* SHAW DARKHOLME: NO CORAÇÃO DA ESCURIDÃO

Há alguns dias, venho no encalço daquela criatura, minha algoz agora, é uma presa, com quem pretendo acertar as contas. Desde a morte de minha namorada assassinada de forma brutal, havia perdido todo interesse pela vida, mas era fraco demais para cometer suicídio, assim não posso dizer, quanto de minhas preces haviam sido atendidas, quando fui encontrado por aquela criatura, não posso afirmar quanto atração pela minha dor e sofrimento ou pelo meu sangue, apenas posso dizer, que não fui poupada naquela noite, de uma maldição, um tormento eterno, de viver e conviver com as lembranças do que havia sido antes de ser transformado em uma criatura notívaga, assassina, e mortífera, mas agora, é hora de um novo encontro, embora eu seja aquele que tenha sido transformado e amaldiçoado, eu não sou mais o mesmo, e agora é hora do acerto de contas.

O cheiro dela havia ficado impregnado em meus sentidos desde nosso encontro, não foi escolha ou destino, fui amaldiçoado, sentenciado a uma vida perpetua de lembranças de dor e sofrimento. A pele morena, possuía um odor singular, que rastreei durante meses, e agora próximo de meu intento, mantinha minha presença oculta de seus sentidos, a silhueta voluptuosa dela, atraia o olhar por onde seguia, uma armadilha para os pretensos caçadores, que infelizmente, de uma forma mortal descobria que aquela mulher, era uma assassina, fria e mortal, uma criatura perigosa, que agora vigiava de perto, sem que pudesse imaginar quanto ódio sentia por não ter tido escolha, e para que não escapasse novamente, porque tínhamos assuntos pendentes para resolver.

Naquela noite, fui sacrificado, não havia sido morto, mas minha alma havia sido mutilada para sempre, com a dor e sofrimento perpetuo, de ser uma criatura solitária, temida e sanguinária. Para alguns, éramos lendas urbanas, contos de terror de mentes doentias, mas descobri que algumas lendas podem ser verdadeiras, e que contos de terror podem ser reais, assim como fatos cotidianos em nossas vidas. Após minha transmutação, a primeira ação, foi uma vingança, sanguinária e mortal, e depois de tanto vagar, por acaso ou destino, reencontrei aquela criatura, que parecia alheia a minha presença, e que iria descobrir, que havia aprendido muito, e não era apenas um assassino, era mortal e perigoso, ao ponto de ser temido mesmo por outras criaturas, quando meu nome era pronunciado, alguns fugiam amedrontados, outros quando descrentes, acabavam por descobrir que aquela criatura havia criado, um força sobrenatural, implacável e mortífera. Um poder verdadeiro, aliado as sombras e escuridão de minha alma, alma corrompida e tocada pela mais intima e profunda escuridão, aquela que mesmo um farol não pode iluminar, e de onde não há saída, ou do qual nunca podemos fugir, porque ao fechar os olhos, sempre podemos sentir sua força e atração.

Pude sentir o odor da pele dela em meio a multidão há alguns dias, e segui por algumas ruas até aquele hotel, onde estava hospedada, estava acompanhada por uma jovem, parecia ser uma dama de companhia, um ser humano, dominado pela empatia, uma das diversas virtudes que agregamos ao nosso lado sombrio, essa jovem certamente era usada para manter discrição durante o dia das atividades notívagas e noturnas dela, e embora, seja uma vantagem, é estritamente perigoso, por que criar laços afetivos, diminui nossa capacidade de percepção, e essa seria minha vantagem em relação aquela criatura. Eu iria ficar esperando, nas sombras, aguardando pelo momento propicio, de acertar minhas contas, mas não queria causar mal a ninguém, apenas aquela criatura merecia um destino pior do que havia sido proposto para mim, sem que pudesse ter tido chance de saber e compreender aquilo que realmente aguardava por mim do outro lado, do lado mais escuro e sombrio da noite.

Naquela noite, havia preparado para o encontro, ou melhor nosso reencontro, teria oportunidade mais propicia do que uma noite quente, de lua cheia, em que os hormônios fervilham sob a pele, atraindo caça de caçador, vitimas e algoz, e ao ver aquela criatura adentrar um restaurante, imaginei ser a oportunidade de fazer aquilo que pretendia, era hora de retribuir a visita dela, mas agora, seria do meu jeito. Furtivamente sentei contra o vento no restaurante, não queria alertar os sentidos dela, seria uma desvantagem principalmente porque ficaria preparada, e queria surpreender, proporcionar aquela criatura a oportunidade de redenção, de salvação pelos crimes cometidos ao longo de sua existência sombria.

Pude ver o súbito interesse dela por um jovem casal, sentado em uma mesa distante, bem próximo da porta, pude ouvir o coração dela descompassar, o que significava que havia descoberto seus próximos alvos, vitimas aleatórias, que iriam desaparecer sem deixar vestígios, como houvesse sido tragadas pela noite mais sombria e escura.

Fiquei apenas observando, não iria precipitar, e assim que pudesse iria intervir, mas por enquanto apenas avaliava a situação. Aproveitando para preparar minha investida, para poder saborear minha vingança de uma forma, que minha algoz, agora descobrisse que seria vitima daquilo que havia sido criado, e foi transmutado em um instrumento de vingança e violência, de medo e horror que caminhava entre os vivos, mas não mais pertencia ao mundo deles, sentenciado a viver sozinho em um universo macabro e sanguinário, onde dor e prazer caminhava lado a lado, e por vezes, apenas em algumas vezes, em rota de colisão.

* Damien Lockheart - 2013

DAMIEN DARKHOLME
Enviado por DAMIEN DARKHOLME em 21/12/2012
Código do texto: T4046191
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