GARGALHADAS NA NOITE
Era uma noite escura e chuvosa. O aspecto sombrio me inspirava estranhas ideias. Como um ser enigmático, saí pelas ruas molhadas e desertas; parecia uma cidade fantasma. Nem o medo, nem o frio, amenizavam minha sede de vingança ou talvez minha ânsia pelo cheiro da minha presa. Como uma serpente esguia e lentamente penetrei no casarão. Silenciosamente dei passos leves, me esgueirando parede por parede até chegar ao covil do monstro. Por três anos esperei... Calada, paciente, com a mente voltada para um único e marcante objetivo. Um silêncio sombrio invade o lugar, interrompido somente pela minha respiração... Ardente, áspera, marcada por uma ânsia de morte. Meu coração parecia a ponto de explodir. Mas logo o silêncio se vai. Conheço bem minha presa, me aproximo, a morte canta sua fria e macabra canção. Olho para ele... Ele não se mexe, apenas olha para a insignificante criatura que sou. Não há o que temer. Sou apenas uma figura minúscula. Ele quer estraçalhar-me como fez com tantas outras pequenas e delicadas figuras; Mas não estou com medo, não mais me assusta. Minha pulsação diminui, minha respiração fica mais pausada, embora não menos áspera. Com o coração em chamas quero atacar, mas por enquanto... Só observo. De repente me movo rapidamente, mas meus movimentos não são ameaçadores, calma, serena, pacífica até. Sem o menor sinal de medo, com um rápido movimento a lâmina corta.
A dor explode sobre o doce silêncio. Ele quer a paz e o silêncio de volta; Mas eu não. Ele fez meu mundo retroceder atrás de sua abominável máscara. O monstro se contorce todo como se seus membros não mais lhe pertencessem. Há somente sangue e dor. As imagens me confundem momentaneamente. Então, como se saboreasse o cheiro doce do sangue de minha presa,danço, sentindo um prazer único e incompreensível.
Quando num grande susto... Acordei! Suada e assustada com o barulho da chuva que batia com força na janela. Peguei-me dando gargalhadas na noite.