a estrada - parte 1
Deparo-me com uma estrada deserta e cheia de sombras. A noite está fortemente linda e a curta neblina que se forma no asfalto me permite, bondosamente ver os vultos escondidos atras das pequenas plantas que cercam toda a estrada. Eles não me tocam.
Vou andando vagarosamente por este frio asfalto que me leva ao norte. Vou ansioso, mas com receio. Vou me enchendo de nervos. Flutuando com o ar úmido que começa a formar-se tão devagar, tão leve.
Ouço vozes cintilantes, chamativas, vozes lindas com ópera, rodeando-me de longe. Vozes de sereias ou damas da noite vindo ao meu encontro. Falando-me ao pé do ouvido, lembrando-me do ser imparcial, específico, raro que eu me tornei. Lembrando-me de quão especial sou, levando-me pela escura e fria estrada deserta.
Estas vozes saciam-me, valorizam-me, me deixam apaixonado, mas ao abrir meus olhos, deparo-me com o além. Nada além do seco vazio, ar que preenche o vácuo da escuridão. Não as acho. Mulheres de vozes inocentes, ingênuas, indefesas, doces. Mulheres de vozes maduras, líricas, vulgares até, por assim dizer e digo mais. Vou continuar minha busca ou minha caminhada, mudo, ansioso...