NATÁLIA

Eu estava numa reunião de escritores, todos jovens. O assunto não podia deixar de ser Literatura; era o objetivo daquele primeiro encontro, num local ao estilo do Paço Imperial, na Praça XV, no Rio de Janeiro. Sentávamos à volta de uma grande mesa retangular, como as da época. As bolsas e mochilas dos participantes estavam displicentemente largadas sobre uma bancada num nicho na parede.

Havia petiscos e refrigerantes sendo oferecidos, coisa pouca, já que o objetivo da reunião passava longe da boca. Escolhi um pastel branquinho, do jeito que gosto e uma Coca- Cola.

Em determinado momento, apesar do interesse no assunto, percebi que estava tarde e que deveria ir embora. E então fiquei atrapalhada para encontrar minha bolsa no meio das outras, porque os que chegaram mais tarde foram empilhando as suas por cima. Finalmente estava pronta para sair, mas lembrei-me de que não sabia direito o caminho de volta... Senti-me um pouco angustiada com isso, mas dirigi-me ao corredor de saída, de pedras e largo, cheio de arcos, como todos os demais do prédio.

Quando cheguei ao meio do corredor, ouvi uma voz feminina vinda de trás, perguntando-me se queria que fôssemos juntas, pois passaria perto do lugar onde eu morava; era seu caminho também. Era uma moça loura, com um corte de cabelo curtinho e desfiado... não me lembrava de tê-la visto na reunião, mas aceitei sua companhia e pegamos uma condução juntas. Não me perguntei como ela sabia onde eu morava; só depois me dei conta disso.

Chegando ao lugar em que eu deveria descer para pegar outro ônibus, ela desceu comigo, disse que também teria de seguir em outra direção. Ficamos no ponto esperando e quando meu ônibus surgiu ao longe, ela virou-se para mim, fitou-me com grandes olhos verdes e disse: meu nome é Natália. E sumiu.

RJ, 10/07/13

(não aceito duetos, por favor)