Vermelho

Era vermelho. Ela olhava atônita para suas mãos e para o líquido vermelho viscoso nelas. O ar entrava com dificuldade em seus pulmões e o sol que adentrava da janela feria seus olhos. Sua cabeça doía e o mundo girava tal qual um carrossel.

Olhou em volta. Tinha que arrumar o quarto em menos de uma hora. A cena da noite anterior passava em sua mente como um filme em preto e branco: a voz dele, aquela voz arrastada com sotaque sulista, o pedido:

- Uma última dança, Carol. Por tudo o que já passamos.

Sim, ela aceitou. E sim, aquela havia de ser a última dança. Enfeitou os cabelos com flores perfumadas e do busto pendia um colar dourado de coração; para preencher o buraco interno. Depois, o motel. Um motel pobre de beira de estrada.

A dor a consumia, as lembranças gritavam em sua mente, gritavam tão alto, que nem os gritos do prazer carnal eram ouvidos.

- A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos. – ele disse. Ela riu.

- Não... dessa vez você está errado. A tempestade é vermelha.

E o vermelho jorrou. A tesoura afiada entrou rasgando a carne branca e macia do homem, na altura da costela. Mais golpes, mais vermelho. A visão dele ficou turva, a dor fazia-o perder os sentidos. Os sons ao redor foram se perdendo e... escuridão.

Numa caixa cor-de-rosa, com um laço lilás, jazia um coração. Outrora pulsante, agora inerte. Era como se o barulho que a incomodava há anos, tivesse sido finalmente silenciado. Ela caminhava satisfeita, repetindo essas palavras, como uma espécie de mantra: você me matou antes.

Carol Santucci
Enviado por Carol Santucci em 27/05/2013
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