VELHA RANZINZA
Sempre acordo mal humorada, aliás, estou sempre mergulhada neste estado de espírito. Pela manhã é pior, fico ranzinza com tudo e todos ao lembrar que ontem estive na mesma situação.
Não fui uma criança feliz, perdi cedo meus pais, não tive irmãos bem sucedidos que pudessem me ajudar, não casei, não tive filhos. A natureza não me presenteou com um rosto bonito nem tão pouco com um corpo escultural.
Na peleja pela vida conheci apenas desprezo. Bem cedo aprendi a pedir e a maioria das vezes me foi negado. As poucas vezes que recebi foram sobras das mesmices da vida.
Aos 15 anos presenciei a morte da única pessoa que apenas gostei, e aos 20 pensei amar, me enganei e fui abandonada.
Subi a ladeira, fui na venda comprar. Doia-me metade dos ossos. O diagnóstico dado pelo Dr. Lázaro foi osteoporose avançada, sem cura. Disse que é pra beber bastante leite. Bebo leite, mas as dores não me deixam.
De volta da venda encontrei Batista sentado na calçada. O Velho é amaldiçoado como eu. A única diferença é que naquele fim de mundo ainda lhe resta um pouco de esperança. Como todas as vezes trouxe consigo umas ervas que nem sabe como se chamam. Disse como em todas as vezes que vai me curar, que melhorou e que lembrou de me trazer um bocado. Sorri expondo-lhe os cacos.
Na gaveta da mesinha velha da pequena sala da paupérrima casa estão todas as ervas, finge que não sabe que ainda estão lá, até que hoje resolveu revelar a descoberta.
---- num miôro das dor purque num tomô as erva que truxe.
Ranzinza como sou não dei resposta. Recolhi as ervas, misturei todas e fiz um chá. Dei-lhe pra beber, fingi beber também e juntas com ele todas as suas dores se foram.
Não fui uma criança feliz, perdi cedo meus pais, não tive irmãos bem sucedidos que pudessem me ajudar, não casei, não tive filhos. A natureza não me presenteou com um rosto bonito nem tão pouco com um corpo escultural.
Na peleja pela vida conheci apenas desprezo. Bem cedo aprendi a pedir e a maioria das vezes me foi negado. As poucas vezes que recebi foram sobras das mesmices da vida.
Aos 15 anos presenciei a morte da única pessoa que apenas gostei, e aos 20 pensei amar, me enganei e fui abandonada.
Subi a ladeira, fui na venda comprar. Doia-me metade dos ossos. O diagnóstico dado pelo Dr. Lázaro foi osteoporose avançada, sem cura. Disse que é pra beber bastante leite. Bebo leite, mas as dores não me deixam.
De volta da venda encontrei Batista sentado na calçada. O Velho é amaldiçoado como eu. A única diferença é que naquele fim de mundo ainda lhe resta um pouco de esperança. Como todas as vezes trouxe consigo umas ervas que nem sabe como se chamam. Disse como em todas as vezes que vai me curar, que melhorou e que lembrou de me trazer um bocado. Sorri expondo-lhe os cacos.
Na gaveta da mesinha velha da pequena sala da paupérrima casa estão todas as ervas, finge que não sabe que ainda estão lá, até que hoje resolveu revelar a descoberta.
---- num miôro das dor purque num tomô as erva que truxe.
Ranzinza como sou não dei resposta. Recolhi as ervas, misturei todas e fiz um chá. Dei-lhe pra beber, fingi beber também e juntas com ele todas as suas dores se foram.