Pela Janela

Era mais uma noite como outra qualquer, como sempre, eu olhava pela janela. Antes que pensem que sou fofoqueira já me defendo. Sou apenas curiosa. Bom, voltando a descrever o ocorrido daquela noite estranha. Lá estava na janela, devia ser umas 22h, mas parecia que já era madrugada alta.

Todos os dias escolho um apartamento... para... como gosto de dizer: _Conhecer meus vizinhos.

Foi quando algo me chamou a atenção, a sala do apartamento em frente estava a meia luz, percebi duas pessoas conversando. Em um primeiro momento achei que era normal, mas depois percebi que o casal parecia nervoso. O homem apontava para a mulher como quem a acusava, ela por sua vez colocava as mãos ao rosto, como se segurasse suas próprias lágrimas. A cena que estava assistindo como espectadora, era angustiante, mas ao mesmo tempo prendia minha atenção como um filme de suspense. Eu tinha as mãos geladas e o coração palpitante. Enquanto ele andava de um lado para outro na sala como um lobo querendo fugir de uma jaula. Ela somente segurava o rosto com suas mão.

Fiz um esforço muito grande para tentar escutar algo, mas os carros da rua não me deixaram. Era como assistir a um filme sem som, eu só imaginava as palavras de ofensas que eram ditas. Será que ela o havia traído, ou o havia roubado, ou até mesmo o desprezava?Todas essas hipóteses passavam pela minha cabeça. Ele se retirou da sala, a deixando somente sentada com as mãos segurando o rosto. Assim permaneceu por alguns minutos, até que ele entrou com uma faca e sem que ela levantasse os olhos ele começou a esfaqueá-la. Eu, em um momento de susto, sabendo que tudo aquilo que meus olhos viam era demasiadamente real, gritei. Mal conseguia acreditar naquilo que eu via. A mulher tirou as mãos do rosto e tocou delicadamente seu algoz, ele após depositar toda sua raiva naqueles golpes, como por uma mágica, ao ser tocado pela suas mãos, a abraçou e chorou. Eu também chorava, não sabia se era de horror, ou de pena dela, ou até mesmo pena dele. Eu apenas chorei. E durante horas fiquei olhando aquele homem segurando a mulher já sem vida em seus braços. Algumas horas depois a policia arrombou a porta e a tirou dele, como quem tira de uma mãe um bebê. Dias mais tarde depois de uma conversa com o porteiro de meu prédio descobri que ela não o havia traído, nem o roubado, muito menos o havia desprezado, ela simplesmente entrou no apartamento errado.