O Jardim
Era um belo jardim que ficava em frente à praça, entre a igreja matriz e a rodoviária, daquela pequena cidade.
Moradores e forasteiros não cansavam de exaltar a beleza daquele jardim. Era um encantamento de “perder a cabeça”. As flores eram de um vermelho intenso. Já os brotos que surgiam nas árvores, eram de uma tonalidade mais escura das demais plantas. A beleza era tanta que o enorme tapume que cercava a metade do terreno não chamava mais atenção.
Inicialmente todos estranhavam que o jardim seguia uma espécie de rodízio, como fazem alguns criadores de gado. Alternam os campos de pastagem para oferecer um pasto sempre novo aos animais.
A lógica da discreta e solitária proprietária parecia seguir este sistema, pois assim que o tapume era retirado, a outra metade do jardim podia ser apreciada em toda sua exuberância. Era uma espécie de rodízio que se repetia há muitos anos. Ninguém lembrava há quanto tempo aquele rodízio acontecia, assim como também ninguém lembrava quando o jardim passou a ser a principal atração da cidade.
Várias gerações namoraram na praça e ficavam encantados, principalmente com as flores. As fotos de batizado e casamento das famílias sempre tinham como pano de fundo a beleza daquele jardim. Alguns dos moradores mais antigos dizem que um determinado vigário, certa vez entrou em confronto com a proprietária. Pois, o local atraia mais visitantes que a igreja matriz. Mas, a confrontação não deu em nada, porque o padre acabou perdendo a causa e foi substituído.
A proprietária era uma discreta viúva que pouco era vista, mas chamava a atenção pela beleza de seus traços finos e pelos seus cabelos longos e negros. Era uma mulher discreta e admirada pela beleza de seu jardim. Os poucos e breves comentários que surgiam sobre ela, referiam-se ao seu verdadeiro nome e sua idade. Muitos juravam que ela era muito idosa, embora aparentasse uma mulher de uns cinqüenta e poucos anos.
Eu conheci a cidade através de um amigo, que um dia desses organizou um seminário por lá e me convidou para colaborar. Felipe, além de organizador, também era palestrante.
Havia chegado à noite anterior. Jantei na companhia da família do amigo. E no dia seguinte, participei em algumas atividades profissionais.
Como as atividades de Felipe estenderam-se noite a dentro e reiniciariam logo cedo pela manhã, resolvi agradecer a oportunidade e a acolhida e aguardar o ônibus no frescor da madrugada, sentado naquele enorme banco da rodoviária.
No silêncio da noite escura, fiquei pensando na beleza daquele jardim encantador e também muito curioso em saber a técnica empregada no cultivo daquele lugar. Segredos!..... cada qual em sua atividade.
Enquanto vagava nestes pensamentos, o silêncio foi quebrado por um som estranho, pareciam bramidos que se repetiam com certa freqüência. Ao observar, percebi que vinham do terreno cercado pelos altos tapumes. Os bramidos eram cada vez mais freqüentes e variados, aguçando ainda mais a minha curiosidade. Como meu ônibus ainda demoraria uns quinze minutos, reuni minha coragem e fui investigar os estranhos barulhos. Ao me aproximar do cercado, encontrei uma tábua mal pregada e enfiei a cabeça pela pequena passagem. Minha primeira visão foi de uma mulher, que embora estivesse de costas, identifiquei-a como sendo a dona do jardim.
Ela carregava um balde e um enorme saco. De repente ela parou. Fiquei assustado e resolvi me esconder, pois, não queria ser visto bisbilhotando. Quando olhei novamente, vi que deixava cair o saco e com o conteúdo do balde, regava as flores menores. Percebi que conforme a rega das flores avançava, os bramidos diminuíam. Imaginei que poderiam ser os pequenos animais e insetos que estivessem por ali procurado refúgio nas arvores maiores, porque era de lá que se ouvia os urros mais intensos. Eram um tanto assustadores. Para ser sincero, eram muito assustadores .
A mulher dirigia-se apressadamente para lá carregando com dificuldade o enorme saco, quando repentinamente uma explosão, um estrondo imenso no céu. Fiquei horrorizado. Meu coração quase saltou pela boca. Era uma tempestade que estava se anunciando. E, numa fração de segundo na claridade de um relâmpago maior, pensei ter visto entre as árvores animais famintos em seus troncos e, novamente estremeci com o horror da cena. Quando desviei o olhar, vi a mulher retirar do saco uma cabeça humana e joga-la na direção das árvores. Apavorado, percebi que era o alimento daquelas árvores e imediatamente recoloquei a tábua do tapume para não ser visto.
Não podia acreditar no que presenciara. Aguardei novamente o clarão do relâmpago, retirei novamente a tábua, e vi a estranha mulher alimentando outra árvore. Agora com a minha cabeça
Era um belo jardim que ficava em frente à praça, entre a igreja matriz e a rodoviária, daquela pequena cidade.
Moradores e forasteiros não cansavam de exaltar a beleza daquele jardim. Era um encantamento de “perder a cabeça”. As flores eram de um vermelho intenso. Já os brotos que surgiam nas árvores, eram de uma tonalidade mais escura das demais plantas. A beleza era tanta que o enorme tapume que cercava a metade do terreno não chamava mais atenção.
Inicialmente todos estranhavam que o jardim seguia uma espécie de rodízio, como fazem alguns criadores de gado. Alternam os campos de pastagem para oferecer um pasto sempre novo aos animais.
A lógica da discreta e solitária proprietária parecia seguir este sistema, pois assim que o tapume era retirado, a outra metade do jardim podia ser apreciada em toda sua exuberância. Era uma espécie de rodízio que se repetia há muitos anos. Ninguém lembrava há quanto tempo aquele rodízio acontecia, assim como também ninguém lembrava quando o jardim passou a ser a principal atração da cidade.
Várias gerações namoraram na praça e ficavam encantados, principalmente com as flores. As fotos de batizado e casamento das famílias sempre tinham como pano de fundo a beleza daquele jardim. Alguns dos moradores mais antigos dizem que um determinado vigário, certa vez entrou em confronto com a proprietária. Pois, o local atraia mais visitantes que a igreja matriz. Mas, a confrontação não deu em nada, porque o padre acabou perdendo a causa e foi substituído.
A proprietária era uma discreta viúva que pouco era vista, mas chamava a atenção pela beleza de seus traços finos e pelos seus cabelos longos e negros. Era uma mulher discreta e admirada pela beleza de seu jardim. Os poucos e breves comentários que surgiam sobre ela, referiam-se ao seu verdadeiro nome e sua idade. Muitos juravam que ela era muito idosa, embora aparentasse uma mulher de uns cinqüenta e poucos anos.
Eu conheci a cidade através de um amigo, que um dia desses organizou um seminário por lá e me convidou para colaborar. Felipe, além de organizador, também era palestrante.
Havia chegado à noite anterior. Jantei na companhia da família do amigo. E no dia seguinte, participei em algumas atividades profissionais.
Como as atividades de Felipe estenderam-se noite a dentro e reiniciariam logo cedo pela manhã, resolvi agradecer a oportunidade e a acolhida e aguardar o ônibus no frescor da madrugada, sentado naquele enorme banco da rodoviária.
No silêncio da noite escura, fiquei pensando na beleza daquele jardim encantador e também muito curioso em saber a técnica empregada no cultivo daquele lugar. Segredos!..... cada qual em sua atividade.
Enquanto vagava nestes pensamentos, o silêncio foi quebrado por um som estranho, pareciam bramidos que se repetiam com certa freqüência. Ao observar, percebi que vinham do terreno cercado pelos altos tapumes. Os bramidos eram cada vez mais freqüentes e variados, aguçando ainda mais a minha curiosidade. Como meu ônibus ainda demoraria uns quinze minutos, reuni minha coragem e fui investigar os estranhos barulhos. Ao me aproximar do cercado, encontrei uma tábua mal pregada e enfiei a cabeça pela pequena passagem. Minha primeira visão foi de uma mulher, que embora estivesse de costas, identifiquei-a como sendo a dona do jardim.
Ela carregava um balde e um enorme saco. De repente ela parou. Fiquei assustado e resolvi me esconder, pois, não queria ser visto bisbilhotando. Quando olhei novamente, vi que deixava cair o saco e com o conteúdo do balde, regava as flores menores. Percebi que conforme a rega das flores avançava, os bramidos diminuíam. Imaginei que poderiam ser os pequenos animais e insetos que estivessem por ali procurado refúgio nas arvores maiores, porque era de lá que se ouvia os urros mais intensos. Eram um tanto assustadores. Para ser sincero, eram muito assustadores .
A mulher dirigia-se apressadamente para lá carregando com dificuldade o enorme saco, quando repentinamente uma explosão, um estrondo imenso no céu. Fiquei horrorizado. Meu coração quase saltou pela boca. Era uma tempestade que estava se anunciando. E, numa fração de segundo na claridade de um relâmpago maior, pensei ter visto entre as árvores animais famintos em seus troncos e, novamente estremeci com o horror da cena. Quando desviei o olhar, vi a mulher retirar do saco uma cabeça humana e joga-la na direção das árvores. Apavorado, percebi que era o alimento daquelas árvores e imediatamente recoloquei a tábua do tapume para não ser visto.
Não podia acreditar no que presenciara. Aguardei novamente o clarão do relâmpago, retirei novamente a tábua, e vi a estranha mulher alimentando outra árvore. Agora com a minha cabeça