O Velho - II
A cidade não é diferente do bar, mudam algumas coisas, mas no final continua o mesmo; todos se viciam psicologicamente por ela, ficam acorrentados em suas paredes mentais que fornecem algum tipo de alivio, sendo que ela sempre esteve de portões abertos para quem quiser sair, ou entrar. Essa segunda opção não é uma escolha sensata; tanto que na entrada da cidade há uma placa avisando sobre os riscos de viver aqui, com frases como: Qualidade de vida, Segurança e Bem Estar. Estas que se tornam chumbo nos pés; pelo menos pra mim foi, quando chegava à cidade ainda criança, dentro do carro do meu pai. Feliz, sorridente e sem entender nada sobre a verdade eu tive um infância agitada por brincadeiras e esportes na rua, em frente á minha casa.
Meu pai se chamava Izac C. Thompson, tinha se mudado pra la, pois fora promovido a comissário de polícia da cidade. Ele sempre foi uma pessoa firme, brava e justa; protegendo sua família em primeiro lugar. O trabalho na nova cidade era duradouro, ele passava horas e horas trabalhando fora de casa, investigando casos sigilosos como: Estupro seguido de morte, Estelionato, Múltiplos Homicídios por conexão e Formação de Quadrilha, seguido de Corrupção Ativa sobre o Quarto Poder. Os cursos fora do país e a prática compulsiva o levaram quase a perfeição. Ele conseguia descobrir culpados e suas tramas, chegando a prendê-los em flagrante, pois pilotava todas as ações futuras dos criminosos e suas pistas de culpa; pegando-os de surpresa e jogando-os direto na cadeia, sem julgamento ou com múltiplas provas.
Pois ele acreditava que o passeio pelo júri era sempre de ia e volta; sempre haveriam brechas nas leis para favorecer o criminoso e essas chances só aumentavam quando a sentença final tivesse que passar por um ser humano. Ele acreditava na lei e não no homem, portanto, armava uma maneira do criminoso não passar pela escolha do juiz e ir direto para cadeia. Isso tudo, vinha da Escola Clássica de Criminologia onde estudou.
“O criminoso é aquele que desvia da lei e consegue liberdade por esse desvio” Dizia ele aos amigos.
Seja por esse pensamento ou outro qualquer, meu pai foi morto e eu tive que viver com pais adotivos viciados em drogas e bebidas. E assim eu cresci, no meio de muita alegria, felicidade, atenção e amor; que construiu a pessoa que sou hoje, cheia de problemas mentais, sociais e dirigindo bêbada, atrás de um velho desconhecido por puro desejo incontrolável e inexplicável.
De relance eu olhei para dentro do portão, quando passava perto do cemitério, e lembrei que o Senhor Izac estava lá, ele foi enterrado como qualquer outra pessoa, só que eu tinha me esquecido disso. Olhei novamente e vi o velho entrando com as mãos no bolso e de cabeça baixa; então afundei o pé no freio, pulei do carro e fui ter com ele.