Abismo do Elfo

At night in the village the Watchman cries:

Elef'n!

A tiny elf was asleep in the woods —

At around eleven! —

And thinks the nightingale was calling him

By name, from the valley,

Or that Silpelit had called him.

He rubs his eyes a while

And stands now before his snail-shell house

Like a drunkard would,

His nap over too early,

(...)

Elfenlied - Eduard Friedrich Mörike

Apesar do barulho dos trovões, a chuva não estava tão forte, porém era suficiente para agitar a embarcação antiga; iluminada por apenas uma lamparina segura no pequeno mastro localizado na proa. O pequeno barco a remo sacudia de leve ao ritmo das ondas, e as gotas da chuva respingavam por toda a sua superfície. Um pequeno rádio a pilhas tocava uma música folk bem antiga quase indistinguível pelo ruído da transmissão.

- Com licença – Carid tentava chamar a atenção do homem e da mulher em sua frente – estamos chegando?

Ambos pareciam não o ouvir, ou estavam apenas ignorando suas palavras. Conversavam entre eles. Era como se só houvesse os dois. O homem prosseguia remando de costas à proa, enquanto a mulher, sentada em sua frente, ficara de costas para Carid.

- O sinal aqui é péssimo...

- Pois é.

- Não sabia que gostava desse tipo de música.

- Todos falam isso. Não entendo a razão.

- Acho que não combina com você – Ela aumenta o volume de sua voz devido aos raios – Acho que é o seu rosto.

- O que tem o meu rosto?

- Nada...

- A Dra. Labece também gosta, para a sua informação.

- Bom, ela é mais velha...

- Há! Então é isso o que quis dizer com meu rosto? – Ironiza – Obrigado.

Um rápido silêncio toma conta do barco - agora só se podia ouvir a chuva colidindo contra a superfície da água e da embarcação. A chuva havia piorado. Após o breve momento de reflexão, ambos voltam a conversar sobre o Labece e sua vida pessoal; nada que interessasse. Carid observa surgir da escuridão da noite e da chuva, uma praia com um píer de madeira velha e escura. Logo em frente havia um moinho feito de pedra e madeira.

A embarcação é cautelosamente atracada ao píer. O homem que o transportara retira uma pequena mala de um compartimento embaixo de seu assento. Enquanto ele desembarcava, os dois voltam a conversar e a desamarrar o barco da tora de madeira.

- Ele vai ficar bem sozinho?

- São apenas alguns metros, não tem erro.

A embarcação, com os dois, se afasta lentamente de Carid até desaparecer por entre a chuva; deixando para a vista somente a pequena luz da lamparina que sacudia ao ritmo das ondas.

Vasculhando a mala, Carid acha o que parecia uma foto antiga, alguns documentos e um relógio de bolso quebrado. Os ponteiros marcavam exatamente onze horas. Ele pega o relógio e o guarda – devolve então rapidamente os documentos para dentro, com medo de serem arruinados pela chuva. No entanto a fotografia o intrigava. Não havia ainda visto o que nela continha, pois a tirara da mala de face para os documentos. Atrás havia uma dedicatória em letras bem caligráficas e complexas de ler no escuro. No desespero de não estragar os documentos, um vento forte se aproveita de sua distração para levar a foto de sua mão direto à água. Resmungava para si, enquanto a foto se perdia pela oscilação da água. Com sua mala segura entre seu braço e tronco. Com o sobretudo impedindo que seu corpo se molhasse ainda mais, Carid começa sua caminhada para o único caminho que se podia ver pela ínfima iluminação de lamparinas improvisadas.

Enquanto lutava para enxergar onde estava indo, fazia um esforço semelhante para se equilibrar a passos rápidos no chão de madeira molhada. Parecia estar se saindo bem, mas o escuro lhe pregaria uma peça; o desnivelamento entre o final do porto e do começo da estrada de terra o fazem cair e bater a cabeça em uma pequena pedra. Enquanto se esforça para continuar consciente, uma melodia que vinha do desconhecido começara a crescer e tomar forma. Parecia uma música antiga de criança tocada em vitrola. Junto a ela, todo o ruído da chuva cessava gradativamente, deixando somente um estranho som do balançar de uma corda bem esticada e rígida. Sua cabeça doía e latejava, e sua vista o falhava. Juntamente de seu foco que voltava gradualmente, a melodia e o ruído isolavam agora todo o ambiente. Carid levanta sua cabeça, e vê uma menina de aparentes dez anos completamente sem vida. Seu corpo, sustentado no ar por uma corda amarrada em seu pescoço, balançava lentamente. A menina usava somente um vestido branco e um par de meias de mesma cor. A chuva não parecia lhe atingir. Paul tenta toca-la, mas sua mão trêmula não chega a menos de alguns centímetros do corpo. Hesitante, Carid fecha seus olhos e rasteja para trás até tomar uma pequena distância da menina. Ao abri-los, a música cessara e a menina havia desaparecido.

Uma figura alta e de orelhas pontudas surge em sua frente e lhe ajuda a levantar. Segurando sua bela e delicada mão, é puxado para cima com uma força surpreendente, mas confortável.

- Onde estou?

- Orplid – Responde o indivíduo de voz suave – Isso pertence a você.

- Isso tudo é meu? É tão bonito... Mas ao mesmo tempo, triste.

- Você deve entrar no moinho agora. Weyla está a lhe esperar.

A figura o guia, de mãos dadas, até a porta do moinho, onde o deixara e retornara para a densa escuridão até sumir completamente da vista. Paul empurra a porta de madeira do moinho, até que se abra parcialmente. Uma luz forte emana de dentro, tornando impossível enxergar qualquer coisa em seu interior. Ele se esgueira para dentro, e a forte branquidão em sua vista vai lentamente se transformando em formas distinguíveis de móveis e um quadro pintado a óleo de uma mulher bem caricata.

Dois seres similares ao de outrora o esperam por um breve período de tempo ao lado de fora do moinho.

- Como foi com a Labece hoje, Paul? – Pergunta a figura do seu lado direito – Espero que tenha apresentado melhora.

Os dois se entreolham e o levam até uma pequena casa feita de madeira de avelã ao sul da ilha. Ele manca, e anda lentamente. Ao entrarem, um dos elfos começa a arrumar a cama, enquanto o outro bloqueia a porta. É requisitado que deitasse na cama - um dos seres finca uma adaga em seu braço. Podiam-se ver vagalumes por todo o teto.

- Que luzes lindas – balbucia – Eu queria poder dar uma olhada mais de perto.

- Acho que ele nunca vai se recuperar daquele acidente – Um dos seres fala ao outro – Ele ainda foge das memórias.

- Já teve o bastante, não? – Diz o outro para Paul – Hora de acordar.

Paul acorda em uma sala branca, deitado em sua cama. No criado-mudo ao seu lado havia um porta-retratos com o seu rosto, o de uma pequena menina sorridente de vestido branco, e uma mulher. Da pequena abertura no meio da porta, se podia ver o rosto de um homem que o espiava claramente.

- Cuckoo! Cuckoo!

Diz o enfermeiro.