Temores
Em um ônibus azul e vazio -olho a paisagem pela janela- e percebo que conheço o caminho que estamos seguindo.
Vejo casas parecidas com as que conheço que me levavam a um lugar aconchegante e mágico, embora agora a angústia e a tristeza tomam conta enquanto reconheço para onde estou indo: Para casa de minha falecida avó.
Nesse instante lembro-me quando brincava debaixo da amoreira, com um sorriso alegre com as mãos roxas e doces.Com um contentamento nos olhos infantis de uma criança sem preocupação com a morte iminente.
Percebo meu coração acelerar e lágrimas a cair. Luto para fechar os olhos para não ver a casa em que era tão feliz -com minha querida vó- mas não consigo... a força de rever é mais forte.
Quando o ônibus chega em frente a casa, percebo que o cenário -antes vivo e concreto- se contorce até desmoronar. As arvorés -com suas folhas de um verde vivo- afundam-se no chão de folhas mortas presentes em um outono rigoroso, as casas caem dando lugar a casas sombrias e ruinas de castelos estranhos.
Olho assustada tudo a minha volta e vou em direção ao cobrador, mas antes percebo que não há motorista e penso: -Estavamos sendo guiados por um fantasma?
Assustada pergunto ao cobrador para qual lugar iríamos e onde estavámos...
Ele com um sorriso assustador responde:
- Para o inferno, querida. Para você rever todo mundo mais uma vez. Sei que é isso que seu coração quer, foi ele que nos guiou até aqui. Veja a voz da pessoa que pensava a pouco, ela estará lá esperando-a com os braços para confortá-lhe.
Notando minha face pálida ele diz:
- O que há com você, pequena?
Não vai me dizer que ainda acreditava em anjinhos e em algo celestial?
Não subestime a vida, minha cara... ela gosta de ser irônica.
Nesse instante sinto minha mão formigar, um calor escaldante em meus olhos e desmaio.
Ao abrir os olhos percebo que estou no mesmo ônibus com algumas pessoas sentadas, um cobrador e um motorista.
Havia adormecido e tudo estava normal agora.
O ônibus para, olho para a janela - percebo crianças brincando- e reflito sobre o que nos aguarda do outro lado da " vida ".