Um grito na escuridão
Um grito na escuridão acordou toda a vila. Todos já o conheciam. João Mauro que era de fora não o conhecia. Um frio rasgou suas entranhas e o arrepiou por inteiro. Levantou lentamente devido à escuridão do seu quarto. Uma espessa névoa tomava todo o vilarejo. Sair com certeza não o faria, mas a curiosidade era grande. Dali por diante não dormiu mais. Várias memórias lhe vinham à cabeça. O trabalho exaustivo e quase que escravo o fazia trabalhar sem parar. Várias desilusões amorosas se sucediam como um maldição. Também uma crise financeira mundial levara todas suas economias. A depressão há pouco curada era seu único trunfo. E tudo isso passava em sua frente fazendo-o esquecer aquele assustador grito. Logo o sol nasceu. João levanta, lava o rosto em frente a um espelho antigo. Uma mão lhe toca às costas. Sem nada entender, vira-se rapidamente. Uma assustadora imagem lhe tolda os sentidos.
Logo na noite seguinte, um novo visitante da vila é acordado novamente por um grito mais assustador que da anterior, em uma noite iluminada de lua cheia. Sem nada entender mira da janela uma figura que vaga a esmo por inóspitas ruas de paralelepípedo. Aquela figura lhe parecia conhecida. Podia ser seu amigo João Mauro que ficara de lhe esperar para fecharem negócios na cidade e que estranhamente não estava no hotel lhe aguardando. O homem sai à rua atrás de seu provável amigo. Devido a este andar vagarosamente ele o alcança. Ao alcançá-lo ele põe sua mão sobre seu ombro. Este para. Um breve segundo de silêncio se sucede. Sem se encararem o homem que vagava a esmo solta um horrendo grito. Envolvido pelo medo do grito o homem retorna ao hotel em um frenesi tremendo não conseguindo dominar seus sentidos e movimentos. João Mauro, ninguém mais o viu. O grito toda noite de lua cheia se sucede, cada vez mais assustador, porém ninguém mais sumiu daquele misterioso vilarejo, em que as pessoas que moram ali juram nunca mais tê-lo ouvido.