Annie - Parte V
Não iria até o corredor novamente. Na noite quando nos vimos pela primeira vez, o estado de susto que tomava conta do meu rosto a deixou envergonhada. Provavelmente pareceria implicância minha abrir a porta procurando a fonte do barulho como já havia feito, então permaneci onde estava.
Passadas algumas horas, bem, não sei se havia sido tanto tempo assim, mas fora o suficiente para que eu desejasse uma bebida quente e confortável. Lembrei-me do chá, pensei em esquentá-lo apenas acrescendo mais ervas, ascendi o fogo e abri a lata... Estava tão vazia quanto a minha esperança de encontrar algum lugar onde pudesse comprar mais em uma hora daquelas. Valia o risco.
Devidamente vestido tranquei a porta e ia descendo as escadas quando olhei para trás procurando o dono de passos no topo da escada. Annie. Não pude negar minha surpresa e minha felicidade em ver novamente aquela beleza em forma de luz.
Estranhamente Annie recuava, ao me ver olhando em sua direção ela pareceu querer voltar... Apesar disso não voltou. Notando que causara nela desconforto senti-me mal e então saí para a rua.
Rodei alguns bares nos arredores e finalmente encontrei um que vendia, não chás refinados, mas café. Forte, quente. Comprei uma quantia considerável.
_ Noite difícil meu jovem? - o velhinho que estava no balcão parecia distinto e não parecia se agradar da presença de tantos bêbados sujos do lado de fora do bar, gritando e tudo mais que se faz quando nessas condições.
Não o respondi. Apenas levantei as sobrancelhas e acenei com a cabeça.
Fui deixando o bar às minhas costas e quando estava muito próximo de casa vi Annie, e considerando as reações anteriores não esbocei nenhum sentimento quanto ao encontro. Abri a porta e quando já alcançava meu patamar de escadas peguei as chaves e ia entrar mas ouvi uma voz incerta e trêmula.
_ Desculpe-me por aquela reação agora há pouco, eu... Bom, os olhares tortos por conta dos meus horários já me são suficientes, tive medo de ter que assistir a outro desses e vindos logo do Sr., eu...
Fiquei surpreso.
_ Não deve se preocupar com isso. A solidão de cada um diz respeito somente ao próprio. E quanto aos seus horários, bom, são semelhantes aos meus, a diferença é que o seu é dignamente justificável pelo trabalho, eu só faço pensar bobagens...
Ela sorriu amarelo.
_ É, dignamente... Até mais vizinho.
A última expressão naquele rosto suave me deixara com interrogações. Voltei para dentro e me forcei a dormir, o que mais poderia eu fazer?