O Mistério do Massacre no Colégio

Carnificina

Jorge Linhaça

Parecia um dia comum naquela pequena cidade do interior, nada parecia indicar qualquer anormalidade no o caminhando ritmo da vida de seus habitantes.

Crianças chegavam às escolas levadas pelo ônibus escolar, nos carros de seus pais, ou mesmo caminhando tranquilamente em meio às inevitáveis algazarras.

Em sua casa, Atidor olhava-se fixamente no espelho, fitava o fundo de seus olhos como que em busca de respostas para os seus pensamentos mais secretos.

Nas paredes dezenas de recortes de jornais, desenhos a lápis de personagens criados por ele mesmo , heróis vingadores e justiceiros, armados até os dentes.

Na tela de seu computador várias janelas abertas sobre o apocalipse e seus cavaleiros.

Espalhados sobre a cama, vários mangás de samurais defensores da honra.

Atidor vestiu o seu casaco, guardou nos bolsos e na mochila tudo aquilo de que iria necessitar naquele dia e saiu de casa balbuciando qualquer coisa para seus pais.

Algumas ruas adiante, Ranulfo acordou atrasado, tomou um banho rápido, penteou os cabelos com as pontas dos dedos , pegou sua bolsa embaixo da cama e saiu esbaforido para mais um dia de sua existência.

No outro lado da cidade, Simonete retocava sua maquiagem gótica enquanto ouvia suas músicas preferidas. Sobre a cadeira um livro de Augusto doa Anjos, já quase desmembrado pelo uso e persistentes leituras.

Na parede um pôster de Edgar Alan Poe com a figura do corvo destacada ao fundo.

Saiu de casa em direção à escola com sua mochila em forma de caveira.

Os três chegaram quase que ao mesmo tempo ao colégio, faltava pouco para o início das aulas e os alunos circulavam pelo pátio juntando-se aos seus grupos de amigos.

Ranulfo tomou o rumo da sala dos professores, Simonete dirigiu-se à cantina, enquanto Atidor permaneceu próximo à escada que dava acesso ás salas de aula do andar superior.

Repentinamente o som de tiros e gritos ecoou por todo o colégio, alunos, professores e funcionários caiam qual moscas, em poças de sangue que se formavam ao seu redor.

O caos estava formado, alunos corriam para todos os lados sem saber para onde fugir, os disparos vinham aparentemente de todas as direções, os corpos amontoavam-se no pátio, nos corredores, na escada.

Na entrada da sala dos professores Ranulfo agonizava, tentando arrastar-se para um lugar qualquer... Um surdo estampido e seu cérebro espalhou-se pela parede.

Simonete encolhia-se atrás da lixeira colocada ao lado da cantina, cobrindo os ouvidos e o terror a lhe gelar a alma. O improvisado abrigo, no entanto, foi insuficiente para conter a fúria assassina que se desencadeava naquele momento. Sua mochila em forma de caveira tingia-se agora de um vermelho escuro e gosmento, caída ao seu lado.

Atidor sucumbiu entre o primeiro e o segundo lance das escadas.

Quando a polícia enfim chegou só pode contar os corpos espalhados pelo colégio.

48 almas haviam deixado o mundo dos vivos e outras 13 foram levadas ao hospital com ferimentos sérios.

Os autores dos disparos jamais foram identificados, considera-se serem mais de um por conta da diversidade do calibre dos projéteis recuperados.

Nenhum dos sobreviventes soube dizer de onde partiram os tiros, pareciam vir de todas as direções sem que seus autores fossem vistos.

A pequena cidade nunca mais foi a mesma e o colégio foi aos poucos sendo abandonado apesar das reformas . Fechou por falta de alunos.

Salvador, 22/12/2012...um dia depois que o mundo não acabou.