Ver capítulo I - O Sangue
Ver capítulo II - Criador e Criatura
 
O Enigma do Diário

Capítulo III: A Revelação



 
Dia 15 de maio será o dia. Sua existência já tinha sido programada, a criatura já sabia o momento de ir desde que chegou pela primeira vez. Estarei aqui para me despedir. É assim que faço com todas as outras.
 
Foi o que o homem leu no dia anterior, 14 de maio. Caminhava em direção à praça, sozinho, ansioso. Finalmente veria criador e criatura. Escondeu-se atrás de uma árvore próxima ao local para que ninguém o visse. Ao olhar para o banco viu a senhora. Era de se imaginar, pensou, porem não esperava pelo que estaria por vir.
 
- Terminamos? - perguntava a senhora, calmamente.
- Sim. - respondeu Gabriel, no mesmo tom, sentando-se ao seu lado.
- Você sabe que seu pai está aqui, não sabe?
- Sim. Ele sabe que você é a criatura. O criador é seu acidente de percurso.
 
Ambos riram sorrisos melancólicos. Olhavam para uma fogueira que crescia a sua frente.
 
O sol e a fogueira, ele celeste e ela terrena. O calor emanado por eles encontrava a brisa, e juntos dançavam uma valsa quente e sinuosa. Deles nasceu o vento, o filho pródigo. Arrancava da natureza tudo que nela não podia se firmar. Trazia consigo folhas secas que voavam em torno dos brinquedos da praça. A balança ganhava impulso e o rangido da ferrugem uivava em tom de despedida.
 
- Vá - sussurrou Gabriel beijando a mão da senhora.
 
Ela caminhou em direção à fogueira até não ser mais vista. As chamas, que se fecharam em forma de cortina, estavam em vermelho-sangue e cresciam cada vez mais. A voz dela ecoava no ar:
 
As pessoas dizem que certas histórias são tão reais que os personagens podem ganhar vida.
 
O homem assistia a tudo aquilo totalmente passivo. O filho continuava no banco, e permaneceu ali até a fogueira baixar. Aos poucos, o vento cedia à brisa, que também foi perdendo sua força. As folhas, ainda mais secas, repousavam no chão. O pêndulo do balanço não mais se movia.
 
 

 
***
 
O rangido deu lugar ao silêncio.
O silencio deu lugar à solidão.

 
Márcia Jordana
Enviado por Márcia Jordana em 25/05/2013
Reeditado em 18/03/2014
Código do texto: T4308476
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