A TRAGÉDIA
O jovem estava ao ponto de cometer uma loucura. Já havia pensado em muitas saídas para aquela situação, mas nenhuma delas se mostrara adequada para solucionar seu problema. Pedira conselhos, ouvira sugestões e nada. Nada daquilo havia sido suficiente e ele estava com os nervos à flor da pele. Resolveu, assim, que poria um fim em tudo. Foi para o quarto e trancou a porta e a janela.
A escuridão no quarto deixava-o com um ar funesto e sombrio. Até o maior amante de filme de suspense ficaria tremendo de medo de estar ali. O jovem deitado em decúbito dorsal parecia nem estar vivo. O único sinal de vida era a respiração ofegante dele mesmo. Apesar disso não dava nem conta de si.
Altas horas da madrugada ouve-se um estampido. Teria vindo de fora ou teria sido dentro daquele quarto? O corpo continuava inerte. Os outros moradores da casa acordaram alvoroçados e fizeram o maior barulho enquanto corriam de um lado para o outro na tentativa de descobrir o que acontecera. Todos os moradores, menos um.
O silêncio volta a reinar na casa, pois todos voltaram para seus aposentos de dormir. De repente, um grito da velha tia solteirona: “Cadê Claudinho? Alguém viu Claudinho”. Os outros levantaram depressa e responderam unanimemente que não o tinham visto. Resolveram procurar no quarto.
O pai, antecipando-se aos demais, bateu com os nós dos dedos na porta do quarto e chamou. A própria voz ecoou pela casa mas nada de resposta vinda do interior do dormitório. Alguém deu a sugestão de abrir a porta para ver o que havia lá dentro. Quebrou a cara, pois a porta estava fechada à chave. Outro membro da família disse que ia arrombar aquela que estava impedindo a entrada de todos eles.
Alguém pediu para que todos se afastassem porque iria precisar de espaço para derrubar a porta, no que foi prontamente atendido. O rapaz alto e musculoso fez carreira e atirou o corpanzil contra a porta. O máximo que conseguiu foi um baque surdo e um grito de dor. Imediatamente foi levantado e levado para colocar uma bolsa de gelo no ombro que mostrava as marcas traumáticas da porrada.
Todos foram um a um se retirando para a cozinha a fim de pensar em outra forma de acessar àquele ambiente que parecia rescindir odores de dramaticidade. Reunidos em torno da mesa grande e sentados nas respectivas cadeiras ficavam a murmurar algumas novas propostas tão silenciosamente que pareciam não querer ser ouvidos pelas entidades que já imaginavam estar por trás daquilo tudo.
Passada mais de meia hora, e com o dia já perto de amanhecer, resolveram sair de casa e circular pela lateral que dava acesso a uma janela daquele quarto tão buscado e desejado. Quando chegaram todos, pé ante pé, próximos da dita janela, ouviram um estrondo aterrador.
Naquelas alturas, um deles, já recomposto do susto, perguntou se os outros estavam sentindo um cheiro parecido com enxofre misturado com feijão queimado. Sem exceção e com olhos cada vez mais esbugalhados, todos disseram que sim. As conjecturas foram das mais estapafúrdias. Enquanto alguém revelava achar ter sido um foguetão, outro dizia em voz alta que só podia ser uma experiência com a produção de explosivo químico. Esta última insinuação decorria do fato do nosso enclausurado de plantão ser estudante de química na universidade local.
Já passava das seis da matina quando aquele grupo apinhado por fora da janela, a procura de um ângulo que pelo menos desse para ver o que acontecia, foi novamente tomado de sobressalto. Desta feita, ocorreram explosões sucessivas, sempre exalando aquele odor insuportável. Alguns chegaram a passar mal, outros sentiram vontade de vomitar.
De repente, não mais que de repente, a janela do quarto abriu-se estrondosamente permitindo que todos vissem a figura esquálida e pálida do jovem enclausurado. Tinha imensas olheiras em torno dos olhos e, além de estar ofegante, suava muito. Em seguida, balbuciou algumas palavras e tombou. Em pouco tempo, o jovem levantou-se lentamente e juntou-se aos coadjuvantes para agradecer a salva de palmas que ressoava por todo teatro lotado.