"OBSESSÃO..." - Capítulo VI - A saga continua

Capítulo VI

“Amor desgraçado”

Catharine estranha a atitude do marido.

_ Aconteceu alguma coisa, George?

_ Onde arrumou este colar? – esbraveja, ao notar a joia no pescoço da mulher._ Responda-me!

Catharine balbucia, teme outra reação agressiva do marido.

_ VOU REPETIR: ONDE ARRUMOU ESTA...PORCARIA?

O colar que ela usava era um presente de escola dado por Alana. O último. Um singelo cordão de prata com um pingente em formato de coração em cuja superfície era visível o nome da menina. Um adorno de baixo valor financeiro, mas de grande valor sentimental. É óbvio que destoava do Valentino – uma relíquia aos olhos dos invejosos. E o que isso importava? Ela estava feliz com aquele mimo e resolveu usá-lo em homenagem à memória da filha. Isso era algum crime? Se fosse, ela o estava cometendo com gosto. Por isso, com as forças ressurretas por um milagre divino, fixou fria e vagarosamente os olhos do vereador e respondeu:

_ Foi um presente de Alana! Algum problema?

_ Não percebeu que este vestido não combina com joias de valor duvidoso? Ele é um Valentino! Daqueles que as mulheres pagariam qualquer coisa para ter...

_... Eu não! – diz, interrompendo-o.

_ Você não? – puxa o colar com força, arrebentando-o. _VOCÊ NÃO? – insiste.

_ Devolva-me, por favor! Foi o último presente que recebi de nossa filha. Por favor!

_A-LA-NA! – lê o nome da filha no pingente. _Hum! – esnoba._ Cadê o colar exclusivo de pérolas brancas que lhe dei para usar com esse belo exemplar da alta-costura?

_ Está lá em cima! Dê-me o colar... – pede!_ Ele é meu!

_ Sabe quanto custou aquele colar que lhe dei? Vinte mil! Sabe o que são vinte mil? Daria para pagar o salário de um ano daquela empregadazinha que você insiste manter debaixo de nosso teto – olha o colar com escárnio. _E sabe quanto custou isso? No máximo, um décimo do que paguei. Mesmo sabendo disso, optou por usá-lo? –franze a testa. _Queria me desafiar?

_ George, por favor, devolva-me... - os olhos marejados denunciam quão está entristecido o seu âmago. _ Não quis desafiar ninguém, quis apenas expor o amor que tenho por nossa filha. Isso é algum crime?

_ Ainda pergunta? Troca uma peça valiosa por uma...

_ E quem disse que essa também não é? – interrompe-o. _Para mim, é a peça mais valiosa do mundo, porque foi feita com amor e pela pessoa que mais me amava: MINHA FILHA. MINHA ÚNICA FILHA. Não percebe? Pode não ter valor de mercado, mas possui um valor sentimental inigualável. É isso que importa! Sinto-me honrada por usá-la!

_ E isso é motivo de honra? – pergunta, desdenhando do objeto.

_ Sim! – confirma a mulher.

Ele gargalha.

_ Você me causa PENA! Sempre teve tudo do bom e do melhor, bastava estalar os dedos para que tudo caísse do céu como num passe de mágica. Se tivesse sofrido um pouco, passado por alguma dificuldade, saberia distinguir o valor que há entre esta coisa... e o que eu lhe dei! Você precisa aprender muito comigo ainda...

_...pelo contrário, é VOCÊ que precisa aprender muito comigo, seu verme! – esbraveja, soltando a fera que havia dentro dela.

George revida a agressão verbal com uma bofetada que a joga ao chão.

_ NUNCA MAIS FALE COMIGO NESSE TOM! – quebra o colar e retorce o pingente; ao jogá-los no chão, pisa com força. _ O seu “mimo” agora está debaixo de meu sapato – diz ele, com uma frieza ímpar.

Dirige-se à escadaria, quando é interpelado pela mulher.

_ O que ganhou com tudo isso? – pergunta, em meio às lágrimas. _ O que ganhou? Fale, George!

_ PRAZER! – profere, olhando-a com fervor.

Depois sobe as escadarias como se nada tivesse acontecido. Desolada, Catharine arrasta-se pelo piso frio. Chama Ernestina, mas sua voz, esmorecida, não chega à criada. Chama de novo, dessa vez, com as últimas forças que lhe restam.

_ ER - NES-TIII-Naaaa – desfalece.

Ao ouvir seu nome, a empregada desfaz-se da rotina do lar e corre à procura da patroa. Quando adentra a sala de jantar, encontra-a caída num canto, desacordada, com sangue escorrendo pelo rosto. Abalada, berra por socorro.

* Aguarde o capítulo VII.