A VIdente

A VIdente

Menina simpática a todos, levava uma vida normal - quase normal - não fosse pelo segredo que tinha -, mas mantinha-o, guardado a sete chaves. De dia estudava e trabalhava na pequena lanchonete da família. Era á noite que as coisas aconteciam.

Era bem recatada, porém, admirava os músculos do vizinho, um esportista que lutava boxe. Nutria simpatia, e certa repugnância pelo marido da vizinha, um coroa enxuto,vaidoso e cheio de fantasias pervertidas. Sabia disso, ao presenciar pela varandinha do seu quarto, que ficava nos fundos da casa, o casal nas mil e uma estripulias de perversão.

Até sexo grupal, ali rolava. Nas primeiras vezes, ficou chocada, com o tempo foi se acostumando, acostumando. Sabia por intuição, quando a festinha particular iria acontecer - e aquilo lhe dava um frisson, um calor entre as pernas a ponto dos biquinhos dos seios eriçarem mas, ela se continha. Suas noites eram longas, com vouyerismo, de sua parte.

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Lutava para ter uma vida pacata, até mesmo um Centro Espírita frequentava, de vez em quando - porém , não era colaboradora nem se achava uma mulher jovem religiosa.

Todas às noites que aconteciam as perversões, ela costumava acordar, do nada na calada da noite, e por uma força maior, se deixava conduzir para a varanda. Ali, ficava, ficava até surgirem os primeiros ruídos do interior da casa. Gemidos, sussurros, gritinhos entoados por vozes femininas cheias de malícia ao meio tom.

A sua imaginação se tornava fértil. Imaginava ao pé da letra o que estava acontecendo - até que o casal e seus convidados se dirigiam para a ala da casa, onde ela podia assistir a tudo à beira da piscina. Tinha na casa um jardim, com vista para o mar, com grama e piso de madeira. Ali, à meia luz os casais satisfaziam seus desejos, os mais proibidos.

E, ela, ali, quieta, a tudo assistindo com paciência de Jó. Arrepios lhe dilaceravam a alma. O seu sangue fervia nas veias. E, arriscava correr, de leve os dedos longos e finos por partes do seu corpo. Mas, não chegava a ir além disso - havia um senso de pudor que lhe tolhia soltar a fera que existe dentro de cada pessoa,quando o assunto é sexo, prazer.

Vestida com um fino e curto baby-doll ficava até exposta, caso um vizinho que se situasse na lateral do seu quarto acordasse e resolvesse ir ver à lua, ou as estrelas. A Rainha das Perversões lançou um olhar para onde ela estava, um olhar de malícia, de provocação. Enquanto satisfazia de todas formas possíveis os seus prazeres de mulher da noite. O seu marido so assistia, enquanto homens e mulheres a usavam como se fosse um brinquedo para todos os prazeres.

Ela só dizia, "meu Deus, meu Deus....como essa gente pode ser assim?" E, naquele dia foi se recolher aprisionada por fixações mentais voltadas para o sexo, o sexo descabido - o olhar da Rainha das Perversões

transfixo no seu olhar, como se soubesse que ela estava ali, como sempre - observando, cheia de desejos contidos.

"Esses tipos adoram se exibir". Naquela noite tão quente, não foi se deitar, antes de sentir a água fria do chuveiro aliviar todo o seu calor, relaxar. Sentir a água fria ir tocando sua pele e prepará-la para uma noite de sono tranquilo - se sentia, como se a água a lavasse dos desejos, os mais proíbidos.

O casarão ficava com o fundo colado com o fundo de sua casa. Ela guardava àquele segredo, não fazia nenhum comentário a respeito da gente daquela casa sinistra, porém, ali havia um não sei o quê de requinte - havia gente de grana envolvida naquelas orgias. Até mesmo uma carruagem estilizada, daquelas que desfilavam pelas ruas do Brasil colonial, certo dia ali esteve aos seus olhos. As pessoas desceram fantasiadas para uma festa à fantasia - seria mais uma noite daquelas.

Não conseguia entender uma coisa - por quê so ela dava àqueles flagrantes orgíacos. Aquelas festas de Baco. Ou, festas de Sapho na ilha de lesbos. haja apetite sexual para tantas fantasias sexuais.

Estava se sentindo sufocada, e antes que se deixasse seduzir e entrasse naquela família orgíaca, resolveu falar para sua irmã - que era a sua confidente -, e com detalhes lhe contara o que presenciara ao longo daqueles meses.

Sua irmã ficou surpresa, e assustada. Pensou em levar à família as suas narrações. Ela ficou assustada, confusa - não queria compartilhar com os demais. Seria motivo de vergonha. Mas ,a sua irmã lhe disse que não teria problema - depois que lhe mostrasse algo, todos saberiam entender. A sua mãe era espírita convicta, mulher de moral elevada - não a censuraria.

Ela relutou, mas ficou sem forças para resistir, e assim foi. Conduzida pela irmã se dirigiram para a frente do casarão dos prazeres proibidos. Seguiram em passos lentos. Ela, cansada, com passadas de desânimo. Quando chegaram, foi grande a sua surpresa. parecia estar vivendo um pesadelo, algo irreal e inexplicável.

Observou:

- Mas, não tem nada, aqui. Só um casarão antigo, em ruínas. Cadê o casarão, eu o via intacto...? Hoje, está tomado pelo mato, e o abandono..

Sua irmã chorou, deduzia que a mana estava ficando louca, tendo visões desconexas, surreais. Pois, havia, com delírio feito descrições tão precisas, como se fosse a mais hábil e criativa escritora. Descrevia as pessoas, suas roupas, gestos e costumes que lhe remetiam ao Brasil colonial.

Sua mãe nada lhe disse. Foi ao telefone e chamou um senhor de cabelos grisalhos. Após ouvir as suas narrações, com riquezas de detalhes, observou, com maestria:

- A jovem é vidente, via uma passagem do passado, como se fosse real. Tem o dom da vista dupla.

Anna Lídia foi para o seu quarto, ainda um tanto confusa, assustada. Porém, tinha uma certeza, a Rainha da Perversão, não lhe era estranha. Havia notado que algo as ligava, de forma íntima - não, os mesmos desejos proibidos, mas, talvez, um retrato vivo que lhe pertencia num passado remoto. Até mesmo o gestual, a forma de falar, e talvez, até mesmo alguns desejos relutavam em permanecer em seu ser, fustigando-a em buscar, ainda

dos prazeres de Baco, em seu palácio dos prazeres proibidos e de Sapho, na ilha de Lesbos.Então,disse para si, em segredo:

" Ela sou eu num passado secular perdido no Brasil Colonial."

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 15/07/2013
Reeditado em 08/01/2016
Código do texto: T4388900
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