O Velho - I
Era um velho bem velho, mais velho que o chapéu que usava. Aparecia todo dia, às oito da manhã; pedia um uísque triplo, fumava charuto e depois ia embora, sem falar com ninguém e sem se despedir. Ele era estranho, de uma maneira perturbadora, sua extrema serenidade me incomodava um pouco, mas também enchia-me de vontade de conhecê-lo, acumulava-me a curiosidade em saber quem ele era e quais eram seus motivos pra tais ações diárias.
Não é de meu habito, ficar conversando com pessoas que não conheço, ainda mais dentro de um bar, mas eu ia desfazer com o velho; pois de alguma maneira, me identifiquei com ele, seja pela estranheza ou curiosidade, ou até mesmo os dois. Eu também sou um rato de bar; sozinho e extravagante, seguindo uma rotina de vícios sem motivos aparentes.
Na outra manhã, ele entrou às oito horas junto com cinco homens, estranhos para ele. Sentou-se ao balcão, ao meu lado, e pediu seu álcool. Ele estava na volta dos 70 anos, tinha cabelos e barba branca, olhos retraídos, dedos ossudos e magros; bebia lentamente, passando o uísque entre os dentes antes de engolir. Eu já não suportava o silêncio que circundava o espaço e, quando ele agarrou-se no charuto, quebrei-o, perguntando se ele queria fogo, já com um isqueiro ligado.
Ele ergueu os olhos laminados a mim, cortando minha respiração. Apesar da idade, ele tinha um olhar trespassante. O silêncio retornara de maneira sombria, mas isso não era motivo para me assustar, pelo contrário, só aumentava a minha felicidade em conhecer uma pessoa tão rara como ele que, foi confirmada com a aceitação do fogo. Já com o charuto aceso, ele agradece e diz que poucas pessoas dão atenção a um velho sozinho num bar. Ele tinha uma voz seca, grave e expansiva, contrapondo com sua solidão e equilibrando-a com o espaço vazio em sua volta. Para acompanhá-lo, também resolvi fumar um charuto que havia guardado no bolso do casaco.
Entre a fumaça que estava no ar e que saia pelas ventas, me arrisquei a puxar assunto com ele, elogiando o charuto que fumava e perguntando se foi comprado no mesmo local que o dele, falava sobre bebidas e a vida de um rato de bar, mas ele não falava nada; apenas ficava baforando, com o olhar longe dali e, uma hora depois, levantou-se, agradeceu o fogo que lhe dei e foi embora. Eu não podia deixá-lo ir, mas também não podia prendê-lo; então apenas me referi como um conhecido e segui fumando o charuto horrível.
A vontade de saber a verdade sobre ele me consumia me deixava agitado, me fazia beber compulsivamente, um copo depois do outro, sem sentir gosto, só deixando descer garganta dentro; queimando meu estômago. A vontade acabou mutando-se em desejo que o balcão do bar não conseguia mais apoiar e eu o abandonei; eu tinha que encontrar o velho para saciar minha doente vontade de conhecê-lo por completo, desvendar esse enigma que me circunda e a cada hora que passa se comprime e me fere.