* SHAW DARKHOLME: ELO SOMBRIO
Téss folheava o jornal naquela manhã, e uma noticia despertou seu interesse, ficou olhando para as fotografias dispostas no noticiário, que mencionava uma série de assassinatos cometidos nas última vinte e quatro horas, crimes cruéis, que merecia a atenção do poder público e da comunidade em geral, levantou da cadeira e foi até a janela, ficou pensativa olhando para fora, imaginando qual propósito havia naquela série de crimes, depois do banho, e de escolher a roupa no guarda roupa, dirigiu por vinte minutos até o escritório do jornal onde trabalhava há dois anos, atravessou todo corredor, e sentando em frente a mesa do diretor de jornalismo, disse:
- Bom dia!
- Quero esse caso para mim...
- Bom dia, que caso?
- Dos homicídios...
- Não mesmo, tenho repórteres empenhados nessa estória.
- E você não possui experiência em acompanhar esse tipo de situação.
- E não posso simplesmente enviar você para cobrir essa matéria.
- Por favor, eu preciso...
- Precisa, não estou entendendo esse interesse súbito...
Téss permaneceu em silencio, realmente nunca gostou de cobrir matérias como aquelas, lidando com aquele tipo de situação comum, mas era um desafio, principalmente por que ninguém havia mencionado nada nos jornais que pudesse esclarecer a situação, foi quando o diretor de jornalismo levantou da cadeira, e colocando a mão no ombro dela, disse:
- Por que não vai cobrir aquela matéria sobre intercambio estudantil...
- E caso precise de outro repórter prometo lembrar de você.
- Ah não, diretor! Por favor!
Téss levantou da cadeira, estava nervosa com a resposta negativa dele, mas simplesmente não poderia passar por cima de uma ordem da chefia direta, saiu da sala em silencio, e sentou diante do computador, avaliando as informações sobre o caso, foi quando lendo o endereço do apartamento da jovem suspeita pelos crimes lembrou de algo, embora nunca houvesse estado no local. Apanhou a bolsa e saiu, não que fosse intempestiva, mas naquele momento, parecia haver sido inspirada por uma força, e dirigiu cerca de uma hora até chegar a cidade, parou em um posto de gasolina, e antes que pudesse fazer qualquer pergunta, um jovem caminhou em sua direção e indagou:
- Bom dia, parece deslocada, posso ajudar?
- Bom dia, preciso localizar um amigo nesse endereço, conhece?
- Nesse endereço, tem certeza?
- Sim, é caso de vida ou morte...
- Bem, fica do outro lado da cidade.
- E não deve saber o que está acontecendo, não é?
- Sobre o que está falando?
Tess fingiu não saber o que ocorria, mas o jovem permaneceu em silencio, apenas observando a jovem que com um sorriso sedutor esperava uma resposta. O jovem sorriu, e debruçou na janela do veiculo, téss era uma mulher atraente e elegante, possuía traços delicados e delineados, e por vezes utilizava do charme natural para conseguir alguma coisa, e sorrindo disse:
- Será que vou ter problemas em localizar o local?
- Não, mas caso queira posso ir com você...
- Não, agradeço...
- Tudo bem, depois do viaduto, siga pela auto estrada...
- No desvio sinalizado entre a direita...
- E vai estar bem mais próximo do local.
- Obrigado, tenha um bom dia.
- Bom dia.
Téss seguiu a orientação do jovem, e não foi difícil localizar o endereço, era um velho prédio, com fácil acesso por não haver porteiro ou vigia, e subiu pelas escadas até o andar, permaneceu diante da porta durante alguns momentos, hesitando em entrar, mas curiosamente, abriu a porta e entrou, tudo estava completamente fora do lugar, parecia que houve uma luta, mas poderia ser apenas a ação dos investigadores, procurando por indícios que conduzisse ao criminoso, entrou pelo apartamento, e foi direto ao quarto onde Alexia havia sido encontrada morta, ainda havia resquícios de sangue no colchão, que poderia significar que Alexia havia sido morta em sua cama, ficou olhando atentamente, e curiosamente abriu uma gaveta, de onde caiu uma agenda preta, começou a folhear as páginas, e deparou com um desenho, talvez feito pela vitima, aparecia um vulto, e téss, lembrou de haver visto aquele desenho em algum lugar.
Anya permanecia internada, e os investigadores começaram a tentar unir os pontos, havia informações desencontradas, a jovem mencionava um “estranho” que ninguém havia visto, e que poderia ser mesmo o criminoso, mas não havia impressões digitais para avalizar todo contexto. Téss, pensou em ir fazer uma visita a jovem, ou quem sabe ao instituto prisional, onde poderia coletar informações, mas preferiu ir ao necrotério, onde certamente teria chance de conversar com alguém que estivesse investigando ou realizando perícias nos corpos. Ao começar a descer as escadas sentiu como estivesse sendo observada, uma sensação estranha, que fez todo seu corpo arrepiar, mas poderia ser algum morador do edifício, assim ignorou e continuou descendo, mas cessou os passos, ouvindo ruídos ecoando pelo corredor, e uma voz rouca, murmurou, como quisesse falar diretamente com ela, e ficou em silencio, mas não conseguia compreender nada, parecia um sussurro, ou o ruído do vento, que fez seu corpo estremecer, em uma sensação sombria.
Apressou e ao chegar a rua, voltou sua atenção para o interior do edifício, e pareceu ver uma sombra através da porta de vidro, ficou observando, e o vulto desapareceu. Téss sentou na direção do veiculo, e ficou pensando que poderia ser verdade tudo que a psicóloga Anya havia mencionado, deveria mesmo estar sendo seguida, e o criminoso poderia estar retornando a cena do crime principal, talvez imaginando que escontraria Anya desprotegida, e pudesse terminar o que havia começado, foi quando decidiu ir ao hospital, faria uma visita a Anya, assim poderia esclarecer alguns fatos, principalmente saber o que havia de verdade sobre o “estranho” que a psicóloga imaginava estar vendo, e que Tess também imaginou ver através da porta de vidro.
Ao chegar ao hospital, teve alguma dificuldade de chegar ao quarto de Anya, devido ao número de policiais, que agora assegurava a vida da psicóloga, ao entrar no quarto, olhou para a jovem, completamente anestesiada e medicada, que não conseguia formalizar um raciocínio sequer, seria impossível obter alguma informação confiável de Anya, foi quando a psicóloga olhou para jornalista que murmurando disse:
- Você viu, não é?
- Você também viu não é mesmo?
Como Anya poderia saber que estivera no apartamento, no velho prédio, e principalmente como podia saber que havia visto aquele vulto sombrio, sentindo uma presença estranha, que fez seu corpo estremecer em uma sensação incomoda que persistiu durante longos minutos, aproximou da cama, e sorrindo desconfiada indagou:
- Viu o que?
- A sombra!
- Não é estranho?
Téss ficou em silencio, realmente era estranho, principalmente por que Anya não poderia saber, e ninguém sabia que havia ido ou estado no apartamento antes de vir ao hospital, foi quando Anya disse:
- Aquele estranho estava em meu apartamento, não é?
- Você precisa contar isso para a policia!
- Eu não estou louca.
- E não sou uma assassina!
Téss fez apenas um sinal positivo com a cabeça, e abrindo a bolsa apanhou a agenda, abriu na página que havia marcado, e indagou:
- Foi isso que estava seguindo você, Anya?
- Foi isso que apareceu em seu sonho?
Anya fez apenas um sinal positivo com a cabeça, e começou a falar baixinho, Tess aproximou mais um pouco, e a psicóloga disse:
- Não volte aquele lugar.
Téss arrepiou, e Anya começou a chorar, gritar e debater, e uma funcionária do hospital entrou pela porta, tentando acalmar a psicóloga, que começou a gritar:
- Não quero ficar sozinha...
- Não foi um pesadelo...
- Não quero dormir.
- Não quero morrer dormindo.
Téss apressou em sair do quarto, segurava firmemente a agenda, havia uma ligação entre as mortes, aquele estranho poderia ser o responsável pelas mortes, mas quem poderia acreditar, não havia indícios físicos da presença de mais alguém nas cenas dos crimes, apenas coincidências reais, que interligavam os assassinatos. E coincidências que envolvia a vida daquela jovem, que agora tresloucada pela crise nervosa, debatia, enquanto enfermeiros tentando conter sua crise, ministrara uma medicação para acalmar e sedar a jovem psicóloga.
Téss deixou o hospital, e foi para um hotel, onde descobriria naquela noite, que havia sim uma razão para não querer dormir, e que agora, seria alvo daquela criatura, que ninguém acreditava existir, apenas nos pesadelos da jovem psicóloga, acometida por uma crise nervosa, e que não poderia esclarecer muito sobre tudo que acontecia ao seu redor. Quanto a Anya, ficou entorpecida pela quantidade de medicamento ministrado, que acalmara sua inquietação, mas não era suficiente para proteger a jovem de tudo que estava por acontecer nas próximas horas, e que iria ser revelado em uma noite de terror, de sangue e morte.
Após ser atendida na enfermaria, Anya foi transferida para o quarto, e por precaução havia sido designado um oficial para manter a segurança dela, a suspeita da policia é que a jovem possuía uma ligação estreita com os crimes, em duas noites, quatro mortes, com características e padrões similares, que remetia a ação de um psicopata, que possuía habilidade em assassinar com frieza. No relato confeccionado no boletim de ocorrência, Anya fazia menção a uma silhueta, e havia mencionado também que sentia estar sendo observada, e talvez por essa razão tenha sido designado um investigador e uma psicóloga forense para o caso, que horas mais tarde, visitou o quarto do hospital onde Anya estava internada temporariamente. Ao abrir a porta, Anya reparou no casal de profissionais, e a mulher educadamente disse:
- Anya, tudo bem?
- Não fique apreensiva, faremos algumas perguntas.
- Tudo bem, quem são vocês?
- Sou Anne Gray, psicóloga forense...
- e o cavalheiro ao meu lado é Charles Lighthouse!
- É um agente especial em crimes em série.
- Um agente especial capacitado para situações dessa natureza.
O agente aproximou da cama, abrindo a carteira, mostrando o documento oficial, e segurando a mão da jovem, disse:
- Não há nenhum ferimento em suas mãos...
- Isso quer dizer alguma coisa?
- Não. Sinceramente é um fato relevante na situação.
- E não vejo mais nenhuma cicatriz ou hematoma.
- O que isso quer dizer?
- Para ser sincera, nada!
- Mas espero encontrar respostas!
O agente especial apanhou a cadeira e sentou ao lado da cama, apanhou um bloco dentro da pasta, e olhando para a jovem deitada sobre a cama, disse:
- Agora quero que conte tudo para mim.
- Qualquer fato pode ser importante.
- Qualquer fato pode ser relevante nessa situação.
Anya começou a relatar, inclusive sobre o pesadelo que tivera horas antes da morte de Alexia, e que parecia estar sendo observada por alguém, e que durante a estadia na residência de Edgar, havia estado próxima da silhueta, mas não havia conseguido ver o rosto dele, foi quando o agente especial indagou:
- Não seria um namorado ciumento?
- Não.
- Podemos investigar, e descobrir...
- Se fosse, porque assassinaria Alexia?
- Por ciúmes, ou por outra razão, não é mesmo?
- Por essa razão não omita nada.
- Não, estou omitindo nada.
Anya retomou o relato, inclusive esclarecendo que o criminoso que havia sido morto no instituto prisional havia sofrido os mesmos tipos de lacerações e ferimentos, e que ninguém havia tido acesso, após o encarceramento na ala de reclusão permanente, foi quando Anne Gray, disse:
- Bem, iremos investigar...
- Mas preciso ser sincera com você...
- Não é estranho pessoas estarem morrendo ao seu redor?
Anya ficou em silencio, a verdade é que realmente era estranho, tudo começara a acontecer após aquele pesadelo, não tivera um minuto de sossego e paz nas últimas vinte e quatro horas, e o pior é que pelo teor do interrogatório, de vitima, havia a suspeita de ser cúmplice dos assassinatos ocorridos. Após a interlocução com os agentes, ficou sozinha, mas foi avisada que seria procurada novamente, e que havia um oficial do lado de fora do quarto, para segurança dela.
Anya tentou dormir, mas ficou apenas sonolenta, absorta em pensamentos, ainda lembrava dos corpos, da semelhança das agressões, e o pior, sentia que havia uma ligação com o pesadelo que tivera durante seu sono, e os fatos ocorridos na realidade. Em sua mente conturbada, tudo parecia encaixar em um organograma preciso e simétrico, onde cada peça direcionava para sua vida, e para aqueles que compunha suas relações emocionais.
Eram quase três horas da manhã, quando ouviu ruídos e burburinhos pelo corredor, do lado de fora do quarto, em seguida a energia elétrica foi interrompida repentinamente, e começou a ouvir gritos desesperados de socorro e medo. Anya não teve coragem de levantar da cama, mas ficou atenta aos ruídos, e ficou surpresa quando a porta do quarto começou a abrir, e uma silhueta surgiu em meio à escuridão, e indagou:
- Quem é você?
- O que quer comigo, maldito?
O vulto permaneceu quieto, olhando em direção a cama, os olhos vermelhos brilhando, a cabeça e o rosto encoberto por um capuz preto, e aproximou lentamente, pulando sobre a mesa, e ficando de cócoras, murmurou:
- Eu sou um pesadelo, querida Anya!
- Maldito, o que quer comigo?
- Quem é você, maldito?
- O que é você, e o que quer comigo?
O vulto ficou em silencio, apenas observando a jovem psicóloga inquieta sobre a cama, que tentava ver o rosto do vulto, que abaixando a cabeça murmurou:
- Mas estamos apenas começando, não é mesmo?
- Começando? Começando o que?
- O que você quer de mim, afinal?
O vulto afastou, ficou parado perto da porta, e saiu lentamente, Anya levantou da cama, e foi até a porta, todo corredor estava imerso na escuridão, e olhando para o chão, percebeu que havia três ou quatro corpos estendidos, e amedrontada, trancou a porta e voltou para a cama. Ficou quieta, até que a energia elétrica foi restabelecida, e começou a ouvir gritos e passos, foi quando a porta foi arrombada e dois agentes acompanhados de enfermeiros entraram no quarto, e nervosamente indagava sobre o ocorrido:
- Está bem?
- Sim!
- O que aconteceu?
- Ouviu alguma coisa?
As perguntas sucediam, e Anya não conseguia responder a todas, embora quisesse, tudo que pode fazer foi começar a chorar, e compreendendo a situação, o enfermeiro solicitou atendimento medico, e após avaliação, foi indicada uma medicação para aliviar o estresse e nervosismo. Anya foi apagando, o medicamento surtiu efeito em questão de minutos. Durante toda noite, um grupo de agentes policiais, investigadores, médicos forenses e outros profissionais, ficaram envolvidos em atuar no quarto andar, havia quatro vitimas, assassinadas cruelmente, pela complexidade e grau das agressões, as investigações deduziam que aquele crime havia sido formalizado e executado por mais do que uma pessoa, principalmente por que o agente morto, seria capaz de atuar efetivamente contra um único agressor, por ser treinado e capacitado para ações táticas. O agente Charles Lighthouse, retornou a instituição hospitalar, precisava conversar com Anya, mas estava sedada, e seria impossível obter qualquer informação dela, foi quando conversando com um profissional do hospital, indagou:
- E o que houve com paciente?
- Bem, foi medicada, estava nervosa...
- E mencionava a presença de um estranho...
- Um estranho?
- Sim!
- Insistia na presença de um estranho no hospital.
- Esse hospital tem serviço de vigilância?
- Sim. Mas houve um blecaute instantâneo.
- Blecaute?
- Sim, e pode ser que nada foi gravado.
- Quem é responsável pela segurança?
- Bem, Elliot Reys, chefe de segurança.
- Onde encontro esse sr. Reys?
- estava no quarto da paciente, antes de ser medicada.
- Depois disso, não vi mais.
- Onde fica a sala de segurança?
- No subsolo, por que?
- Tenho que falar com o sr. Reys.
O agente especial Charles Lighthouse tinha alguma esperança em encontrar alguma pista, principalmente algo substancial que conduzisse ao assassino, e embarcou no elevador, indo ao subsolo, esperava por encontrar o sr. Reys e obter algumas respostas. Ao desembarcar no subsolo, caminhou ate a sala de segurança, que estava com a porta entreaberta, e pode ouvir os ruídos e chiados, empunhou a arma e entrou lentamente, deparando com uma cena aterrorizante, o chefe de segurança estava com a garganta cortada de um lado para o outro, os olhos haviam sido arrancados e havia marcas e lacerações nos membros superiores, estava morto, como aqueles outros que agora a equipe policial colocava nos sacos plásticos e conduzia ao instituto de criminalística para serem periciados. Todos os terminais de vídeos estavam intactos, e a gravação das últimas duas horas do quarto andar estava completamente obscura pela escuridão e por uma neblina ou fumaça, apenas uma silhueta de aproximadamente um metro e oitenta surgia indo em direção ao quarto onde Anya agora dormia profundamente, completamente sedada em virtude de uma crise emocional.
O agente especial Charles Lighthouse convocou mais alguns peritos, precisava avaliar tudo que ocorrera naquela sala de segurança, agora precisava encontrar o elo para os assassinatos, e Anya certamente era um ponto em comum, entre todos os assassinatos cometidos. Mas o que aquele agente especial não sabia e iria descobrir, é que a morte possui várias faces, algumas sombrias, que quando liberta de sua prisão, busca por sangue, seja por vingança ou por justiça. E a vida dele, também seria acometida de crimes, que agora, ninguém saberia como resolver, e apenas um ponto em comum existia, a jovem psicóloga.
Anya estava mergulhada em um sono profundo, anestesiada, mas quando acordasse iria descobrir que aquelas mortes possuía algo em comum, e que conduziria de volta ao ponto onde tudo havia começado, e a partir desse ponto, todos aqueles assassinatos começariam a fazer sentido, um sentido sombrio, macabro e sanguinário.
* Damien Lockheart / 2012