A NOIVA SINISTRA

Por josafá Bonfim

Moradores da pequena cidade viviam assustados com o fato misterioso que vinha se repetindo. Dentre os mais alarmados estavam os que transitavam à noite pelas ruas. Devia-se ao mistério de nas sextas-feiras, quando noite de lua cheia, uma jovem mulher vestida de noiva aparecia fazendo penitencia, dando voltas ao redor do templo da igreja católica na cidade. De cor bem alva, trajava-se num longo vestido branco, com o rosto coberto por fino véu da mesma cor, trazendo à mão uma vela acesa. Esse espectro gerou assunto corrente e inquietante no lugar. Ninguém mais queria ficar até tarde da noite na praça, com medo de deparar-se com a assombração. Madrugadores de diversas profissões mudaram de caminho deixando de passar pela praça da igreja, que era o corredor principal da cidade. Amantes e namorados tiveram que mudar de hábito, retornando cedo pra o recato de suas moradas. As poucas casas de diversões noturnas, quase foram à falência devido à falta de frequentadores, que assustados, preferiam não arriscar sair de casa em horário tardio. Um verdadeiro dilema passou a incomodar a pequena e pacata comunidade. Todos questionavam: como lidar com a situação; alguma providencia deveria ser tomada, haja vista o fato dos ocupantes dos poderes, quando existentes, morar fora da sede, não tendo, portanto, a quem a população recorrer. Até o vigário esquivava-se quando abordado sobre o mau presságio.

Mas, em todo certame existem sempre os mais ousados e destemidos. Uma tríade de “biriteiros”, sentindo-se também prejudicada, entende tomar uma atitude para desvendar o enigma, e por fim à celeuma. A encorajada equipe era composta por três jovens de boa família, bem relacionados na cidade, e useiros em varar a noite nas rodadas de bebedeiras. E como dito, se achavam incomodados. Aquilo era um estrupício para suas andanças e farras fora de hora pelos arrabaldes da cidade.

Programaram-se, e quando cessou a movimentação de pessoas na praça, entocaram-se entre alguns arbustos de uma área com vegetação espessa, contígua ao terreno dos fundos da igreja. Claro que para a façanha, estavam anteparados por bons tragos da “marvada”, e ainda traziam consigo uma garrafa em uso, para servir como “amuleto” no reforço dos nervos.

Corria a terceira noite de tentativa para desmascarar o fantasma. E não tardaram por esperar... Em dado momento, observam a sombra de uma criatura, que saiu dos terrenos ermos no fundo da igreja, numa parte contraria a que se encontravam. Espreitaram a trajetória da figura feminina, os trajes, a vela acesa, e não tiveram duvidas: era “ela”, sim. Numa rápida ação tática posicionaram-se num canto da igreja, no sentido inverso ao que a criatura vinha trilhando. Encaixaram-se no vão largo de uma das portas do templo, instante em que começaram a sentir temor e arrepios. Um deles tentou encima da hora desistir, sendo severamente repreendido pelos demais; aquele não era mais momento pra desistência, nem questionar o assunto. Quando a criatura dobra o canto da igreja, os obstrutores se lançam sobre ela, que num giro brusco tenta desvencilhar-se para fugir, mas não houve tempo; foram mais rápidos, pegaram-na pelos braços, sendo obrigados a usar de força física para contê-la, por tentar de todas as formas escapar do cerco, sem deixar mostrar o rosto. Inútil... Os destemidos não estavam mesmo para brincadeira: tiram-lhe o véu que lhe cobria a face, quando então é revelada a identidade oculta, instante em que acuada passa a dirigir-lhes uma séria de ofensas, com xingamentos, esconjurando-os, e rogando-lhes as mais terríveis “pragas”.

Estava, enfim, desvendado o mistério: tratava-se de uma jovem e bela mulher libertina, que morava nos arredores da cidade. O motivo daquela penitencia, não se chegou à revelação. Sabe-se que pouco tempo depois a moça veio a falecer num trágico acidente de automóvel. Quanto ao destino dos rapazes: Um, que era funcionário de uma empresa estatal, foi demitido do serviço pouco tempo depois. O outro deixou a cidade sem nunca mais retornar a ela, não dando mais noticia. E o terceiro integrante daquela astúcia, entregou-se por completo ao vicio da embriaguez alcoólica, destruindo uma vida promissora. Desvendado o enigma... Mas a partir de então, pairou uma gama de mistério sobre a sorte das pessoas envolvidas naquele sinistro.

São Luís/MA, 27 de janeiro de 2013

josafá bonfim
Enviado por josafá bonfim em 27/01/2013
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