinze minutos caminhando, ele já estava a pelo menos cerca de três quilômetros do centro, e eu mantinha distância sem querer ser visto, a alguns metros, ficava uma casa de campo, gigantesca e um tanto quanto mal cuidada, mas nem isso tirava a beleza do lugar, janelas grandes cobriam as laterais, na frente uma grande varanda, e atrás haviam árvores enormes, que faziam a casa parecer minúscula.

Logo que passei pela casa, o senhor me abordou perto da estrada, me arrepiei quando o vi escondido ao lado de uma árvore.

-O que você faz aqui? - perguntou o senhor.

-Estava no Palace Coffee. - respondi. -Reparei no senhor sentado a porta, e quis ver onde morava, me desculpe... - prolonguei.

-E veio me roubar? - ele me olhou afoito.

-Não senhor, apenas queria conhecê-lo, gosto de histórias, vivo em meus livros, e penso que você tem uma história por trás de tudo isso.

-Bem, jovens nos dias de hoje não tem mais interesse em histórias, só querem curtir a vida.

-Concordo, mas alguns ainda gostam, bem vou indo, me desculpe incomodá-lo.

-Boa tarde filho.

Voltei para casa, já se passavam das duas da tarde, e muitas coisas me intrigavam, como um senhor viveria numa casa tão grande, e aparentemente sozinho. Havia algo ali, para contar, para esclarecer, e eu queria saber de tudo, cada segredo daquela história, passei a noite tendo sonhos com isso, possibilidades e diferentes hipóteses não faltaram, até eu adormecer profundamente.

Moro em uma casa pequena, no centro da cidade, o terreno já foi tentado por muitas construtoras para fazerem prédios, mas meus tios nunca tiveram interesse em vende-lo, sim, moro com meus tios, meu pai abandonou minha mãe, que abandonou a mim quando eu já tinha dois anos. Minha tia, Elisa, me criou desde então.

Meu tio Esthevan me ensinou a pescar e a cavalgar, coisas das quais só gosto é de pescar, o cheiro de cavalos ainda me embrulha o estômago, mesmo assim foi sempre bom e generoso comigo, um verdadeiro pai pra mim, devo muito aos dois, espero poder faze-los se orgulharem de mim um dia. A cidade é pequena e a maioria dos meus amigos se mudaram após se formarem na escola.

Sou moreno de um metro e setenta de altura, olhos castanhos e corpo atlético, me formei em letras a dois anos, mas voltei para Delphos quando meu tio ficou doente, me apaixonei pela cidade de novo e resolvi passar mais tempo aqui...

Intrigado e curioso com o mistério que aquele homem solitário passava, tornei a frequentar o Palace Coffee todos os dias, porém, o Senhor baixinho, de cabelos brancos e olhar cansado não apareceu mais lá. Diante do pouco tempo em que falei com ele, esqueci de perguntar seu nome. O que me impedia de pedir informações sobre ele. Pedi sobre o senhor ao dono do Café, mas ele também não sabia nada do homem. Pouco se comunicavam nessa pequena cidade.

Noites sem dormir, não sabendo o porquê de estar tão interessado em uma história que nem sei do que se trata. Lembrando da expressão assustada do velho ao me ver. E recordando sua expressão calma, e humilde ao se despedir sem mais palavras. Sem olhar para trás.

Por ver sempre ele sozinho no Café, percebi o abandono, e minha vontade era de correr no mesmo instante ao seu encontro, saber da situação em que se encontra. Queria saber de seus filhos, de sua mulher. Tenho certeza de que ele não foi um homem sozinho, que teve alguém a quem cuidasse.

Cansado de tanto criar hipóteses, e até mesmo inventar coisas e histórias, resolvi então chegar mais perto daquela casa, me aproximar aos poucos daquela longa vida que até então foi vivida lá. Resolvi ir até o velho senhor, porque meus pensamentos não estão enganados. Algo curioso e interessante ronda aquele homem, e aquela casa.

Johan Henryque e Maindra Bianca
Enviado por Johan Henryque em 28/07/2013
Código do texto: T4408883
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