Morrendo para estar vivo - Capítulo 5 O Castigo

-Jô, o que você fez com o Bruno? O garoto está na enfermaria até agora!

Maria Antonieta era a sua única amiga, uma loirinha de cabelos lambidos e sardas nas bochechas que vivia enfiada nos livros. Joana gostava dela, era discreta e sincera, qualidades que ela apreciava em um ser humano.

-Não fiz nada demais, ele é um frangote.

Maria Antonieta a encarou por breves segundos com seus grandes olhos azuis, mas não demorou muito para voltar a se distrair com o caça palavras que tinha presente em mãos.

Adorava isso na amiga, não persistia muito tempo em um assunto.

Assim como ela, vivia no orfanato Doce Lar, se conheciam há anos, diferente de Jô que crescera ali, Maria Antonieta ou Ma para os íntimos como Jô, chegou ao orfanato com sete anos, quando seus pais sofreram um acidente de carro e faleceram, não tendo com quem ficar a garota foi encaminhada para lá, ficando deslocada por muito tempo até Joana resolver ir conversar com ela e desde então não se largavam.

Elas andavam lentamente pela calçada em direção ao orfanato que ficava há poucas quadras do colégio Santa Rita, o único que aceitava as garotas por fazer parte da igreja que também cuidava do Doce Lar, Joana estava séria, mas Maria Antonieta sequer notou alguma coisa, andava aos tropeços, completamente focada na revistinha em mãos.

-Boa tarde meninas, como foi a escola hoje?

Dona Albina, uma freira já idosa as esperava na porta do orfanato com um sorriso nos lábios, o rosto simpático e bondoso conquistava qualquer pessoa.

Joana passou pela simpática senhora sem nada responder, o rosto carrancudo.

Ouviu a porta atrás de si fechar e cerrou os olhos, sentiu o deslocamento do ar e logo em seguida a dor.

Os punhos cerrados, os dentes pressionavam os lábios fortemente, os olhos cheios de lágrimas.

-E eu espero que você não me de mais trabalho, sua imbecil!

Sentiu a dor na lombar novamente, o cabo da vassoura descia com violência em suas costas.

-Você acha que tenho tempo pra ir à escola resolver seus problemas? Se o diretor ligar novamente aqui você vai ver o que é bom!

A velha vociferava enquanto castigava a garota que já estava caída de joelhos no chão.

-Deixe ela madre, por favor, ela já recebeu seu castigo!

A pobre Antonieta chorava, tentando tirar das mãos da decrépita o cabo de vassoura, sendo acertada fortemente na cabeça.

-Ah! Por favor, pare, eu imploro!

A garota estava aos prantos, suplicando de joelhos para a cruel mulher.

-Já pro quarto, não quero ouvir um piu de nenhuma das duas, sem janta hoje!

A baba escorria dos lábios da idosa, como quem saboreia o momento.

Maria Antonieta apoiava a amiga nos ombros, bochecha cortada pela tentativa de arrancar a vassoura da mão da mulher, mas ela não ligava, só queria tirar a companheira dali o mais rápido possível.

continua...

Jéssica Curto
Enviado por Jéssica Curto em 30/06/2013
Reeditado em 01/07/2013
Código do texto: T4365780
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.