Morra, Demônio! (English Version Available)

Ele o odiava. Na verdade, eles se odiavam. Estava certo? Aquilo não era considerado pecado? Não importa. Não havia qualquer sentimento bom envolvido no relacionamento entre os dois. Viviam sob o mesmo teto, sempre se encontrando no meio da sala de estar ou na cozinha, eles precisavam suportar um ao outro. Eles eram tão diferentes. Ter que ver aqueles rostos com o qual nenhum deles poderia lidar era horrível.

Certa noite, após outra briga diária, o garoto se trancou no quarto, enraivecido. Não suportava mais aquilo. Pensava em diversos meios para acabar aquela tortura e mandar aquele ser de volta para as sombras, lugar de onde ele nunca deveria ter saído. A voz daquele monstro, seu rosto, sua forma de andar, suas roupas, tudo irritava o pobre garoto. Principalmente, saber que ainda respiravam o mesmo ar e que habitavam o mesmo mundo. Não! Não havia lugar para os dois, só um poderia viver.

O tempo passava. A madrugada chegou rápido. E o garoto ainda estava acordado. Não conseguia dormir, não com aquele bicho respirando no quarto ao lado. Ele desceu da cama, ficou de pé, abriu a porta do quarto e direcionou-se ao aconchego do monstro. Ao abrir a porta, lá estava ele. Dormindo tão confortavelmente como o demônio o faz no inferno. A raiva tomou conta do garoto e, junto com ela, surgiu uma ideia, ao mesmo tempo tão fria e tão excitante.

Caminhou lentamente até a cozinha da casa. Não podia fazer barulho. Acendeu o fogão, pegou uma panela cheia de água e colocou para esquentar. Esperou ansiosamente.

-Tempo, maldito tempo, fizestes com que eu esperasse bastante e eu pensei que você iria dar um jeito nisso, mas não o fizestes. Não se preocupe, isso acaba agora. –O menino suspirou olhando para o teto.

Apanhou um pano que estava no chão, apagou o fogo e pegou a panela com cuidado. Caminhava lentamente, muito lentamente, tentando evitar até mesmo respirar, para ter certeza de que nada pudesse acordar o demônio do seu sono profundo. Empurrou a porta usando um dos seus pés, adentrou, encarou, pela última vez, aquele rosto que nunca mais seria o mesmo, aquele demônio que iria encontrar os seus amigos no inferno.

De repente, em um movimento rápido, derramou a água quente no ouvido do ser adormecido, espalhando-a por toda a cabeça. O demônio acordou. Deu um grito fraco e rápido, calando-se com a quantidade de água que entrara em sua boca. O garoto sorriu alto e sentiu um alívio, um alívio fantástico e confortável, mesmo após ter matado o seu próprio pai.

Versão em Inglês: http://liandersonferreira.blogspot.com.br/2014/10/die-you-devil.html