Matar; matar; matar.
O ruído crônico deste som não saia da sua cabeça. Uma voz insistente teimava em balbuciar aos meus ouvidos: matar; matar; matar. Era noite escura de outono. Uma chuva fina molhava o asfalto afugentando as pessoas e insistia em não parar. O vento que soprava trazia um frio que lhe causava mal. Aquela temperatura baixa lhe produzia um incomodo constante. Seu ombro direito de homem cansado e já bem vivido apresentava pontadas agudas que lhe fazia gemer.
Um gosto de sangue alimentava seu paladar, ele sabia o que representava aquele estado. Sabia que precisa alimentar o seu desejo mórbido de ver uma vida se esvair, abruptamente, sem nem mesmo saber porquê. Levantou-se foi até um armário, abriu uma gaveta trancada a chaves e de lá tirou um velho Tauros calibre 38, sem identificação, ao manusear aquele objeto lúgubre sentiu seu sangue jorrar nas artérias e seus olhos acenderem aquela luz letal de morte.
Verificou o tambor da arma, estava completamente carregada com os seis projeteis, examinou amiúde e deixou a vista encima da cômoda da sala. Foi até a janela olhou o tempo lá fora, balançou a cabeça, negativamente, pois a chuva fina insistia. Vestiu-se numa roupa escura combinando com aquela noite que seria decerto sua cúmplice. Voltou-se para a arma, segurou carinhosamente, aconchegou com carinho junto ao seu corpo camuflando a existência dela.
Homem alto, corpulento e musculoso, pesando em torno de 92 quilos: próximo aos seus 1.90m de altura. Chamava atenção pela sua elegância e gesto galante, cabelos e olhos negros adornando um rosto europeu. Barba negra bem aparada e sobrancelhas cheias e grossas. De perto um olhar cativante de lobo traiçoeiro que se apóiava no seu sorriso largo.
Matar; matar; matar. O apelo rasgava seus tímpanos de dentro para fora ao passo que ele perambulava à revelia pelas vielas escuras caçando uma presa fácil-aleatória, que pudesse alimentar seu desejo desgraçado de destruir. Eram duas horas da madrugada, a cidade dormia já pensando no amanhã. Poucas pessoas circulavam devido a chuva insistente. Um lume de brasa brilhou ao longe numa avenida longa; era ele tragando seu cigarro costumaz á espreita esperando o alimento da sua ânsia.
Gostava de esperar, ficava horas a fio, às vezes nem atuava, nem entrava em ação, por que procurar não tinha sentido para ele; gostava mesmo era de ser achado. Tinha certeza de que não voltaria para casa sem êxito naquela noite. O seu extinto de predador lhe proporcionava esperança de morte. Percebeu que alguém caminhava na sua direção, seu corpo se agitou, o coração bateu mais forte. Estava chegando a hora de se livrar daquela tortura miserável. Ajeitou a arma deixando ao alcance da mão. A pessoa caminhava sem pressa, sem compromisso, parecia que não ia a lugar nenhum, que queria apenas esta ali até chega ao seu destino: quem sabe? Era uma eternidade a demora daquele encontro, parecia não ter fim aquela espera.
Até que foi abordado por um homem que trazia um cigarro apagado por entre os dedos.
O senhor tem fogo? – perguntou. Tenho: apontou a arma e disparou a queima roupa Têêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê. O estampido perfurou a madrugada e deixou aquele homem ali caído com a cara desfigurada e sem vida: morto.