Câmera 19
- Mas o que é isso, Oliveira!? Vendo pornografia?
- Eu? Claro que nã... Caramba! O que é isso? Câmera 19... - murmurou, conferindo a relação. - Fica no terceiro, sala de reunião. Vamos lá!
Dizendo isso, Oliveira pegou sua arma e correu com o colega na direção do ambiente monitorado pela câmera que mostrava um casal em pleno ato sexual.
- Você viu eles entrarem?
- Não! Claro que não! Eles não foram percebidos pelos sensores de presença.
- Uma deusa daquela não passaria desapercebida nem no metrô!
- Tome tino, Ezequiel! Não vê que o assunto é sério?
- Eu sei que é! Mas, a mulher é gostosa! Que que eu posso fazer?
- Chegamos! Para de tagalerice! - disse Oliveira já se posicionando em frente à porta, o revólver em punho.
- E agora? - perguntou Ezequiel.
O outrou bateu com a arma na porta:
- Segurança! Quem está aí? - gritou.
O amigo fez um muchocho.
- Ah! Precisava fazer todo esse barulho?
O outro o olhou, sem entender.
- Estragou a festa aí dentro. A esta hora, a moça já se cobriu e eu não vou poder conferir o material ao vivo.
Oliveira fuzilou-o com um olhar de impaciência e, como não houve qualquer resposta, os dois entraram na sala. Vazia, com as luzes apagadas e um pouco abafada, já que não possuía janelas e o sistema de ar-condicionado estava desligado.
- Para onde será que eles foram? - perguntou Ezequiel, decepcionado.
- Não sei. Tenta as salas da direita. Eu vou pelas da esquerda.
Os dois se separaram por alguns instantes, até voltarem a se encontrar, no hall dos elevadores.
- Nada!
- Nem eu.
- Será que escaparam pelos dutos de ventilação?
- Você anda vendo filme americano demais, homem! Aqui não tem isso, não. A temperatura é mantida por esses aparelhos. - respondeu Oliveira, mostrando um daqueles modernos condicionadores de parede.
- Vamos voltar lá para baixo, ver as imagens gravadas para saber por onde eles escaparam. - respondeu Ezequiel meio irritado com o tom do outro.
Porém, mal adentraram a sala de monitoramento, lá estava o casal de novo, em pleno ato, na mesma câmera 19.
- Não é possível!
- Fica aí acompanhando. Eu vou voltar lá. Me aciona pelo rádio, caso eles parem.
Extasiado que estava pelas imagens, Ezequiel nem respondeu, fazendo apenas um aceno com a cabeça.
Oliveira, impaciente seguiu escada acima, rumo à mesma sala onde estiveram instantes antes, para encontrá-la exatamente do mesmo modo: vazia, arrumada e um pouco abafada.
Um arrepio correu-lhe a espinha, antes dele chamar o amigo pelo rádio.
- A sala tá vazia.
- Não é possível! Eles estão aí. - respondeu o outro.
- Não! Não tem ninguém aqui. - e, dirigindo-se para a frente da câmera, acenou. - Consegue me ver?
- Aaahhh! Meu Deus!! Sai já daí! Sai daí! - gritou o outro.
Oliveira, assustado, saiu correndo da sala, cuja porta, movida por uma mola, fechou-se lentamente, enquanto mostrava a mais absoluta normalidade em seu interior.
- Que susto, Ezequiel! O que houve? O que foi que você viu!?
- O cara e a garota, se levantaram e caminharam na sua direção! Putz! Tô todo arrepiado aqui! Sabe aquela cena do filme “O Chamado”, que a guria sai da TV? Foi igualzinho!
Apesar de, ao imaginar a cena, Oliveira sentir novamente um forte calafrio, não perdeu a pose:
- Mas era só o que me faltava! Além de filminho americano, agora você também anda viciado em cinema japonês?
- Pô! Tô falando sério!
- Tá, esquece. E agora? O que você está vendo?
- Os dois voltaram a transar.
- Mas, não é possível! Essa merda vai ficar gravada aí! Vão achar que a gente pisou na bola... - e virou-se decidido a entrar novamente na sala, mas perdeu a coragem, ao tocar a maçaneta e senti-la gelada. Abriu uma fresta e olhou de soslaio para o ar condicionado, que permanecia desligado, embora uma lufada de vento frio o tivesse atingido em cheio no rosto.
Foi o que bastou para o sujeito acovardar-se de vez e sair correndo dali. Nem esperou o elevador chegar, desceu pelas escadas mesmo, indo encontrar Ezequiel muito sério, pesquisando alguma coisa na Internet.
- O que está fazendo? - perguntou, tentando parecer calmo.
- Olha aqui! - disse o outro, mostrando uma notinha de jornal.
Era uma notícia sobre um casal de amantes que, descoberto pelo marido da moça, teria sido assassinado no prédio, em pleno ato.
- Mas isso foi há mais de cinco anos. Nós já estamos aqui há três. Por que só agora?
- E eu sei lá de apetite sexual de fantasma!?
- Pois meu medo é eles terem apetite de outra coisa. Vou já é embora daqui.
- Nada disso. Vamos chamar o seu Alvino. - disse um resoluto Ezequiel.
- E desde quando seu Alvino entende de assombração?
- Ele é o supervisor. Vai saber o que fazer ou, pelo menos, vai testemunhar que nós tentamos fazer o nosso trabalho.
Embora surpreso e até incrédulo diante do profissionalismo do colega, Oliveira concordou.
Seu Alvino chegou sonolento. Encontrou os dois na sala de monitoramento.
- E então!? O que as moças acham tão importante que justifique me tirar da cama?
Oliveira virou-se, saindo da frente do monitor da câmera 19, para que ele visse o casal - que não havia parado ainda.
Alvino olhou a tela por alguns instantes. Finalmente, deu de ombros, impaciente.
- Sim! E daí?
Oliveira exasperou-se:
- Como “e daí”? O senhor acha isso normal?
E voltou-se novamente para a tela, que mostrava a sala de reunião exatamente como deveria ser: arrumada, vazia, escura. E abafada, mas isso não seria possível perceber pelas imagens.
- Não pode ser! Eles pararam! - exclamou Oliveira.
- Eles quem?
- O casal que estava...
- Estava...? - insistiu Alvino.
- Havia um casal transando nesta sala!
- Transando? E para onde eles foram?
- Bom... Na verdade eles não estavam mesmo lá. Eles eram... Por favor, Ezequiel, me ajude!
- Ajudo, claro. Assim que eu souber do que você está falando. - disse Ezequiel, fingindo-se confuso.
Foi quando Oliveira percebeu a encenação:
- Não acredito! Você armou tudo isso?
Ezequiel e Alvino cairam na gargalhada.
- Mas... Por que?
- Pô, Oliveira! Você tá um saco. Dono da verdade, desprezando a opinião dos outros... - disse Alvino. - Achamos que um sustinho assim ia sacodir um pouco suas convicções.
- É! Sacodiu mesmo. Mas como vocês fizeram isso?
- Com isso. - disse Ezequiel, mostrando um DVD.
- Putz! Eram imagens gravadas!? Nem desconfiei!
- Pois é!
- Mas... Como vocês conseguiram filmar um casal transando lá na sala?
- Na verdade, foi de onde tirei a ideia. Naquele final de semana da mudança, quando arrastamos o armário, o disco estava caído lá atrás, todo empoeirado. Fui ver o que era e dei de cara com a gostosa... - disse um satisfeito Ezequiel.
- Será que eram do tal casal assassinado? - perguntou Oliveira.
- Provavelmente. Parece que o corno era segurança e flagrou os dois pelo CITV. - respondeu Alvino.
- E o vento gelado saindo da sala?
- Coloquei um ar-condicionado móvel debaixo da mesa.
- Caramba, Ezequiel! Se você se esmerasse no serviço como se esmerou neste trote, já era presidente da empresa.
- Já vem você de novo, Oliveira!
Foi a vez do Oliveira rir também, encabulado.
- Força do hábito.
- Bom... Agora, que a festa acabou, eu vou pra casa. Vocês voltem ao trabalho. - disse Alvino, saindo.
Tão logo ele virou as costas, foi a vez de Ezequiel anunciar:
- Eu vou é tirar um cochilo. Qualquer coisa, você me chama.
- Pô, Ezequiel!
- “Pô” digo eu. Essa brincadeira deu o maior trabalhão. Tô morto!
- Tá! Vai lá! Depois de tanta agitação, acho que não vai acontecer mais nada por aqui, hoje e... Opa! O que foi isso?
- Isso o quê?
- Nada... Pensei ter visto alguma coisa na câmera 19.
- Impressão sua. Tá tudo normal lá.
- É... Devo ter ficado meio paranóico depois da brincadeira de vocês.
- Deve ser. Relaxa. Vou nessa.
- Beleza. - disse Oliveira, recostando-se na cadeira, em frente aos monitores.
Enquanto isso, na sala de reuniões do terceiro andar, um casal trocava suas primeiras carícias:
- Lembrou de colocar a foto da sala na frente da câmera? - perguntou ela, lânguida, entre beijos.
- Sim, meu amor, fique tranquila. Mesmo sabendo que agora ninguém pode nos ver, não esqueço nunca mais.
- Eu? Claro que nã... Caramba! O que é isso? Câmera 19... - murmurou, conferindo a relação. - Fica no terceiro, sala de reunião. Vamos lá!
Dizendo isso, Oliveira pegou sua arma e correu com o colega na direção do ambiente monitorado pela câmera que mostrava um casal em pleno ato sexual.
- Você viu eles entrarem?
- Não! Claro que não! Eles não foram percebidos pelos sensores de presença.
- Uma deusa daquela não passaria desapercebida nem no metrô!
- Tome tino, Ezequiel! Não vê que o assunto é sério?
- Eu sei que é! Mas, a mulher é gostosa! Que que eu posso fazer?
- Chegamos! Para de tagalerice! - disse Oliveira já se posicionando em frente à porta, o revólver em punho.
- E agora? - perguntou Ezequiel.
O outrou bateu com a arma na porta:
- Segurança! Quem está aí? - gritou.
O amigo fez um muchocho.
- Ah! Precisava fazer todo esse barulho?
O outro o olhou, sem entender.
- Estragou a festa aí dentro. A esta hora, a moça já se cobriu e eu não vou poder conferir o material ao vivo.
Oliveira fuzilou-o com um olhar de impaciência e, como não houve qualquer resposta, os dois entraram na sala. Vazia, com as luzes apagadas e um pouco abafada, já que não possuía janelas e o sistema de ar-condicionado estava desligado.
- Para onde será que eles foram? - perguntou Ezequiel, decepcionado.
- Não sei. Tenta as salas da direita. Eu vou pelas da esquerda.
Os dois se separaram por alguns instantes, até voltarem a se encontrar, no hall dos elevadores.
- Nada!
- Nem eu.
- Será que escaparam pelos dutos de ventilação?
- Você anda vendo filme americano demais, homem! Aqui não tem isso, não. A temperatura é mantida por esses aparelhos. - respondeu Oliveira, mostrando um daqueles modernos condicionadores de parede.
- Vamos voltar lá para baixo, ver as imagens gravadas para saber por onde eles escaparam. - respondeu Ezequiel meio irritado com o tom do outro.
Porém, mal adentraram a sala de monitoramento, lá estava o casal de novo, em pleno ato, na mesma câmera 19.
- Não é possível!
- Fica aí acompanhando. Eu vou voltar lá. Me aciona pelo rádio, caso eles parem.
Extasiado que estava pelas imagens, Ezequiel nem respondeu, fazendo apenas um aceno com a cabeça.
Oliveira, impaciente seguiu escada acima, rumo à mesma sala onde estiveram instantes antes, para encontrá-la exatamente do mesmo modo: vazia, arrumada e um pouco abafada.
Um arrepio correu-lhe a espinha, antes dele chamar o amigo pelo rádio.
- A sala tá vazia.
- Não é possível! Eles estão aí. - respondeu o outro.
- Não! Não tem ninguém aqui. - e, dirigindo-se para a frente da câmera, acenou. - Consegue me ver?
- Aaahhh! Meu Deus!! Sai já daí! Sai daí! - gritou o outro.
Oliveira, assustado, saiu correndo da sala, cuja porta, movida por uma mola, fechou-se lentamente, enquanto mostrava a mais absoluta normalidade em seu interior.
- Que susto, Ezequiel! O que houve? O que foi que você viu!?
- O cara e a garota, se levantaram e caminharam na sua direção! Putz! Tô todo arrepiado aqui! Sabe aquela cena do filme “O Chamado”, que a guria sai da TV? Foi igualzinho!
Apesar de, ao imaginar a cena, Oliveira sentir novamente um forte calafrio, não perdeu a pose:
- Mas era só o que me faltava! Além de filminho americano, agora você também anda viciado em cinema japonês?
- Pô! Tô falando sério!
- Tá, esquece. E agora? O que você está vendo?
- Os dois voltaram a transar.
- Mas, não é possível! Essa merda vai ficar gravada aí! Vão achar que a gente pisou na bola... - e virou-se decidido a entrar novamente na sala, mas perdeu a coragem, ao tocar a maçaneta e senti-la gelada. Abriu uma fresta e olhou de soslaio para o ar condicionado, que permanecia desligado, embora uma lufada de vento frio o tivesse atingido em cheio no rosto.
Foi o que bastou para o sujeito acovardar-se de vez e sair correndo dali. Nem esperou o elevador chegar, desceu pelas escadas mesmo, indo encontrar Ezequiel muito sério, pesquisando alguma coisa na Internet.
- O que está fazendo? - perguntou, tentando parecer calmo.
- Olha aqui! - disse o outro, mostrando uma notinha de jornal.
Era uma notícia sobre um casal de amantes que, descoberto pelo marido da moça, teria sido assassinado no prédio, em pleno ato.
- Mas isso foi há mais de cinco anos. Nós já estamos aqui há três. Por que só agora?
- E eu sei lá de apetite sexual de fantasma!?
- Pois meu medo é eles terem apetite de outra coisa. Vou já é embora daqui.
- Nada disso. Vamos chamar o seu Alvino. - disse um resoluto Ezequiel.
- E desde quando seu Alvino entende de assombração?
- Ele é o supervisor. Vai saber o que fazer ou, pelo menos, vai testemunhar que nós tentamos fazer o nosso trabalho.
Embora surpreso e até incrédulo diante do profissionalismo do colega, Oliveira concordou.
Seu Alvino chegou sonolento. Encontrou os dois na sala de monitoramento.
- E então!? O que as moças acham tão importante que justifique me tirar da cama?
Oliveira virou-se, saindo da frente do monitor da câmera 19, para que ele visse o casal - que não havia parado ainda.
Alvino olhou a tela por alguns instantes. Finalmente, deu de ombros, impaciente.
- Sim! E daí?
Oliveira exasperou-se:
- Como “e daí”? O senhor acha isso normal?
E voltou-se novamente para a tela, que mostrava a sala de reunião exatamente como deveria ser: arrumada, vazia, escura. E abafada, mas isso não seria possível perceber pelas imagens.
- Não pode ser! Eles pararam! - exclamou Oliveira.
- Eles quem?
- O casal que estava...
- Estava...? - insistiu Alvino.
- Havia um casal transando nesta sala!
- Transando? E para onde eles foram?
- Bom... Na verdade eles não estavam mesmo lá. Eles eram... Por favor, Ezequiel, me ajude!
- Ajudo, claro. Assim que eu souber do que você está falando. - disse Ezequiel, fingindo-se confuso.
Foi quando Oliveira percebeu a encenação:
- Não acredito! Você armou tudo isso?
Ezequiel e Alvino cairam na gargalhada.
- Mas... Por que?
- Pô, Oliveira! Você tá um saco. Dono da verdade, desprezando a opinião dos outros... - disse Alvino. - Achamos que um sustinho assim ia sacodir um pouco suas convicções.
- É! Sacodiu mesmo. Mas como vocês fizeram isso?
- Com isso. - disse Ezequiel, mostrando um DVD.
- Putz! Eram imagens gravadas!? Nem desconfiei!
- Pois é!
- Mas... Como vocês conseguiram filmar um casal transando lá na sala?
- Na verdade, foi de onde tirei a ideia. Naquele final de semana da mudança, quando arrastamos o armário, o disco estava caído lá atrás, todo empoeirado. Fui ver o que era e dei de cara com a gostosa... - disse um satisfeito Ezequiel.
- Será que eram do tal casal assassinado? - perguntou Oliveira.
- Provavelmente. Parece que o corno era segurança e flagrou os dois pelo CITV. - respondeu Alvino.
- E o vento gelado saindo da sala?
- Coloquei um ar-condicionado móvel debaixo da mesa.
- Caramba, Ezequiel! Se você se esmerasse no serviço como se esmerou neste trote, já era presidente da empresa.
- Já vem você de novo, Oliveira!
Foi a vez do Oliveira rir também, encabulado.
- Força do hábito.
- Bom... Agora, que a festa acabou, eu vou pra casa. Vocês voltem ao trabalho. - disse Alvino, saindo.
Tão logo ele virou as costas, foi a vez de Ezequiel anunciar:
- Eu vou é tirar um cochilo. Qualquer coisa, você me chama.
- Pô, Ezequiel!
- “Pô” digo eu. Essa brincadeira deu o maior trabalhão. Tô morto!
- Tá! Vai lá! Depois de tanta agitação, acho que não vai acontecer mais nada por aqui, hoje e... Opa! O que foi isso?
- Isso o quê?
- Nada... Pensei ter visto alguma coisa na câmera 19.
- Impressão sua. Tá tudo normal lá.
- É... Devo ter ficado meio paranóico depois da brincadeira de vocês.
- Deve ser. Relaxa. Vou nessa.
- Beleza. - disse Oliveira, recostando-se na cadeira, em frente aos monitores.
Enquanto isso, na sala de reuniões do terceiro andar, um casal trocava suas primeiras carícias:
- Lembrou de colocar a foto da sala na frente da câmera? - perguntou ela, lânguida, entre beijos.
- Sim, meu amor, fique tranquila. Mesmo sabendo que agora ninguém pode nos ver, não esqueço nunca mais.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Pelo Circuito Interno de TV
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/pelocitv.htm
Imagem daqui.