* SHAW DARKHOLME: INTIMIDADE SOMBRIA ²
Anya entrou na sala do Diretor Carter, que falava ao telefone, e ao ver a jovem, fez um sinal com a mão para que sentasse em frente à mesa, Anya ficou perambulando pela sala, estava absorta em pensamentos, as lembranças do sonho da noite anterior, premissa da morte da amiga Alexia, agora perturbava a bela jovem, que inquieta esfregava uma mão na outra, em um estado de nervosismo. Ao terminar a ligação, o Diretor Carter levantou da mesa, e sorrindo, aproximou de anya, pacientemente, e disse:
- Sente minha filha, precisa ficar calma.
Anya sentou, e ficou olhando para o rosto daquele senhor, que agora, colocava água em um copo, e voltando toda sua atenção para a jovem disse:
- Precisa ficar calma.
- Imagino o que está sentindo nesse momento.
- Precisa de alguma coisa?
- Quem sabe alguns dias de folga?
- Não, por favor.
- Não quero ausentar do trabalho.
- Tudo bem, fique tranqüila.
- Precisa descansar um pouco.
- Por que não fica por aqui.
- Tenho uma reunião com o prefeito e comissário de policia...
- Não quero causar problemas.
- Fique a vontade, quando voltar conversaremos, combinado?
Anya fez apenas um movimento positivo com a cabeça, e o Diretor Carter, apanhou a arma na gaveta da mesa, e ao sair apagou a luz. Anya ficou sozinha, podia ouvir os ruídos ecoando pela sala, mas ao fechar os olhos, lembrava do rosto da amiga, aquele rosto pálido, havia sido privado de seu brilho e alegria, apanhando a bolsa, colocou dois comprimidos na mão, e colocou na boca, era um ansiolitico, para aliviar o desconforto da tensão. Foi suficiente para Anya adormecer profundamente. Do outro lado da cidade, durante a autopsia da amiga, o perito descobriu algumas lacerações, na base da nuca, sob os cabelos, formada por uma arcada dentária, que comparou com outros ataques de animais ocorridos mas não houve um resultado positivo, ou qualquer correlação com animais que sobrevivem perto de grandes metrópoles.
Anya acordou assombrada, a claridade do dia entrava pela janela, e ao olhar no relógio, era quase onze horas da manhã, levantou e foi ao banheiro, estava horrível, com olheiras e uma expressão cansada, todo corpo estava dolorido pela posição que adormecera na cadeira da sala do diretor. Após, recompor, e retocar a maquiagem foi para a enfermaria, onde apenas uma colega de trabalho estava ocupada atendendo um funcionário que havia sido agredido durante o café da manhã. Aquela instituição era a filial do “inferno”, alguns dos maiores criminosos estavam encarcerados na unidade, muitos em regime de prisão perpetua, e desses alguns permaneciam mais tempo isolados na ala de solitária pelo nível de agressividade.
Anya, entrou no consultório, e foi verificar a agenda, iria atender um criminoso conhecido como “Shark”, esse psicopata, havia assassinado sete pessoas antes de ser capturado, a particularidade dos crimes dele, consistia em comer carne humana, era considerado um canibal, aparentemente era um sujeito normal, franzino, com um olhar distante, por vezes ficava em silencio, e em muitas das consultas, não falava uma palavra, apenas ficava desenhando em uma folha em branco, figuras geométricas que interligavam entre si a partir de um determinado ponto.
Ao entrar na sala, “Shark” aparentemente tranqüilo, de cabeça baixa, rabiscava a folha de papel, e anya ao entrar, disse:
- Bom dia!
- Podemos conversar hoje?
- Queria saber como está?
“Shark” permanecia quieto, e ao sentar diante dele em uma cadeira, anya foi surpreendida por uma ação repentina e agressiva do criminoso, que mesmo algemado, pelas mãos e pés, avançou sobre a jovem, que assustou com a atitude dele, e debatia sob o avanço agressivo do criminoso, que foi contido pelos agentes penitenciários, que utilizando de ação não letal, reconduziu o criminoso de volta para a ala de contenção, onde permaneceria pelo tempo necessário. Anya foi para a enfermaria, embora soubesse do potencial agressivo dos criminosos, nunca teve medo, e nenhum havia agido daquela forma contra ela em nenhum momento, as ocorrências geralmente acontecia contra agentes penitenciários que mantinham um contato maior com os criminosos.
Durante o relatório, mencionou a agressão, atestando que o atentado foi repentino, e que o paciente estava sendo medicado periodicamente, com uma dosagem normal, mas que era preciso acompanhar a evolução psicológica do criminoso, por que poderia ser perigoso para outros funcionários, criminosos e até mesmo para si. Anya ficou durante todo dia, avaliando prontuários médicos, e tentava desvencilhar das lembranças do pesadelo, e da morte prematura da amiga. O trabalho serviria como uma terapia, mas antes que o dia terminasse, algo realmente aterrador iria acontecer. “Shark” estava contido na ala da solitária, que era composta de celas especiais, adaptadas para receber os criminosos, principalmente para que não pudesse cometer qualquer tipo de delito contra si. O criminoso, estava deitado de bruços, e foi surpreendido por uma sombra que surgiu repentinamente dentro da cela, começou a gritar e debater, atraindo a atenção dos outros criminosos e dos agentes penitenciários, que foram em seu socorro, quando a porta da cela foi aberta, o criminoso estava pendurado pelos pés, com uma profunda laceração da garganta até o abdômem, sangrava muito, os paramédicos foram acionados, e “Shark” foi encaminhado a enfermaria, onde não resistiu e faleceu. Quando Anya entrou na sala, após a constatação do óbito, as marcas no corpo do criminoso eram bem parecidas com as marcas encontradas no corpo da amiga, possuía marcas profundas por toda pele, principalmente nas costas, que seria impossível haver sido cometidas pelo criminosos pela posição, haja visto que não havia qualquer instrumento contundente que pudesse provocar aquele tipo de ferimento. Anya teve uma crise compulsiva de choro, saiu correndo da sala, e foi interceptada por uma advogada da instituição, que abraçando a jovem disse:
- o que houve?
- Shark, está morto...
- Morto, como isso aconteceu?
- Não estava isolado na solitária?
- Como foi isso, quem foi?
Anya começou a chorar, não conseguia responder, soluçava e tentava desvencilhar dos braços da advogada, que não conseguindo conter a jovem, ficou observando Anya afastar correndo, indo em direção ao estacionamento. Anya abriu a porta, a garoa fina e a neblina, causava uma sensação gélida, e com passos rápidos a jovem aproximou do veiculo, mas percebeu que havia alguém observando seus passos, em meio neblina, apenas vislumbrava a silhueta, iluminada por uma feixe de luz do holofote do estacionamento, e nervosa, indagou gritando:
- Quem está ai?
- Quem é você?
Poderia ser um funcionário, mas não obtendo resposta, e estando em uma área de segurança, aproximou do veiculo, e abriu a porta, mas ao voltar o olhar em direção ao vulto, descobriu que havia desaparecido, como nunca houvesse estado naquele lugar. Anya sentou a direção, e dirigiu de volta a cidade, indo falar com um amigo, que há muito não recorria, e que seria a única pessoa que poderia acolher a jovem naquela noite fria.
Anya estacionou o veiculo em frente ao endereço, era um velho prédio, composto de seis apartamentos, onde Edgar Craven residia desde a formatura na faculdade de psicologia, era um sujeito quieto e tranqüilo, após o falecimento da mãe, afastou dos amigos, mas mantinha contato esporádico com Anya, que considerava a irmã caçula, ao bater a porta, anya sentiu aquela presença, e olhando sobre o ombro, pensou haver visto a silhueta de alguém do outro lado da rua, e assustou quando a porta foi aberta, e sorrindo, Edgar, abraçando a jovem, disse:
- Nossa, quanto tempo?
- Entra logo, está muito frio.
- Mas não parece ser uma visita social, não é?
- Não, não é.
Anya entrou, e começou a chorar, foi amparada por Edgar, que tentou confortar a jovem, que começou a relatar as últimas vinte e quatro horas de sua vida, mencionando inclusive a morte do criminoso na instituição. Edgar ouviu tudo atentamente, e antes de poder fazer qualquer coisa, disse:
- por que não toma um banho...
- Podemos conversar depois.
- Quer jantar?
- Não.
- Vou apanhar uma toalha e roupas limpas...
- Tudo bem.
Edgar voltou com a toalha e uma camisa e bermuda, e sorrindo disse:
- Espero que ainda sirva em você...
- Vai servir...
- Sabe onde é o banheiro?
- No mesmo lugar?
- Sim! Mas não repare na bagunça.
- Vá tomar banho, e conversamos depois.
Sob a água morna, Anya ficou quieta, sentindo água percorrer o corpo, ficou tentando acalmar, mas nada conseguia amenizar aquela sensação estranha que sentia, e ao terminar, vestiu a roupa, e saiu do banheiro, o banho servira para aliviar o cansaço, e foi até a cozinha, onde imaginou que Edgar poderia estar preparando alguma coisa, haja visto que sempre foi um bom cozinheiro, e tudo estava calmo, foi quando Anya, chamou:
- Edgar!
A voz dela pareceu ecoar por toda casa, mas não houve resposta, e novamente, chamou gritando:
- Edgar? Edgar?
Anya conhecia muito bem a casa, e imaginou que Edgar pudesse estar em algum cômodo, e não ouviu os chamados dela, foi em direção ao quarto dele, e a porta estava entreaberta, novamente chamou:
- Edgar?
- Edgar, está ai dentro?
- Edgar, está ouvindo?
Anya abriu a porta lentamente, e ao pisar dentro do quarto, sentiu algo úmido no assoalho de madeira de lei, e olhando para o chão, estava coberto por sangue. Anya entrou e ao voltar sua atenção para cama, descobriu o corpo de Edgar, com os braços abertos, seminu, completamente retalhado, havia perfurações e lacerações por todo corpo. Anya colocou a mão sobre a boca, e começou a chorar, desfalecendo em seguida.
Anya não soube quanto tempo ficou desacordada, mas ao abrir os olhos, estava encostada em uma parede, e ao percorrer todo ambiente com os olhos, vislumbrou uma silhueta em meio a penumbra, estava imóvel, sentado de cócoras sobre a mesa, e olhava atentamente para Anya, um olhar frio, como pudesse conhecer cada pensamento da jovem, que indagou:
- Quem é você?
- Como entrou?
- Onde está Edgar?
Ao olhar em direção a cama, o corpo do amigo, estava estendido sobre a cama, na mesma posição, e ao voltar sua atenção para a silhueta, descobriu que estava sozinha novamente, e levantando apressadamente, apanhou o aparelho telefônico, e fez uma ligação, dizendo:
- Por favor, preciso de ajuda...
- Meu amigo, está morto...
- Calma moça, onde você está?
- Rua groove, n. 15.
- Estou enviando uma equipe para o local...
- Está sozinha?
- Não, tem mais alguém na casa...
- Então fica calma, e procure um lugar seguro.
- Você está ouvindo?
- Sim!
Anya suspirou profundamente, ainda sentindo a presença de algo sombrio, olhou ao redor, e respirou profundamente. Foram longos dez minutos até a chegada de duas equipes de policiais, que constataram a morte de Edgar Craven, fazendo uma busca minuciosa por todos os cômodos da casa, não puderam localizar aquilo que Anya relatara haver visto, nenhum sinal, marca ou rastro de que mais alguém estivesse escondido em algum lugar, e encaminharam Anya para uma instituição hospitalar, por que a jovem estava coberta pelo sangue do amigo, e de testemunha, no boletim de ocorrência, havia uma menção de que Anya era a principal suspeita por aquele assassinato. Anya estava no ambulatório médico, e ouvindo a conversa do médico com uma enfermeira, ficou horrorizada em saber que o policial que fazia segurança do apartamento dela havia sido assassinado, e teve seu corpo pendurado em uma igreja há alguns quarteirões do edifício. Havia sido um assassinato horrível, o rosto havia sido desfigurado, como por garras afiadas, ou por uma lâmina preparada para causar aquele tipo de lesão, ninguém havia ouvido ou visto nada, apenas o corpo foi encontrado, foi um assassinato cruel, que fazia menção a um psicopata, perigoso e sanguinário. Aquela noite ainda não havia terminado, mas o horror e violência, estava cada vez mais próximo de Anya, e isso iria mudar a vida daquela jovem para sempre, por que de uma forma estranha e sombria, tudo ocorria ao redor dela, em uma sucessão de eventos que iria fazer compreender que há uma ligação entre trevas e luz, em uma harmonia e sintonia perfeitas.
*Damien Lockheart / 2012